domingo, 20 de março de 2022

Sobre a reputação

O celebrado professor Clóvis de Barros Filho escreveu que "a reputação é um eu fora do meu alcance." E, certamente, muitos concordarão com essa assertiva, visto que as pessoas sempre vêem os outros de forma particular, seguindo a sua percepção ou acompanhando comentários de terceiros.

Ao contrário do que se pensa, não se constroi a própria reputação. A não ser com relação a alguma característica específica, não no aspecto geral. Por vezes, se faz uma "leitura" de pessoas pelos olhos da desconfiança, - envolto em infundado preconceito, por espelho de si próprio ou mesmo por desenho produzido por desafetos dissimulados que formam uma narrativa bem urdida, deturpando elementos inconcludentes com elementos ardilosos, tornando-os definitivos. 

E como qualquer quimera dita por muitas bocas é tida como real, o julgamento está consumado pelos "juízes" que serão assim, também, julgados.

A escritora Sarah Maclean escreveu: "Minha reputação está arruinada porque eu sou uma mulher, e nós, mulheres, não nos pertencemos. Nós pertencemos ao mundo, desde o nosso corpo até a nossa alma e nossa mente.

Alberto Magalhães Carneiro 

segunda-feira, 4 de março de 2019

O homem fabricado

As ciências são decorrentes da sabedoria humana, para o bem da própria humanidade. Elas esclarecem a realidade da terra e de tudo o que nela habita. Mas, a ciência não pode definir Deus (ou decidir se Ele existe ou não). Deus também não pode ser alcançado pela filosofia, lógica ou razão humana por ser Ele além da nossa realidade. O pensamento humano como critério da verdade universal é algo inconcebível até mesmo no pensador mais evoluído, que a define por meio de certezas humanas. O sobrenatural não pode ser verificado por meio desse instrumento. Também, o pensamento humano não pode estabelecer a Verdade imutável universal, que lhe é superior e lhe antecede.

Segundo as propostas apresentadas a Verdade já foi Deus, tornou-se a razão humana - que é resultado da evolução do intelecto,  depois o próprio homem, agora já não há verdade nenhuma ou é o conjunto de todas as nossas verdades idealizadas. Isto porque a verdade real nossa que se impõe é a morte. E a ela repudiamos. Por isso se vive tanto a ficção, a ilusão, o imaginário, a fantasia,  o utópico, o virtual, a fábula, a quimera, o fantástico, o artificial, o aparente, o enganoso, o alegórico, a metáfora... em detrimento da realidade que nos faz sofrer. Assim também, em autodefesa, o homem tenta desconfigurar Deus, céu e inferno, a outra dimensão e se limita a um corpo que deixará de existir para sempre, em sua concepção. Isso para que não viva na sombra do perigo do porvir, na continuação da vida em virtude do sentimento de culpa que o invade.

No livre arbítrio do pensamento estão a sua glória e a sua tragédia, sua sublimação ou seu fracasso. O homem procura sempre usar a sua liberdade, isto é, a autonomia  lhe concedida no pensamento para insistir na independência do seu criador, numa busca por alcançar a individualidade plena e a verdade a partir de si. Foge da ideia de morte e do criador dela. E constrói, desse modo, caminhos, pela razão e pela lógica, para anular algo que não se concebe pelo pensamento: a fé, gravando-a como mera superstição adquirida dos primeiros nossos ancestrais (embora realmente seja a fé, muitas da vezes, contaminada por superstições e crendices).

Porém, a fé pura, genuína não está sujeita ao seu julgamento, por que o seu atributo principal - mas restrito, o pensamento não pode explicá-la, embora todo entendimento e aceitação de algo seja um ato de fé. Sem esta não existe certezas. A Verdade antecede a fé, pois não poderia ser constituída por ela. A verdade é a fonte que a gera. Antes, a fé a reconhece como soberana. As ciências e a filosofia decifram os enigmas, mas só a fé decifra o enigma central do qual resultam todos os outros. A fé é o encontro do espírito humano com a Verdade suprema.


A Eternidade é anterior, maior e mais poderosa que a vida humana, como também a Onisciência que o pensamento humano e a Verdade que as suas verdades. A Vida é sombra da eternidade, o pensamento é sombra da Onisciência, assim como as verdades o são da Verdade universal e transcendente. O homem pode usar essa sua liberdade para retornar à sua origem, à essência de sua existência, ou negá-la e se aventurar por outros territórios onde tente ser supremo, nessa sua sede de preenchimento interior que a falta de Deus lhe proporciona.

Deus está acima da matéria/tempo/espaço e da nossa capacidade cognitiva/inteligência/lógica. Deus não pode ser definido pelo curto alcance da compreensão mental, mas tão somente pela fé, fenômeno que os "intelectuais" desdenham, mas que tem características evidentes por meio da intuição original, observação natural, das experiências espirituais e das revelações  dos escritos sacros. Elementos esses que consubstanciam a profissão de fé, tanto quanto as experiências empíricas alicerçam as certezas dos cientistas e a reflexão embasam as dos filósofos. Os valores da fé são chamados pelos céticos de superstições, no entanto são só a verdade real, indelével, se impondo no universo material. Não me refiro à fé que é herdada, religiosa, mas à que é decorrente de epifania (compreensão da essência das coisas, inspiração), espécie de insight completo e profundo.

