Marcos Vinicius Gomes*
A Rede Globo tem veiculado ultimamente alguns vídeos institucionais intitulados 'O Sagrado'. Nestes vídeos são abordados temas que com frequência vêm ao foco em debates sobre a condição humana atual. Um destes vídeos desta série, trata do excessivo zelo em busca do corpo perfeito, prática contemporânea inclusive difundida e estimulada pelos meios de comunicação. Nesta propaganda, o locutor propõe a reflexão do assunto enfocando que atualmente as pessoas estão buscando apenas o aprimoramento estético e deixando a procura por valores mais duradores e transcendentais (transcendental é tudo aquilo que antecede ou ultrapassa qualquer experiência). Enquanto o locutor fala, são mostradas cenas de pessoas fazendo exercícios em academias, ou então buscando serviços estéticos variados. Por fim aparece um representante da Igreja Católica reiterando a fala do locutor sobre o tema abordado, num discurso assumidamente religioso. Nas outras propagandas da série 'O Sagrado' outros religiosos de diversas crenças colaboram com seus pontos de vista sobre a temática abordada, sempre com uma perspectiva de resgate de valores morais em falta nos dias atuais, evidentemente embasados, em seus comentários, nos dogmas das religiões que professam. No final de cada vídeo aparece a trindade global em seus logotipos - Rede Globo, Fundação Roberto Marinho e canal Futura.
Soa estranho uma emissora como a Rede Globo vir a público com estas investidas metafísicas (metafísica aqui pode ser classificada como 'ramo da filosofia que busca explicar a essência do ser', ou então 'qualquer especulação filosófica em geral'). Isso porque sabe-se que a emissora sempre foi criticada - tanto pelo lado conservador quanto pelo progressivo , passando pelo moderado de nossa sociedade - de ser 'veículo desvirtuador' desta mesma sociedade juntamente com seus valores.
Não quero associar a expressão 'veículo desvirtuador' sob a conotação religiosa, apesar de ter sido uma propaganda com conotação religiosa o motivador deste texto. Excessos existiram na história da televisão e a Globo teve sua contribuição neste quesito. Porém, a contribuição para os 'desvirtuamentos' desta sociedade, vai além de estereótipos ou de preconceitos de vários tipos presenciados na programação da emissora carioca. Assim a contribuição social negativa da Rede Globo ultrapassa o discurso distorcido das novelas das oito dos anos noventa, onde as personagens femininas nordestinas eram assumidamente 'assanhadas', ultrapassa os ícones globais como Xuxa e sua 'filha de proveta multimídia' Sacha, que teve seu nascimento mostrado em rede nacional e vai muito além dos seriados juvenis com adolescentes que tem como dilema máximo de suas vidas não saber qual garota escolher para namorar. A Globo pode ser desvirtuadora em alguns aspectos sim, mas o é com prioridade no campo político e institucional.
Isso porque a Rede Globo, no quesito político apoiou o regime militar criado em 1964 até o fim, tirando grande proveito da permanência dos militares no poder. Manipulou em 1982 a divulgação dos resultados das eleições para governador do Rio de Janeiro, numa clara tentativa de prejudicar Leonel Brizola. A emissora deu uma 'força' na trajetória de Fernando Collor de Mello, tendo antes de sua eleição manipulado a edição de um debate para presidência em 1989 a favor de Collor em detrimento ao candidato Lula. Também há o caso da Nec, empresa comprada por Roberto Marinho nos anos oitenta a 'preço de banana' após uma jogada política patrocinada pelo amigo e então Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães.
Qual a relação então entre as propagandas institucionais 'O Sagrado' com a trajetória da Rede Globo de escândalos, manipulações, uso indevido dos veículos que é dona para forjar tendências? Tem uma forte relação, porque como emissora representante do conservadorismo, usa todos os meios disponíveis para atender os interesses do establishment ('grupo dominante'). Após quinhentos anos no poder, as forças conservadoras temem por ter que esperar mais um período de ostracismo para uma eventual volta. Enquanto não conseguem, apelam para todo tipo de argumentos - válidos e não válidos - para difundir suas idéias. E aqui entra o discurso religioso-transcendental, estratégia comum já vista na história recente do país. Basta recordarmos que no período pré-golpe de 64, grupos religiosos liderados por 'senhoras de família' da sociedade paulistana saíram pelas ruas de São Paulo na 'Marcha da Família com Deus pela Liberdade', carregando faixas com frases do tipo 'Senhora Aparecida iluminai os reacionários'. O tom religioso associado à política era a regra e tal marcha foi, para os militares e seus aliados, a 'autorização popular' para o regime que viria trazendo junto o atraso político, social e econômico.
Esta abordagem religiosa de temas contemporâneos com seus problemas e desafios soa como uma tentativa renovada de 'distinção política' aos olhos da opinião pública como vista no pré-golpe de 1964. Ao mostrar zelo comunitário, apontando as não-virtudes da sociedade contemporânea num enfoque religioso, a Rede Globo quer mesmo desmembrar-se de sua parcela de responsabilidades para com esta mesma sociedade a qual critica. Focando para o lado transcendental, a emissora esvazia-se dos vícios por ela patrocinados nestes anos todos, esperando que a sociedade veja neste ato a sublimação de uma parcela da elite histórica a qual ela representa. Uma elite que, apesar de mudados os sistemas políticos e econômicos nacionais, continua sua articulação para manter o Brasil a seu serviço, nem que isso custe o retorno ao atraso. Atraso contra o qual lutamos tanto e continuamos lutando dia e noite para apagá-lo de nossas trajetórias.
*Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Os Juízes vão editar os jornais em lugar dos Jornalistas?
Por Eugênio Bucci em 17/12/2009
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 17/12/2009; intertítulos do OI
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inadequado e arquivou o pedido do Estado de S.Paulo para que fosse extinta a censura prévia que sobre o jornal se vem abatendo há vários meses. Os fundamentos da decisão apontam para razões formais, processuais, mas seu efeito de mérito é inequívoco: O Estado de S.Paulo segue impedido de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga atividades do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney.
Estamos diante de uma ironia trágica. O jornal foi castigado não por ter agido com irresponsabilidade, mas por ter cumprido o seu dever. O excelente trabalho dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, que, no primeiro semestre, revelou os atos secretos do Senado, entre outras irregularidades, recebeu, no início de dezembro, o Prêmio Esso de 2009, mas antes, no dia 31 de julho, mereceu outro tipo de reconhecimento, este macabro: a censura prévia por via judicial. Na prática, a despeito de justificativas processuais, foi essa violência que o Supremo corroborou.
De repente, a sociedade viu-se atirada a um constrangimento quase indescritível. Durante o julgamento do pedido do Estado, o presidente do STF, Gilmar Mendes, comparou o caso ao episódio da Escola Base, de 1994, quando uma pequena escola, do bairro da Aclimação, em São Paulo, foi vítima de um inquérito policial conduzido de forma espalhafatosa pelo delegado encarregado, gerando uma avalanche de notícias sensacionalistas que arruinaram a reputação dos donos da instituição.
"Desvio bárbaro"
Em sua edição de 11 de dezembro, este jornal reproduziu as palavras de Mendes:
"Se tivesse havido naquele caso uma intervenção judicial, infelizmente não houve, que tivesse impedido aquele delegado, mancomunado com órgão de imprensa, de divulgar aquele fato, aquela estrutura toda escolar e familiar teria sido preservada. E não foi."
A analogia é perversa. Ela vem sugerir que o mal da imprensa no Brasil é a falta de tutela; estivessem os juízes mobilizados para impor censuras prévias a granel e os erros jornalísticos não mais aconteceriam.
Poucas vezes uma inversão de valores foi tão longe na nossa Corte Suprema. Esqueceu-se o presidente do STF de que, durante a ditadura militar, as arbitrariedades praticadas pelas autoridades policiais não eram sequer noticiadas, e nem por isso famílias deixaram de ser destroçadas pela truculência. Não foi por excesso de reportagens, mas exatamente por escassez, que a tirania encontrou espaços para se impor sobre o país. A imprensa não agrava, mas previne o arbítrio, ainda que cometa erros – como efetivamente cometeu no caso da Escola Base.
Agora, estamos à mercê da mentalidade equivocada que foi expressa por Gilmar Mendes. Se generalizada, ela pode nos abrir um cenário sufocante, como bem alertou, em artigo publicado ontem nesta mesma página, Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Estado (ver "Todos seremos melhores com a imprensa livre"):
"Instituições de diversas naturezas demandarão o Judiciário para impedir a realização de reportagens que julguem, por mera presunção, incômodas – e a sociedade jamais poderá comprovar. Corruptores e corrompidos, governantes que não cumprem metas, organizações que desrespeitam a lei, o meio ambiente e os consumidores: todos terão a chance de encontrar no Judiciário o escudo para esconder da fiscalização do público o que poderia vir a ser de elevado interesse para todos. E quem poderá dizer em que casos a cautela antecipada não se transformará em impunidade pré-adquirida? Os juizados se verão abarrotados de demandas baseadas na imaginação do que pode vir a acontecer, e não em fatos concretos. A edição final passará pelos juízes, um desvio bárbaro no método e no tempo. Ruim para as duas atividades, péssimo para as mínimas chances de transparência e debate públicos."
Princípios democráticos
Para complicar o cenário, alguns, em apoio à intromissão de juízes nos afazeres da imprensa, alegam que a investigação sobre as operações de Fernando Sarney tramitam em sigilo de Justiça e, por isso, não podem ser objeto do noticiário. Nada mais enganoso. A sociedade não pode ficar refém daquilo que os Poderes de Estado consideram ou não consideram sigiloso. Bem ao contrário, a democracia precisa da imprensa justamente porque ela é a única instituição capaz de tornar públicas as decisões que o poder gostaria de tomar às escondidas. Pense bem o leitor: para que uma sociedade precisa de jornais livres senão para revelar segredos? O que é uma notícia senão um segredo revelado? Eis aí o núcleo da missão da imprensa: investigar e fiscalizar o poder, informando o cidadão. Sem isso não há segurança democrática.