O homem, em sentido geral, perdeu a sua identidade pessoal - anteriormente construída no seu ambiente familiar, religioso e local, com ênfase na pessoa e passou a ser condicionado pela cultura transnacional notadamente da europeia e norte americana, seguindo os ditames do mercado e da publicidade antitradicionalista, adotando aparência e mentalidade uniformizadas, abolindo narrativas tradicionais importantes, a exemplo da que legitimava a autoridade dos pais e mestres e praticamente inviabilizando o código moral, essencial instrumento social.  Passou a absorver uma identidade social, isto é uma construção de fora para dentro. Artificial e materialista em busca somente da "felicidade" que o prazer - nas coisas e no sexo, lhe concede. Aderindo a tudo que, social e culturalmente, se resume a uma visão mercantilista e superficial do mundo. Reconhecendo-se ao final como algo sem um sentido sublime e que apenas existe muito temporariamente no tempo. Fatalidade da pobre e pretensiosa sabedoria humana.

Alberto Magalhães Carneiro 

sábado, 19 de janeiro de 2019

O homem em si mesmo


COMO JÁ FOI DITO O HOMEM SEMPRE SE COMPORTOU COMO SE VIVESSE NUM FRACASSO EXISTENCIAL, UM LOGRO EM SUA EXPECTATIVA PERANTE O REAL SENTIDO DA VIDA, OU SEJA, SE QUESTIONANDO INVARIAVELMENTE O PORQUÊ DE ESTAR AQUI, A DUBIEDADE DAS ESCOLHAS E A RAZÃO DA MORTE E SUAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS.

DESDE QUE SE PERCEBEU VIVO MEDITA POR QUE O NÃO PERMANECER VIVO, E ACHA INJUSTO OU INCOMPREENSÍVEL PERDER A VIDA QUE ANIMA O CORPO QUE LHE PERTENCE. SEM MESMO SABER A RAZÃO DE ACHAR QUE A VIDA – COM TODAS AS SUAS IMPLICAÇÕES DESFAVORÁVEIS - É MELHOR QUE A FASE DA NÃO VIDA.

TANTO QUANTO A ESTRADA PÓS-MORTE É DESCONHECIDA PARA OS QUE AINDA NÃO A TRILHARAM O CAMINHO QUE SE TEM PARA PERCORRER AQUI TAMBÉM É TOTALMENTE INCERTO, EM MEIO A PROVÁVEIS EVENTOS INFELIZES - FRUSTRAÇÕES, PERDAS, SOFRIMENTOS - FENÔMENOS REAIS OU IMAGINÁRIOS, FÍSICOS OU PSICOLÓGICOS.

O HOMEM ASSIM, INCONSCIENTEMENTE, SE PRENDE À SUA EXISTÊNCIA DE FORMA ACENTUADA. COMO O NAVIO À DERIVA SE PRENDE AO FUNDO DO MAR RASO PELA ÂNCORA. MAS ISSO ELE NÃO CONSEGUE QUANDO A SUA VIDA (MENTAL) ESTÁ EM “ÁGUAS PROFUNDAS”. ENTÃO ELE SE SENTE À DERIVA AO REDOR DE SI E DENTRO DE SI MESMO.

ELE SE ENTREGA AO SEU CORPO COMO O SEU REFÚGIO PRIMEIRO, O TORNANDO O CENTRO DO SEU EXISTIR E DO UNIVERSO VISUALIZADO, COMO SE NÃO FOSSE APENAS MAIS UM PEQUENINO SER ONDE HABITA A VIDA REINANTE NAS ÁRVORES E PLANTAS, PÁSSAROS, RÉPTEIS E ANFÍBIOS, E EM BILHÕES DE SERES QUE HABITARAM E HABITAM A TERRA.

ALGUNS CHEGAM A AFIRMAR QUE NÃO FORAM CRIADOS, ISTO É, NÃO FORAM FORMADOS POR UMA INTELIGÊNCIA SUPERIOR, MAS AO ACASO DA EVOLUÇÃO, QUE NOS DIVIDIU EM TERRA E ÁGUA - SALGADA E DOCE - E EM FAUNA E FLORA. SURGINDO ASSIM AS ESPÉCIES COMUNS E A INTELIGENTE, O HOMEM, QUE GOVERNA O PLANETA.

O HOMEM SEMPRE VIVEU NA SOMBRA DO MEDO. SEJA DOS GRANDES ANIMAIS QUE O DEVORAVAM, DAS SECAS E ENCHENTES, DAS DOENÇAS, DAS LUTAS POR DISPUTAS DE POSSE OU SOBREVIVÊNCIA, DO MEDO DA MORTE E DOS PERSONAGENS MÍSTICOS QUE ERAM CRIADOS PARA EXPLICAR CERTOS FENÔMENOS INCOMPREENSÍVEIS.

A IDEIA DE DEUS SEMPRE EXISTIU, EMBORA COMO SENDO DE FORMA E ATUAÇÃO VARIADOS. PARA OS GRUPOS MÍSTICOS A FIGURA DE DEUS É A DE UM SER QUE, INVOCADO EM RITUAIS, ATUA POR MEIO DE DIVERSOS SERES INFERIORES A SI E PARA OUTROS É UM DEUS SOBERANO QUE GOVERNA ACIMA DA NATUREZA E DA REALIDADE HUMANA, MAS PRESENTE NESTA.

O PRIMEIRO EXEMPLO DE ESPIRITUALIDADE DERIVA DO ANTIGO ORIENTE PAGÃO E O SEGUNDO DO ORIENTE MÉDIO DE TRADIÇÃO BÍBLICA. TENDO ESTE ÚLTIMO INFLUENCIADO NA RELIGIOSIDADE DOS PAÍSES OCIDENTAIS, AINDA QUE COM MODIFICAÇÕES, DESDE OS PRIMEIROS ANOS DA ERA CRISTÃ. TAMBÉM INFLUENCIANDO OS COSTUMES.

COM NOVO REPERTÓRIO GRUPOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS CONSTITUEM UM SENTIDO EMINENTEMENTE PESSOAL, CENTRADO NO HOMEM, NO INTERESSE DE IMPLANTAR DIRETRIZES MANIPULADORAS DE UMA NOVA RAZÃO DE VIDA: A DO INDIVÍDUO ACIMA DE TUDO: DO IMEDIATISMO, DA REALIZAÇÃO NO CONSUMISMO, DO IDEAL PRAGMÁTICO.

A AÇÃO DESSES NOVOS GRUPOS SE FUNDA NA GRADUAL ANULAÇÃO DAS NARRATIVAS HISTÓRICAS E DA HERANÇA SOCIAL DOGMATIZADA, SOBRETUDO AS RELIGIOSAS. PARA SE LIBERTAR LANÇAM MÃO DA TECNOLOGIA E DO VÁCUO PROVENIENTE DA “FALÊNCIA” DAS INSTITUIÇÕES HUMANAS, OUTRORA GENETRIZ DA “INOCÊNCIA DAS MASSAS”.

NESSES GRUPOS ESTÃO INSERIDOS OS QUE EU CHAMAREI DE INDIVÍDUOS EVOLUÍDOS, QUE REJEITAM AS CHAMADAS VERDADES ESTABELECIDAS NOS ÚLTIMOS SÉCULOS, EXEMPLIFICADAS NO TRABALHO DE UM DOS SEUS TEÓRICOS, FRIEDRICH NIETZSCHE, QUANDO ASSEVERA QUE “NÃO HÁ FATOS, APENAS VERSÕES”:

OS PARTIDÁRIOS DA PÓS-VERDADE DECLARAM QUE ACIMA DOS FATOS OBJETIVOS, PERANTE A OPINIÃO PÚBLICA, PREVALECEM OS “APELOS ÀS EMOÇÕES E ÀS CRENÇAS PESSOAIS. E NA CULTURA POLÍTICA, AO INVÉS DE POLÍTICA PÚBLICA SE PRATICA A POLÍTICA PÓS-FACTUAL. NESSAS SITUAÇÕES A APARÊNCIA DE VERDADE VALE MAIS QUE A PRÓPRIA VERDADE”.

TAMBÉM, NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, GRUPOS RELIGIOSOS DE ORIGEM BÍBLICA PASSARAM A CONSTITUIR UM NOVO FORMATO DENTRO DOS MODELOS TRADICIONAIS RELIGIOSOS, COM ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NA RITUALÍSTICA E PRINCIPALMENTE NO SENTIDO TEOLÓGICO, QUAL SEJA: ADAPTANDO A PRÁTICA ESPIRITUAL AO INTERESSE MATERIAL.

NO CONTEXTO ATUAL O INDIVÍDUO EVOLUÍDO ESTÁ PREVALECENDO SOBRE A SOCIEDADE COM RELAÇÃO ÀS CONVENÇÕES ESTABELECIDAS, NOS SEUS PRECEITOS GERAIS. O INDIVÍDUO, COM OUTROS INDIVÍDUOS, CUJAS CARACTERÍSTICAS E AFINIDADES OS TORNAM UM “CORPO” ÚNICO, SE IMPÕE DE FORMA INCISIVA NAS SOCIEDADES QUE ABRIGAM OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA.

ESSES MOVIMENTOS SOCIAIS TRAZEM EM SEU BOJO FORTE IMPOSIÇÃO CULTURAL E POLÍTICA DO INDIVÍDUO EVOLUÍDO, AMPLIADO POR MEIO DE REPRODUÇÃO IDEOLÓGICA. E ASSIM, VÁRIOS GRUPOS QUE PERSONIFICAM O INDIVÍDUO EVOLUÍDO, TÊM INCORPORADO NOVOS COSTUMES E PRECEITOS, ELABORANDO UMA NOVA NARRATIVA E COMPROMETENDO AS ANTERIORES.

O HOMEM COMUM TEM HISTORICAMENTE SE REBELADO CONTRA A PERVERSA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, NO ENTANTO ESSE HOMEM EVOLUÍDO QUE SE CONGREGA EM GRUPOS TEM SE INSURGIDO CONTRA TUDO QUE O CERCA. ELE NÃO QUER SÓ COMPOR O SEU ESPAÇO SOCIAL ELE QUER DESINTEGRAR TODOS OS DOGMAS ESTABELECIDOS.