Guardar o sigilo de Justiça é função dos juízes. A função da imprensa é descobri-lo e, a partir daí, considerar a necessidade de publicá-lo. Em liberdade. A posteriori, e apenas a posteriori, ela poderá ser responsabilizada, aí sim, na Justiça, pelos excessos em que vier a incorrer.
Não custa lembrar que em momento algum as reportagens do Estado "premiadas" com a mordaça invadiram a intimidade familiar de quem quer que fosse. Elas apenas trataram de assuntos de clamoroso interesse público, apenas levaram ao cidadão aquilo que é seu direito conhecer. A prevalecer a decisão que se vem mantendo até aqui, o Judiciário não está protegendo privacidades. Talvez de forma inadvertida, está simplesmente amparando interesses privados que guardam vínculos mal explicados com o poder público.
Agora, resta torcer para que, nos lances do processo que ainda estão por vir, os princípios democráticos sejam repostos. Assim como jornalistas, juízes também erram. Assim como jornalistas, que saibam se corrigir.
Fonte: observatoriodaimprensa.com.br
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 17/12/2009; intertítulos do OI
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inadequado e arquivou o pedido do Estado de S.Paulo para que fosse extinta a censura prévia que sobre o jornal se vem abatendo há vários meses. Os fundamentos da decisão apontam para razões formais, processuais, mas seu efeito de mérito é inequívoco: O Estado de S.Paulo segue impedido de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga atividades do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney.
Estamos diante de uma ironia trágica. O jornal foi castigado não por ter agido com irresponsabilidade, mas por ter cumprido o seu dever. O excelente trabalho dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, que, no primeiro semestre, revelou os atos secretos do Senado, entre outras irregularidades, recebeu, no início de dezembro, o Prêmio Esso de 2009, mas antes, no dia 31 de julho, mereceu outro tipo de reconhecimento, este macabro: a censura prévia por via judicial. Na prática, a despeito de justificativas processuais, foi essa violência que o Supremo corroborou.
De repente, a sociedade viu-se atirada a um constrangimento quase indescritível. Durante o julgamento do pedido do Estado, o presidente do STF, Gilmar Mendes, comparou o caso ao episódio da Escola Base, de 1994, quando uma pequena escola, do bairro da Aclimação, em São Paulo, foi vítima de um inquérito policial conduzido de forma espalhafatosa pelo delegado encarregado, gerando uma avalanche de notícias sensacionalistas que arruinaram a reputação dos donos da instituição.
"Desvio bárbaro"
Em sua edição de 11 de dezembro, este jornal reproduziu as palavras de Mendes:
"Se tivesse havido naquele caso uma intervenção judicial, infelizmente não houve, que tivesse impedido aquele delegado, mancomunado com órgão de imprensa, de divulgar aquele fato, aquela estrutura toda escolar e familiar teria sido preservada. E não foi."
A analogia é perversa. Ela vem sugerir que o mal da imprensa no Brasil é a falta de tutela; estivessem os juízes mobilizados para impor censuras prévias a granel e os erros jornalísticos não mais aconteceriam.
Poucas vezes uma inversão de valores foi tão longe na nossa Corte Suprema. Esqueceu-se o presidente do STF de que, durante a ditadura militar, as arbitrariedades praticadas pelas autoridades policiais não eram sequer noticiadas, e nem por isso famílias deixaram de ser destroçadas pela truculência. Não foi por excesso de reportagens, mas exatamente por escassez, que a tirania encontrou espaços para se impor sobre o país. A imprensa não agrava, mas previne o arbítrio, ainda que cometa erros – como efetivamente cometeu no caso da Escola Base.
Agora, estamos à mercê da mentalidade equivocada que foi expressa por Gilmar Mendes. Se generalizada, ela pode nos abrir um cenário sufocante, como bem alertou, em artigo publicado ontem nesta mesma página, Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Estado (ver "Todos seremos melhores com a imprensa livre"):
"Instituições de diversas naturezas demandarão o Judiciário para impedir a realização de reportagens que julguem, por mera presunção, incômodas – e a sociedade jamais poderá comprovar. Corruptores e corrompidos, governantes que não cumprem metas, organizações que desrespeitam a lei, o meio ambiente e os consumidores: todos terão a chance de encontrar no Judiciário o escudo para esconder da fiscalização do público o que poderia vir a ser de elevado interesse para todos. E quem poderá dizer em que casos a cautela antecipada não se transformará em impunidade pré-adquirida? Os juizados se verão abarrotados de demandas baseadas na imaginação do que pode vir a acontecer, e não em fatos concretos. A edição final passará pelos juízes, um desvio bárbaro no método e no tempo. Ruim para as duas atividades, péssimo para as mínimas chances de transparência e debate públicos."
Princípios democráticos
Para complicar o cenário, alguns, em apoio à intromissão de juízes nos afazeres da imprensa, alegam que a investigação sobre as operações de Fernando Sarney tramitam em sigilo de Justiça e, por isso, não podem ser objeto do noticiário. Nada mais enganoso. A sociedade não pode ficar refém daquilo que os Poderes de Estado consideram ou não consideram sigiloso. Bem ao contrário, a democracia precisa da imprensa justamente porque ela é a única instituição capaz de tornar públicas as decisões que o poder gostaria de tomar às escondidas. Pense bem o leitor: para que uma sociedade precisa de jornais livres senão para revelar segredos? O que é uma notícia senão um segredo revelado? Eis aí o núcleo da missão da imprensa: investigar e fiscalizar o poder, informando o cidadão. Sem isso não há segurança democrática.
Guardar o sigilo de Justiça é função dos juízes. A função da imprensa é descobri-lo e, a partir daí, considerar a necessidade de publicá-lo. Em liberdade. A posteriori, e apenas a posteriori, ela poderá ser responsabilizada, aí sim, na Justiça, pelos excessos em que vier a incorrer.
Não custa lembrar que em momento algum as reportagens do Estado "premiadas" com a mordaça invadiram a intimidade familiar de quem quer que fosse. Elas apenas trataram de assuntos de clamoroso interesse público, apenas levaram ao cidadão aquilo que é seu direito conhecer. A prevalecer a decisão que se vem mantendo até aqui, o Judiciário não está protegendo privacidades. Talvez de forma inadvertida, está simplesmente amparando interesses privados que guardam vínculos mal explicados com o poder público.
Agora, resta torcer para que, nos lances do processo que ainda estão por vir, os princípios democráticos sejam repostos. Assim como jornalistas, juízes também erram. Assim como jornalistas, que saibam se corrigir.
Fonte: observatoriodaimprensa.com.br
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
* Robin Williams e a 'Síndrome do Amigo Universal'
Por Marcos Vinicius Gomes*
O ator americano Robin Williams em entrevista ao 'Late Show' de David Letterman fez uma piada relacionada à conquista das Olimpíadas de 2016 pelo Rio de Janeiro - o Rio desbancou fortes cidades concorrentes como Madri, Praga e Tóquio, além de Chicago. Williams disse que a cidade de Chicago enviou Oprah Winfrey e Michelle Obama nas disputa, mas o Rio de Janeiro tinha mandado 50 strippers e meio quilo de cocaína (e segundo ele isso foi uma competição injusta). A entrevista está no Youtube com inúmeros acessos e vários comentários criticando a piada do humorista.
Não é a primeira vez que os brasileiros se sentem incomodados com estereótipos que os estrangeiros associam a nós. Essas declarações, como a de Williams, são feitas por personalidades, políticos ou são então colocadas em obras de ficção, referindo-se ao Brasil ora como um lugar corrupto ou violento, ora sexualmente paradisíaco. Um episódio notável e que pode ser relacionado aos comentários equivocados de Williams é o da série animada Os Simpsons, onde a família que dá nome ao seriado vem ao Rio passear e encontra apenas uma cidade selvagem, habitada por cobras e macacos enfim, uma cidade violenta, degradada e lasciva.
Foi-se o tempo em que o brasileiro era excessivamente complexado. O jornalista e escritor Nelson Rodrigues até analisou nosso complexo de inferioridade, nossa pouca auto-estima classificando-a como 'complexo de cachorro vira-lata'. Hoje o brasileiro parece mais confiante em si e no país, mesmo com os incontáveis problemas sociais e estruturais que impedem nosso pleno desenvolvimento.
Entretanto o brasileiro ainda precisa, no geral, de indicadores externos que alavanquem sua autoconfiança numa leitura de si mesmo. Vejamos uma situação onde o sentimento de nação é mais notado - no esporte. É comum em transmissões de eventos esportivos internacionais um ufanismo nacionalista misturado com uma miopia sobre a visão que o brasileiro tem de si. Se o complexo de vira-latas é coisa do passado, agora o que reina é uma espécie de 'Síndrome do Amigo Universal'. A 'Síndrome do Amigo Universal' é o sentimento coletivo de que somos boa gente, amado por todos. Enquanto outros povos aniquilam-se em conflitos, questões territoriais, em xenofobias, massacres nós, brasileiros, vivemos harmoniosamente, cordialmente e fazemos questão de que os estrangeiros vejam estas virtudes em nós. E ficamos orgulhosos quando os outros tem esta mesma percepção. É o mito do 'homem cordial' versão globalizada, exportada para vários países.
Lembro-me de uma transmissão de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 onde o narrador Galvão Bueno comentava a boa recepção da delegação brasileira no Estádio Olímpico no dia da inauguração dos jogos. Ele asociou a relativa ovação dos atletas brasileiros pelas torcidas rivais ao 'sentimento de simpatia' que o brasileiro desperta no imaginário estrangeiro. Algo que é nato a todos nós, aquela coisa meio 'o mundo nos ama, vejam só!'. Este sentimento que Galvão quis exaltar na ocasião parece-se mais com o antigo complexo de vira-lata, mas só que repaginado: nós somos bons no que fazemos (em algumas coisas), somos amistosos, simpáticos, cordiais. É a imagem de que eles tem de nós é essa. Gostamos disso e isso nos basta.