PARA O HOMEM EVOLUÍDO O QUE PREVALECE ESSENCIALMENTE É A EXISTÊNCIA DE SI MESMO, POR SOBRE TUDO QUE SE CONSTRUIU EM CIMA DESSA VERDADE. ELE IMERGIU NO EXISTENCIALISMO, POSTO EM PRÁTICA À BUSCA DE INDEPENDÊNCIA PESSOAL EM OPOSIÇÃO AOS PARÂMETROS IDEOLÓGICOS IMPOSTOS.

TODOS OS INTEGRANTES DO NOSSO PLANETA, COM EXCEÇÃO DO HOMEM, TÊM SEGUNDO SARTRE A SUA TRAJETÓRIA DEFINIDA, ISTO É, PRÉ-DETERMINADA EM SEUS ATOS, EM SEU MODUS VIVENDI. ENQUANTO OS ANIMAIS SÃO CONDICIONADOS A AGIR POR FORÇA DE SUA NATUREZA, TENDO LIBERDADE RESTRITA AOS SEUS INSTINTOS, O HOMEM É LIVRE.

PARA O ANIMAL EXISTEM CONDIÇÕES IMPERIOSAS PARA A SUA SOBREVIVÊNCIA. NISSO INCLUI O CLIMA, A ALIMENTAÇÃO OFERECIDA NAQUELE HABITAT, ETC. ELE ESTÁ SUJEITO A REGRAS, TAIS COMO PERÍODO DE ACORDAR E DE DORMIR, FORÇOSO MODO DE REPRODUÇÃO E IRREVERSÍVEL, POR SI MESMO, LETALIDADE DECORRENTE DE DOENÇAS.

O HOMEM É O CONDUTOR DE SUA VONTADE EM AÇÕES E OMISSÕES. ELE ESCOLHE ONDE MORAR, O QUE VAI COMER, A HORA DE DORMIR, SE VAI TER FILHOS, ETC. ELE ENTÃO VAI SE CONSTITUINDO NO SENTIDO ÉTICO EM OPOSIÇÃO A SUA NATUREZA, FATOR ELEMENTAR NA SUA EXISTÊNCIA, SEMPRE QUE É REGIDO PELA RAZÃO.

NO ENTANTO O HOMEM NÃO PODE ESCOLHER COMO VAI NASCER E MORRER. NÃO DECIDE SOBRE A SUA CONSTITUIÇÃO FÍSICA, O BIOTIPO, A SUA PRÓPRIA APARÊNCIA. COMO TAMBÉM NÃO ESCOLHE SE O SEU TEMPERAMENTO VAI TER PREVALÊNCIA DO FLEUMÁTICO, SANGUÍNEO, MELANCÓLICO OU COLÉRICO.

AS SOCIEDADES TRADICIONAIS, DESDE OS PRIMÓRDIOS, ERIGIRAM UM SISTEMA DE GOVERNANÇA QUE POR UM LADO GARANTE RAZOÁVEL SOBREVIVÊNCIA CIVILIZADA AOS CIDADÃOS E POR OUTRO LADO USA O SEU TRABALHO, IMPRESCINDÍVEL NESSAS COMUNIDADES, LHE CONCEDENDO INSIGNIFICANTE RETRIBUIÇÃO.

OS SISTEMAS QUE FORAM MONTADOS NAS SOCIEDADES TRADICIONAIS, AS MESMAS QUE AGORA SÃO AMEAÇADAS DE SUCUMBIR ANTE A DISPOSIÇÃO DESSES NOVOS GRUPOS, SEMPRE FAVORECERAM CASTAS QUE, SEJA NA INICIATIVA PRIVADA OU NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DOMINARAM AS RIQUEZAS PRODUZIDAS POR TODOS.

O ESPIRITO HUMANO, FONTE DO SER PENSANTE, SEMPRE FOI IMPREGNADO DE DIGNIDADE. NO BRASIL, DESDE OS ÍNDIOS E OS NEGROS ATÉ O ALFERES TIRADENTES NOS DERAM EXEMPLOS DE MOBILIZAÇÃO POR UM IDEAL PERSEGUIDO; A IGUALDADE ENTRE OS SERES HUMANOS, OU SEJA, AS MESMAS CONDIÇÕES DE VIDA EM SOCIEDADE.

NO ENTANTO, A TENSÃO DECORRENTE DAS RELAÇÕES DO POVO COM A CLASSE DOMINANTE SEMPRE FOI RESOLVIDA POR MEIO DA COAÇÃO LEGAL, POR MEIO DAS FORÇAS DE SEGURANÇA OFICIAIS A PRETEXTO DE MANTER A ORDEM SOCIAL A QUALQUER CUSTO. ATÉ COM JESUS, O CRISTO, ESSA TÉCNICA RUDIMENTAR FOI EXERCIDA COM RIGOR.          

NÃO EXISTEM AS SOCIEDADES SEM O HOMEM CIVILIZADO PRESENTE NELAS, SEM O TRABALHADOR QUE EMPRESTA OS SEUS TALENTOS E A SUA FORÇA EM PROL DELAS. AS SOCIEDADES NÃO DEVEM ELIMINAR DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS HOMENS EM SUAS SINGULARIDADES, NEM ESTES SUPRIMIR O CONCEITO DE SOCIEDADE EM PROL DE SI MESMOS.

ALBERTO MAGALHÃES CARNEIRO 

Viver é lutar


Não queira viver no seu passado. Ele não é mais seu. Em verdade nunca foi. Ele foi o que outras pessoas, por um tempo, lhe arranjaram, um lugar onde te colocaram, mas de onde você já saiu. Você não está mais lá. O seu futuro é seu. O seu lugar, o lugar que você arranjou é esse agora. Onde mora a sua vontade. Lá era apenas o quintal da casa chamada mundo. Onde você se sujava de areia, comia fruta verde suado de correr no sol quente, pegando lagartixas, vendo briga de formigas de roça e sorrindo das estripulias de uma menina magrela. Você agora kkkkk tem bigode na cara de homem crescido. Também tem aquela cicatriz na perna da queda da bicicleta. Todas as feridas se fecham, lembre-se. Não mantenha nenhuma aberta. Você já se levantou de todas as quedas físicas (lembra?) e sentimentais que seja também. Ria de todas elas como você riu da sua queda da bicicleta surrada. Também não se deve chorar duas vezes pela mesma queda, nem relembrar nenhuma. O bom é o se levantar batendo a poeira e ouvindo dos amigos palhaços: "levante pra cair de novo". Você, agora, é dono do seu nariz civilizado (aquele mesmo que você tirava a meleca e esfregava na gente),  você agora já viajou nas asas do democrático senhor chamado tempo, formando-se na escola da sabedoria e na faculdade da compreensão. A alegria não reside nas lembranças, ela vive no momento presente que construímos com as mãos generosas e com o coração resignado. Para sentir-se feliz você só precisa olhar com olhos gratos para o presente e com esperança para o futuro. Todas as vezes quando o sol nascer, lembre-se: o mundo também é seu.

Alberto Magalhães Carneiro 

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Deus e o mundo mau


"Dizer que o mundo é isso aqui é simplificar Deus”

Deus não deu este mundo para o homem, isto é, não lhe cedeu esta habitação do modo como está. Mas, os que não têm adequado discernimento da questão ainda dizem que “não pode Deus existir se Ele é bom e o mundo é ruim e a vida é má.” Uma coisa não depende da outra para que seja real. Dizer que o mundo é isso aqui é simplificar Deus. A terra era perfeita, o homem era bom. Deus regia diretamente este nosso mundo e o homem livre – mas limitado - era a coroa da criação de Deus. Mesmo assim a independência de pensamento do homem não o fez feliz. Ele queria mais. Ao ponto de decidir trilhar o seu próprio caminho. Tudo lhe era possível fazer, mas nem tudo lhe era permitido que fizesse, por não ser lícito, bom, justo, certo. E a partir do desejo de autonomia plena o homem se fez o seu próprio deus. Assim fomos mudando todas as regras elementares contidas na Criação original (engendrada por um Ser íntegro), que passamos a desconstruir. E a real sintonia entre Criador e criatura – formando uma unidade espiritual - era necessária para que o perfeito equilíbrio reinante não fosse quebrado. Naquele tempo ainda era tênue a linha espiritual que unia a criatura ao seu Criador. E o homem, voluntariamente, quebrou essa sintonia e investiu no comando do seu próprio destino para a sua própria perdição.

Conscientemente preferiu ser governado por si mesmo. E assim aconteceu. A sua vontade foi feita. Mas, algo se perdeu nessa ação de rebeldia “libertária”, pois não se pode ser, ao mesmo tempo, governante e governado, livre e servo, rei e súdito, amigo e adversário. Não se pode desfrutar de mesma essência depois de se mudar a fórmula que a concebe. Algo não pode ser, simultaneamente, doença e remédio. No presente caso, uma natureza gerou vida e paz. A outra gerou morte e conflitos. Surgiu, assim, a natureza de essência degradante, caótica. A morte, como me fizeram acreditar, não nasceu com a vida. A vida surgiu para perdurar. A morte nasceu com a quebra do liame espiritual da criatura finita com o seu Criador eterno, com o Deus Criador que deixou de nutrir essa existência humana e de iluminar e pacificar esse nosso mundinho de tão pouca extensão territorial, perante o cosmos. Perdemos então a referência objetiva, o parâmetro ideal, a influência benéfica. Fomos deteriorando a nossa vivência com sentimentos ruins, doenças, perversidades, ambição material e todas as formas de paixões instintivas e deturpadas a fim de preencher o vazio que nos inundou.

O afastamento cada vez maior do âmbito espiritual fez o homem se insurgir contra as leis elementares da natureza inicial na criação humana e passar, de variadas formas, a confrontar o Criador que um dia foi o seu Deus. Há pessoas que intimamente se afastaram tanto de Deus - com severa indiferença ou repúdio - que não há mais condição de retorno, são irreformáveis, descritos nas Escrituras Sagradas como ímpios. Deste Deus o homem no passado distante ainda guardava a Sua presença sublime em seu coração, embora já vivendo no limbo espiritual. Mas Deus que não deixou de se revelar aos seus “filhos” (afastados de sua glória resplandecente) caídos nas trevas decorrentes de sua obstinação arbitrária. Deus manteve de forma indelével o Seu nome neste mundo a fim de, por meio de um projeto rebuscado, resgatar aqueles que ainda O buscam: por meio de ações, das Escrituras Sagradas e de homens separados (profetas, apóstolos, sacerdotes). Esse projeto foi definido, isto é, concluído na pessoa de Jesus Cristo – o redentor mundial, que é um homem especial.