Se quisermos amadurecer como povo e nação, esta visão distorcida - a 'Síndrome do Amigo Universal' - que encobre problemas seculares enraizados em nosso país precisa ser substituída por algo mais consistente e que traga benefícios efetivos a todo o nosso país. Para começar, poderíamos prestar mais atenção ao que escreveu Stanislaw Ponte Preta em uma de suas crônicas onde afirmava: "O brasileiro precisa parar de achar que é mais esperto que os outros". É disso que precisamos. Robin Williams não é culpado por toda a tragédia social que é o tráfico de drogas no Brasil, juntamente com a cultura da exploração sexual e violência contra mulheres. Estes problemas estão aí, apenas encobertos pela nuvem do ufanismo, do auto-engano que não nos deixa planejarmos alternativas e buscarmos saídas para estas questões. Precisamos parar de sermos os 'espertos' que apenas buscam paliativos, evitando ao máximo procurar o problema na raiz, não querendo correr os riscos e as consequências que esta atitude possa ocasionar. Enquanto não aprendermos a buscar nossos problemas a fundo, continuaremos reféns dos melindres a todos os comentários que cheguem até nós mostrando nossas feridas mais latentes, algumas abertas há séculos e ainda não totalmente cicatrizadas.
*Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
O ator americano Robin Williams em entrevista ao 'Late Show' de David Letterman fez uma piada relacionada à conquista das Olimpíadas de 2016 pelo Rio de Janeiro - o Rio desbancou fortes cidades concorrentes como Madri, Praga e Tóquio, além de Chicago. Williams disse que a cidade de Chicago enviou Oprah Winfrey e Michelle Obama nas disputa, mas o Rio de Janeiro tinha mandado 50 strippers e meio quilo de cocaína (e segundo ele isso foi uma competição injusta). A entrevista está no Youtube com inúmeros acessos e vários comentários criticando a piada do humorista.
Não é a primeira vez que os brasileiros se sentem incomodados com estereótipos que os estrangeiros associam a nós. Essas declarações, como a de Williams, são feitas por personalidades, políticos ou são então colocadas em obras de ficção, referindo-se ao Brasil ora como um lugar corrupto ou violento, ora sexualmente paradisíaco. Um episódio notável e que pode ser relacionado aos comentários equivocados de Williams é o da série animada Os Simpsons, onde a família que dá nome ao seriado vem ao Rio passear e encontra apenas uma cidade selvagem, habitada por cobras e macacos enfim, uma cidade violenta, degradada e lasciva.
Foi-se o tempo em que o brasileiro era excessivamente complexado. O jornalista e escritor Nelson Rodrigues até analisou nosso complexo de inferioridade, nossa pouca auto-estima classificando-a como 'complexo de cachorro vira-lata'. Hoje o brasileiro parece mais confiante em si e no país, mesmo com os incontáveis problemas sociais e estruturais que impedem nosso pleno desenvolvimento.
Entretanto o brasileiro ainda precisa, no geral, de indicadores externos que alavanquem sua autoconfiança numa leitura de si mesmo. Vejamos uma situação onde o sentimento de nação é mais notado - no esporte. É comum em transmissões de eventos esportivos internacionais um ufanismo nacionalista misturado com uma miopia sobre a visão que o brasileiro tem de si. Se o complexo de vira-latas é coisa do passado, agora o que reina é uma espécie de 'Síndrome do Amigo Universal'. A 'Síndrome do Amigo Universal' é o sentimento coletivo de que somos boa gente, amado por todos. Enquanto outros povos aniquilam-se em conflitos, questões territoriais, em xenofobias, massacres nós, brasileiros, vivemos harmoniosamente, cordialmente e fazemos questão de que os estrangeiros vejam estas virtudes em nós. E ficamos orgulhosos quando os outros tem esta mesma percepção. É o mito do 'homem cordial' versão globalizada, exportada para vários países.
Lembro-me de uma transmissão de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 onde o narrador Galvão Bueno comentava a boa recepção da delegação brasileira no Estádio Olímpico no dia da inauguração dos jogos. Ele asociou a relativa ovação dos atletas brasileiros pelas torcidas rivais ao 'sentimento de simpatia' que o brasileiro desperta no imaginário estrangeiro. Algo que é nato a todos nós, aquela coisa meio 'o mundo nos ama, vejam só!'. Este sentimento que Galvão quis exaltar na ocasião parece-se mais com o antigo complexo de vira-lata, mas só que repaginado: nós somos bons no que fazemos (em algumas coisas), somos amistosos, simpáticos, cordiais. É a imagem de que eles tem de nós é essa. Gostamos disso e isso nos basta.
Se quisermos amadurecer como povo e nação, esta visão distorcida - a 'Síndrome do Amigo Universal' - que encobre problemas seculares enraizados em nosso país precisa ser substituída por algo mais consistente e que traga benefícios efetivos a todo o nosso país. Para começar, poderíamos prestar mais atenção ao que escreveu Stanislaw Ponte Preta em uma de suas crônicas onde afirmava: "O brasileiro precisa parar de achar que é mais esperto que os outros". É disso que precisamos. Robin Williams não é culpado por toda a tragédia social que é o tráfico de drogas no Brasil, juntamente com a cultura da exploração sexual e violência contra mulheres. Estes problemas estão aí, apenas encobertos pela nuvem do ufanismo, do auto-engano que não nos deixa planejarmos alternativas e buscarmos saídas para estas questões. Precisamos parar de sermos os 'espertos' que apenas buscam paliativos, evitando ao máximo procurar o problema na raiz, não querendo correr os riscos e as consequências que esta atitude possa ocasionar. Enquanto não aprendermos a buscar nossos problemas a fundo, continuaremos reféns dos melindres a todos os comentários que cheguem até nós mostrando nossas feridas mais latentes, algumas abertas há séculos e ainda não totalmente cicatrizadas.
*Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
* Data da posse dos Desembargadores de Sergipe
• Desembargadora Clara Leite de Rezende (nov/1984)
• Desembargadora Marilza Maynard Salgado de Carvalho (nov/1997)
• Desembargador Roberto Eugênio da Fonseca Porto (dez/2000)
• Desembargador José Alves Neto (mar/2002)
• Desembargador Cláudio Dinart Déda Chagas (ago/2003)
• Desembargadora Célia Pinheiro Silva Menezes (out/2004)
• Desembargador Luiz Antônio Araújo Mendonça (jun/2005)
• Desembargador Cezário Siqueira Neto (dez/2005)
• Desembargadora Maria Aparecida Santos Gama da Silva (dez/2007)
• Desembargador Osório de Araújo Ramos Filho (jan/2008)
• Desembargador Netônio Bezerra Machado (mar/2008)
• Desembargador Edson Ulisses de Melo (abr/2008)
• Desembargadora Suzana Maria C. Oliveira (ago/2008)
Os nomes grifados já assumiram a presidência do TJ, o próximo Presidente será o Dr. José Alves Neto e o seguinte será o Dr. Cláudio Déda. Segue-se a ordem de nomeação no cargo. A Dra. Célia Pinheiro – na qualidade de Vice Presidente – assumiu a presidência, em profícua gestão, em razão da aposentadoria compulsória do Dr. Artêmio Barreto, então Presidente do TJ.
Alberto Magalhães
• Desembargadora Marilza Maynard Salgado de Carvalho (nov/1997)
• Desembargador Roberto Eugênio da Fonseca Porto (dez/2000)
• Desembargador José Alves Neto (mar/2002)
• Desembargador Cláudio Dinart Déda Chagas (ago/2003)
• Desembargadora Célia Pinheiro Silva Menezes (out/2004)
• Desembargador Luiz Antônio Araújo Mendonça (jun/2005)
• Desembargador Cezário Siqueira Neto (dez/2005)
• Desembargadora Maria Aparecida Santos Gama da Silva (dez/2007)
• Desembargador Osório de Araújo Ramos Filho (jan/2008)
• Desembargador Netônio Bezerra Machado (mar/2008)
• Desembargador Edson Ulisses de Melo (abr/2008)
• Desembargadora Suzana Maria C. Oliveira (ago/2008)
Os nomes grifados já assumiram a presidência do TJ, o próximo Presidente será o Dr. José Alves Neto e o seguinte será o Dr. Cláudio Déda. Segue-se a ordem de nomeação no cargo. A Dra. Célia Pinheiro – na qualidade de Vice Presidente – assumiu a presidência, em profícua gestão, em razão da aposentadoria compulsória do Dr. Artêmio Barreto, então Presidente do TJ.
Alberto Magalhães
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
* A mulher
Por Isabelle Anchieta
A cultura de meritocracia
(...) Os concursos para escolher a próxima top model multiplicam-se; as revistas insistem em ranquear a mais sexy, a mais popular, a mais bem vestida; os programas de TV selecionam "feias" e "mal-vestidas" para transformar sua estética e, supostamente, sua vida. A magreza, a juventude e a moda embalam e alimentam essa cultura social que promove uma competição destrutiva entre as mulheres. Uma competição emburrecedora, na medida em que é alicerçada em um pilar extremamente limitador para a emancipação feminina: a beleza (enquanto única alternativa de ascensão social).
Criou-se no país, assim como é o futebol para os meninos, a idéia de que a única via do feminino é a beleza – ora através de uma carreira como manequim, ora através de um marido afortunado. É por essa razão que a beleza alheia incomoda, ameaça, na medida em que retira da concorrente a sua suposta "única" alternativa de ter seu lugar ao sol. Nesse sentido, Geisy* foi julgada por um falso moralismo que traveste uma outra questão fundamental: a competição feminina.
Ser bela continua a ser a maior obrigação feminina, patrocinada agora pelas campanhas publicitárias, pela moda e pelo consumo. Uma busca pelo corpo impecável, pela bolsa invejável, pelo cabelo que brilha mais que o das outras. Um sistema que cria, via beleza, mecanismos de controle e competição extremamente limitadores da experiência humana da mulher, enquanto ser humano capaz de múltiplas experiências e transcendências. Não que eu faça aqui um discurso anticapitalista, pois foi ele o único sistema que avançou efetivamente na ruptura do feminino com suas antigas coerções (religiosas e patriarcais) através dos valores laicos e pela consolidação do imaginário social igualitário-democrático que preza pela cultura da meritocracia (ou seja, se você for bom, não importa o sexo, a cor e a etnia, você pode ascender socialmente).