Jesus veio para refazer a criação humana substituindo o primeiro homem criado, Adão, e é modelo excepcional universal, isto é do universo criado. Adão foi CRIADO e vivificado à imagem (imitação, figura) de Deus, com consciência e liberdade. Sua origem foi na terra. Já Jesus, o Verbo, o Logos de Deus que conserta o erro do mundo (chamado de pecado) foi miraculosamente GERADO homem: “Proclamarei o decreto: o Senhor me disse: Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Salmos 2:7). Ele veio do Pai: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o verbo era Deus” (João 1:1). Ele é único (unigênito): “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14). Nessa formatura do Verbo ao vir à terra, todos os que morrerem verdadeiramente reconciliados com Cristo também vão ser gerados, na ressurreição: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19).

O homem sozinho falhou. Jesus veio para nos ensinar a vontade do Pai, afastado por nós: “Não busco a minha vontade, mas a do Pai que me enviou” (João 5:30). Estávamos “no corredor da morte” Jesus, como expiação perfeita, veio resgatar “O que se havia perdido” (Lucas 19:10) e pagou a pena que era nossa: “E cancelou a escrita da dívida, que nos era contrária (...) Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Colossenses 2:14). “Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa das nossas iniquidades, o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías 53:4,5). Jesus voltou para o Pai e revelou: “na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde eu vou, e conhecei o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho,e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14:1-¨6).

Alberto Magalhães Carneiro 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Fundamentalismo religioso

O Cristão genuíno é também fundamentalista


Num tempo em que se fala em globalização, coalizão, conexão, ecumenismo, sincretismo, etc. ver, na mídia, muçulmanos decapitando pessoas porque professam uma fé diferente da deles nos parece surreal, absurdo. Desde o dia em que os irmãos Isaque, filho de Abraão com a hebreia Sara, e Ismael, filho de Abraão com a egípcia Agar, se separaram nunca mais houve paz entre eles e nem no mundo mais recentemente. Vemos mais fortemente essa questão se revelar na disputa por território entre israelitas e palestinos, na faixa de Gaza. Hebreu e hebreia significa ser da descendência de Héber, descendente de Sem, descendente de Noé. Os egípcios são descendentes de Cão, descendente de Noé. Algumas tribos árabes, descendentes de Ismael também são descendentes de Sem.

Os descendentes de Ismael atualmente são os árabes e a família de Isaque se tornou o povo israelita, ou seja, descendentes de Israel, nome dado por Deus a Jacó, filho primogênito de Isaque, filho de Abraão o pai da fé no Deus único. Também são chamados judeus por causa de Judá, um dos doze filhos de Israel e nome de uma das doze tribos que compunha a nação do povo israelita. Os árabes são chamados de islamitas (do Islã) ou muçulmanos em virtude da fé que professam. Para os descendentes de Abraão, tanto da parte de Isaque quanto da parte de Ismael se referir a algo ou alguém como divindade, igualando-se ou assemelhando-se a Deus (Javé para os israelitas e Alá para os muçulmanos) era abominação punida com a morte pelos israelitas no passado e pelos muçulmanos até aos dias atuais. São fundamentalistas extremistas.

Os Cristãos são considerados pagãos, pelos israelitas e pelos muçulmanos, porque adoram “três deuses”, segundo eles, referindo-se ao culto ao Pai, Filho e Espírito Santo. Os cristãos, por sua vez consideram esses três seres componentes de um só Deus, o mesmo Deus que é cultuado pelos descendentes de Abraão. O cristianismo - integrante nas igrejas Católica Apostólica Romana, Católica Ortodoxa e Protestante (Evangélica) - prega que como existe a união do elétron, próton e nêutron que formam o átomo existe união semelhante na Trindade Divina com ênfase central no Pai. Jesus é o Logos na criação dos mundos, o Espírito Santo é Aquele que vivifica. Os não Cristãos consideram Jesus Cristo apenas como um profeta de Deus e, contra a adoração a Ele, praticam atos de violência desmedida. Também os muçulmanos praticam ações violentas em virtude de questões geográficas (por exemplo, contra os seus primos israelitas), políticas e a fim de implantar a sua religião no mundo através dos grupos extremistas Hamas e Estado Islâmico.

Os israelitas ainda esperam o Messias prometido nas profecias, o enviado, para dirigir o seu povo e não aceitam que Ele já tenha vindo: Jesus Cristo, o verbo de Deus, o Logos do princípio de toda a criação. “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam”, escreveu João, o discípulo amado. Enquanto os israelitas esperam um messias político, Jesus falou: “Meu reino não é deste mundo, daqui eu não sou.” O profeta João Batista, o último levantado por Deus para testemunhar a apresentar O Messias a Israel, testificou: “A lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” Ainda assim mataram João Batista e Jesus. Este, antes de ser crucificado, disse: “Eu vim a este mundo para julgamento, a fim de que os cegos vejam e os que vêem se tornem cegos.” Mas graciosamente, o Apóstolo Paulo (Saulo de Tarso) nos explica: “Tendo perdoado todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós, que constava nas ordenanças, qual nos era contrário, removeu-o inteiramente cravando-o na cruz." E acrescenta: "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte."