Crueldade feminina volta-se contra a mulher
Claro que não chegamos a um nível de igualdade minimamente aceitável. Segundo dados da revista Exame (2009), das 100 maiores empresas no país nenhuma possui mulheres na presidência. Mas é fato também que avançamos, tanto que a mídia cumpriu, no caso de Geisy, um importante papel ao posicionar-se contra a violência sofrida pela estudante – independente do encantamento ou não de Geisy por sua visibilidade midiática. Isso não desqualifica o ato e a violência, isso não a desqualifica, como querem alguns poucos, na medida em que o acontecimento transcende uma discussão particularizada e revela os atrasos na emancipação feminina no Brasil.
Desejo, por fim, fazer com que essa reflexão não seja apenas um "puxão de orelha" para as mulheres, mas um chamado à sua consciência. Essa delicada e difícil auto-reflexão que nos leva a desvendar tanto os nossos monstros e limites, quanto a nossa cumplicidade com o sistema cultural alienante a que nosso momento histórico nos condiciona. Pois não podemos nos furtar de não considerar que somos co-responsáveis por alimentar esse sistema, e que podemos, sempre, não compactuar com ele. Não somos seres determinados, alienados, dada a nossa capacidade humana, sempre renovada, de desviar o olhar, de não se tornar objeto, de nos emanciparmos e recriarmos a nossa cultura. Pois essa crueldade feminina reverte-se, mais cedo ou mais tarde, contra cada uma de nós.
(*estudante da UNIBAN, agredida por trajar um vestido curto)
Fonte: observatóriodaimprensa.com.br
A cultura de meritocracia
(...) Os concursos para escolher a próxima top model multiplicam-se; as revistas insistem em ranquear a mais sexy, a mais popular, a mais bem vestida; os programas de TV selecionam "feias" e "mal-vestidas" para transformar sua estética e, supostamente, sua vida. A magreza, a juventude e a moda embalam e alimentam essa cultura social que promove uma competição destrutiva entre as mulheres. Uma competição emburrecedora, na medida em que é alicerçada em um pilar extremamente limitador para a emancipação feminina: a beleza (enquanto única alternativa de ascensão social).
Criou-se no país, assim como é o futebol para os meninos, a idéia de que a única via do feminino é a beleza – ora através de uma carreira como manequim, ora através de um marido afortunado. É por essa razão que a beleza alheia incomoda, ameaça, na medida em que retira da concorrente a sua suposta "única" alternativa de ter seu lugar ao sol. Nesse sentido, Geisy* foi julgada por um falso moralismo que traveste uma outra questão fundamental: a competição feminina.
Ser bela continua a ser a maior obrigação feminina, patrocinada agora pelas campanhas publicitárias, pela moda e pelo consumo. Uma busca pelo corpo impecável, pela bolsa invejável, pelo cabelo que brilha mais que o das outras. Um sistema que cria, via beleza, mecanismos de controle e competição extremamente limitadores da experiência humana da mulher, enquanto ser humano capaz de múltiplas experiências e transcendências. Não que eu faça aqui um discurso anticapitalista, pois foi ele o único sistema que avançou efetivamente na ruptura do feminino com suas antigas coerções (religiosas e patriarcais) através dos valores laicos e pela consolidação do imaginário social igualitário-democrático que preza pela cultura da meritocracia (ou seja, se você for bom, não importa o sexo, a cor e a etnia, você pode ascender socialmente).
Crueldade feminina volta-se contra a mulher
Claro que não chegamos a um nível de igualdade minimamente aceitável. Segundo dados da revista Exame (2009), das 100 maiores empresas no país nenhuma possui mulheres na presidência. Mas é fato também que avançamos, tanto que a mídia cumpriu, no caso de Geisy, um importante papel ao posicionar-se contra a violência sofrida pela estudante – independente do encantamento ou não de Geisy por sua visibilidade midiática. Isso não desqualifica o ato e a violência, isso não a desqualifica, como querem alguns poucos, na medida em que o acontecimento transcende uma discussão particularizada e revela os atrasos na emancipação feminina no Brasil.
Desejo, por fim, fazer com que essa reflexão não seja apenas um "puxão de orelha" para as mulheres, mas um chamado à sua consciência. Essa delicada e difícil auto-reflexão que nos leva a desvendar tanto os nossos monstros e limites, quanto a nossa cumplicidade com o sistema cultural alienante a que nosso momento histórico nos condiciona. Pois não podemos nos furtar de não considerar que somos co-responsáveis por alimentar esse sistema, e que podemos, sempre, não compactuar com ele. Não somos seres determinados, alienados, dada a nossa capacidade humana, sempre renovada, de desviar o olhar, de não se tornar objeto, de nos emanciparmos e recriarmos a nossa cultura. Pois essa crueldade feminina reverte-se, mais cedo ou mais tarde, contra cada uma de nós.
(*estudante da UNIBAN, agredida por trajar um vestido curto)
Fonte: observatóriodaimprensa.com.br
domingo, 15 de novembro de 2009
* Educação, bananas e Veja
Por Marcos Vinicius Gomes*
"É o estado que está fazendo porcaria, não o mercado. O que não quer dizer que não haja mercadistas nessa história, que ganhariam dinheiro vendendo educação ou bananas. Não tenho nada contra, uma vez que há quem queira comprar bananas e há quem queira comprar educação. Mas o estado não pode subsidiar uma banana ruim. Assim como não pode subsidiar uma educação ruim. Aliás, o estado não tem de subsidiar nem banana boa!"