Os discípulos de Cristo, ou Cristãos, proliferaram no ocidente, mas foram semeados no oriente, entre os israelitas ( 11 apóstolos + Saulo de Tarso) Suas testemunhas, povo separado por Deus para a Sua manifestação aos homens. O Cristão genuíno é de algum modo fundamentalista porque não cultua nenhuma personalidade, com existência em carne ou só em espírito ou tradições contrárias aos princípios do Novo Testamento bíblico. Ele nem é ecumênico. Se o azeite for misturado à água ou à outra substância perderá a sua essência. O Evangelho que trás um novo pacto com o homem temente a Deus não pode ser adulterado. Aos que agem de forma contrária o Cristão genuíno os considera pagãos, infringentes da soberania de Deus como divindade.  Há pessoas assim e muitas. Que não misturam alho com bugalhos. Não misturam Deus com as coisas do mundo, principalmente as religiosas preservadas pela mística humana.

Fonte de pesquisas: Escrituras Sagradas e Wikipédia.

Alberto Magalhães Carneiro, Agente de Polícia Judiciária da SSP de Sergipe.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Mensagem para Teófilo (sobre um júri popular e um veemente Promotor)



Teófilo, da última vez em que nos vimos tu, pausadamente, disseste-me citando Sêneca: “Somos todos perversos, o que um reprova no outro ele o achará em seu próprio peito.” E discorrestes sobre a fragilidade do homem no seu aspecto moral. No seu discurso havia o sentimento de pesar pela comovente condição humana. Em sua pungente oração, referindo-se aos que se julgam superiores no afã de infringir desmedida penitência a quem lhe está à mercê, disseste-me: “A árvore quando está sendo cortada observa, com tristeza, que o cabo do machado é de madeira.”

Alguns dias depois da tua visita no meu cárcere. Tive a oportunidade de visualizar uma arena jurídica onde tese e antítese digladiavam-se. E era necessário. Uma parte evocava uma vida que se perdera e a outra parte uma vida que se perdia, momento em que absorveu a outra. É desse embate jurídico – quando leal – que se compõe a síntese, que nutre o Estado de direito, alma sublime da democracia.

Lá, fascinei-me com a performance de um homem de leis do qual o seu mestre, amigo Teófilo, pode ter sido um simples aluno. O seu arrebatamento monopolizava os sentidos, em seu ardor parecia personificar as ciências. Mas, como ninguém é perfeito, só incorreu no pecado - por um momento – da linguagem densa como as águas do rio Estige da mitologia grega. Talvez tenha se deixado levar pelo orgulho, “seduzido por uma razão”. Lembro-me de Charbonneau, que lemos juntos: “A razão humana é oscilante, é bela e ao mesmo tempo perniciosa, porque tem o privilégio de enganar, de mentir, de iludir, de fazer o homem se perder no Dédalo de uma consciência falsa. Ela balança entre a revelação e o disfarce”.

No entanto depois vi no orador uma sanha niilista direcionada à personalidade da pessoa alvo, cético quanto a sequer um vislumbre de qualidade moral nela – uma impropriedade, a meu ver. Era quase um ser divino querendo oferecer-lhe uma catarse. Confesso-te, amigo: temi um pouco por ela – a pessoa alvo. Pensei: “Vai subjugá-la com tamanha obstinação.”

Mas, felizmente, convenceu a quem queria não a quem realmente importava: a pessoa alvo. Se tivesse conseguido confundi-la, ai sim, teria conseguido imprimir a sua marca estigmatizadora de forma permanente. Não de modo formal, na efemeridade das palavras ou nos anos perecíveis da sentença, mas na perenidade da alma. Para o infeliz que estava na berlinda ele teria sido um verdugo espiritual, quem sabe até desses que, no fórum da sua consciência, já tenha condenado a si próprio.

Teófilo, eu li que as muitas letras, às vezes, nos fazem delirar e eu como sou apenas um leigo cansei-me um pouco de tudo isso, até mesmo – perdoe-me, de ti. Por isso vou preferir o confinamento de simples oblato e, nessa busca de uma razão para os meus insignificantes dias, recitar o poeta Agostinho: “Senhor, Tu nos fizestes para Ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar, em Ti, descanso.”

Alberto Magalhães Carneiro 


Teófilo: um amigo imaginário/Tese e antítese: acusação e defesa/Estige: o rio do inferno, na mitologia grega/ Sanha niilista: defesa da teoria da negação de forma ferrenha/verdugo: carrasco/Paul Eugène Charbonneau: teólogo e escritor canadense/Catarse: purgação, purificação/oblato: leigo que oferecia seus serviços a uma ordem religiosa/o referido homem de leis: Promotor de Justiça.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O marxismo materialista (resumo)

O marxismo, atualmente reverenciado por expressiva parte da humanidade, poderá predominar no mundo se um dia o capitalismo for rejeitado pelos povos, por ser considerado ineficiente aos propósitos da sociedade. E vai trazer mais infelicidade. O marxismo que deu origem ao comunismo cria a ideia de um falso domínio do proletariado sobre os meios de produção, em oposição à livre iniciativa, inserida no capitalismo e na democracia. Alegam os seus idealizadores que todos os males sociais são originados pelas “classes dominantes”. Sem propor medidas  saneadoras razoáveis para “consertar” o modelo existente.

Ocorre que jamais o povo dominará, seja a qual regime de governo ou sistema político estiver submetido. A teoria comunista surgiu mediante um bem elaborado projeto pessoal de poder político de líderes mal intencionados. Sempre haverá “representantes” populares governando pelo povo causando desmandos, injustiças, desigualdades, arbitrariedades. Todo governo humano é ineficiente e coercitivo e naturalmente gera insatisfações. Alguns até já tentaram amenizar o totalitarismo implacável do marxismo com um modelo de “marxismo humanitário”, quando percebemos que a teoria original usa a histórica questão da opressão do povo pelo capital para, pelo Estado, oprimir a todos.

O marxismo alimenta a ilusão de que o organismo social tem a capacidade de restaurar o indivíduo, e de que a religião, a cultura, e a economia predominantes são os fatores que estragam a percepção dos meios adequados para que se construa uma sociedade igualitária e justa, com todos tendo acesso a tudo o que é produzido. Nessa visão equivocada de consertar o mundo, o marxismo diz que o Estado é quem deve reger a consciência popular, porque esta deve ser formada pelo coletivo e não ao contrário, ou seja, o homem em si mesmo é vazio, sendo influenciado apenas pelos fatores externos alienantes. E sabemos que a questão não é simples assim, havendo inclusive evidências de elementos psicológicos universais, já no bebê, que não são adquiridos ou aprendidos e que o pensamento humano é autônomo e criativo, inquiridor por natureza.

A verdade é que quem oprime o homem é o próprio homem, como bem testificou  Thomas Hobbes, não os modelos políticos e econômicos precisamente, mas quem os conduz. Não se pode influenciar a alma das pessoas por meio de teorias filosóficas, políticas ou econômicas a fim de consolidar o bem. Principalmente abolindo a imagem de Deus, única fonte que permite ao homem o prazer na busca da solidariedade, fraternidade, igualdade vislumbrando o bem comum.

Alberto Magalhães Carneiro, Agente de Polícia Judiciária da SSP de Sergipe.


domingo, 3 de setembro de 2017

O país que não deu certo



Quando eu vi a seleção brasileira receber sete gols da Alemanha (eu não vi o último gol, do Brasil, porque saí), eu perguntei a mim mesmo, enquanto andava pela minha rua silenciosa: “Porque o Brasil não dá certo?” Ora, o país tinha acabado de gastar bilhões de reais com a construção de arenas esportivas e o plantel canarinho era dos melhores. E recebeu uma goleada humilhante daquelas, em casa. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete gols. A zero. Isso eu constatei com esses olhos estupefatos. O que veio depois não importa mais para mim, eu nem sequer vi. O que ficou gravado foi o que os meus olhos viram. Lembrei-me de Ayrton Sena, o nosso campeão imbatível nas pistas, e a sua morte precoce. Lembrei-me do nosso ídolo mundial Pelé e a indignidade que ele praticou contra a sua filha, rejeitada por ele até a hora da sua morte (para que serviria os nossos heróis se não fosse para nos fazer melhores?). Roberto Carlos, que tão bem canta o amor, não é feliz nele. Fernando Collor, “o caçador de marajás”, o primeiro presidente eleito depois de duas décadas do regime de exceção, e o confisco da poupança dos trabalhadores brasileiros pelo seu governo e, depois, o impeachment. A fatalidade acontecida com Tancredo Neves, símbolo da redemocratização brasileira. A fatalidade com o nosso Sérgio Vieira de Melo, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, benfeitor da humanidade e forte candidato à Secretário-geral, morto num atentado com um caminhão-bomba na sede da ONU em Bagdá. A sempre frustrante expectativa da Igreja Católica brasileira em ver um cardeal brasileiro dirigir o Vaticano. A vitrine brasileira, Rio de janeiro, a cidade maravilhosa, submergida na guerra causada pelas drogas. A Amazônia arrasada pelos mercenários. O Rio São Francisco explorado e abandonado. A proposta do brilhante pensador e educador Paulo Freira relegada ao esquecimento. A nossa música entrou em estado de letargia. A boa música parou nos anos oitenta do século passado. A espontaneidade da vida social ficou prejudicada pela alta criminalidade urbana. O espírito de felicidade ingênua deu lugar a realidade. Políticos em baixa. Não há no cenário nacional mais lideres, pelo menos não há quem preste para ser exemplo, modelo para os mais novos. Nossa juventude, outrora futuro brilhante da nação, mergulhada na mediocridade atual, seduzidos pela vulgaridade e baixa qualidade predominantes na moda, na música e em outros segmentos sociais. Essa geração não produz pessoas como Anita Garibaldi, Tiradentes, Deodoro da Fonseca, Zumbi dos Palmares, Princesa Isabel, Ruy Barbosa, Cora Coralina, Sílvio Santos, Chico Mendes... O sonho acabou. Ao menos social e culturalmente. Mas, como disse algum romântico pensador, a esperança não morre. Os sonhos podem renascer das cinzas, como uma fênix tupiniquim.

Lutar é andar sobre pedras. Quem abre caminhos corre os riscos das cobras. Mas é aos pés dos que vão à frente que as borboletas se levantam”. Juscelino Kubitschek

Alberto Magalhães Carneiro 

Sobre a reputação

O celebrado professor Clóvis de Barros Filho escreveu que "a reputação é um eu fora do meu alcance." E, certamente, muitos concord...