Reinaldo Azevedo em seu blog, 14/11/2009
Com esta análise mercadológico-educacional, Reinaldo Azevedo comenta em seu blog questões sobre ensino. A bola foi levantada por uma aluna de uma universidade que enviou em e-mail para o jornalista, criticando a mídia por desqualificar estudantes de instituições particulares de ensino superior.
Reinaldo responde à aluna, dizendo que com seu texto 'levaria pau' quando ele era professor de português. Mas ele não é mais professor de português e agora dedica-se a ensinar a classe média e a comentar sobre a realidade brasileira sob uma ótica ultra-direitista e radical, mostrando um certo preconceito de classe. Ele continua sua 'análise educacional', evidentemente com seu jeito, digamos, 'aguerrido'. Critica o governo atual, pautado, segundo ele, por um 'petismo vagabundo' que estaria desvirtuando o ensino superior distribuindo bolsas do ProUni a 'garçons, taxistas e manicures'. Continua seus arroubos dizendo que "está se oferecendo uma universidade que não oferece vida universitária", diz que "em vez de se abrir um novo horizonte a pessoas vindas de ambientes um tanto acanhados intelectualmente (parece-me que aqui ele está se referindo aos leitores incondicionais de Veja) há instituições por aí que estão apenas referendando esse acanhamento. E a esquerda aplaude — ou parte dela ao menos."
Por fim , Tio Rei, como é conhecido entre seu fiel público, fecha esse 'tratado educacional' com o seguinte impropério:
"O dinheiro que sustenta essa farra não estaria sendo aplicado com mais eficiência num ensino técnico de qualidade, por exemplo? Posso apostar que sim. Nem quero aqui ficar fazendo aquela oposição clássica — ou que já virou um clichê — entre quantidade e qualidade. Já nem se trata mais disso. (...)"
Fiquemos por aqui. Parece que após Otávio Frias Filho endossar em seu periódioco Folha a afirmação que no Brasil houve uma ditadura branda (ou ditabranda), Reinaldo volta ao passado nebuloso dos anos de chumbo, espalhando pelos quatro cantos do Brasil uma mentalidade, uma ideologia educacional obtusa e segregacionista que diz o seguinte :"Ensino superior apenas para a elite, para o proletariado cursos técnicos para uma rápida insersão no mercado de trabalho". Afinal, para que a ralé precisa de conhecimento - digo conhecimento no sentido estrito do terno, conhecimento transformador da realidade, embasado em ideais humanistas - se com apenas um curso técnico ou então , com muita boa vontade, um curso superior tecnólogo no Cefet ou na Fatec paulista, os filhos 'do povo' estarão bem qualificados e ganhando bem no mercado de trabalho cada vez mais competitivo? Para que ter um ensino crítico (notório que existem cursos superiores ruins que devem ser fiscalizados por estarem oferecendo um ensino sofrível) se temos formadores de opinião tão qualificados, intelectuais tão notórios como Demétrio Magnoli ("A escravidão no Brasil foi democrática"), como Jô Soares( 'a vaca sagrada da classe média brasileira') ou então jornalistas como Ali Kamel ("Não somos racistas"), Mainardi e o próprio Reinaldo Azevedo que, com sua 'perspicácia' e 'análises lúcidas' formam o time de 'vestais do pensamento nacional' do qual não temos do que nos envergonhar? Eles bastam para que estejamos bem equipados em questões reflexivas e despendam um pouco de tempo e raciocínio.
O utilitarismo educacional de Reinaldo Azevedo é pautado na ideologia educacional reinante na época da ditadura militar. Ali a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 5692/71 foi embasada na crença de que 'os meios , planejados, controlados adequadamente são suficientes para resultados eficientes'.Essa LDB sugeria um ensino taylorista, direcionado com vistas à 'otimização e eficiência' (termos tão recorrentes ultimamente e associados ao meio corporativo). É um ensino reprodutor do establishment , bancário (conceito de Paulo Freire, educador desprezado por Veja), que incentiva a verticalização social, onde apenas os que conseguissem vencer 'pelos méritos próprios' teriam direito ao ensino de qualidade, fosse técnico ou superior. A LDB 5692/71 foi substituida pela LDB nº 9394/96, já na era democrática, regida por ideais democráticos.
Reinaldo Azevedo e parte da direita, raivosa com os avanços sociais alcançados nos últimos anos, descontente com a melhor distribuição de renda, indignada com o crescimento do país liderado pelo 'presidente inculto', parecem estar desesperados ao evocar, mesmo que de forma indireta, a ideologia que formatou a LDB dos tempos militares. Isso mostra o quanto a mentalidade de nossa elite pode criar quando está perdendo o jogo. Para o ilustre jornalista, nem bananas (deixo a critério da imaginação dos leitores para decifrar o termo) devem ser servidas pelo Estado ao cidadão.
Qual o próximo passo? Editoriais clamando a expansão de vagas no Cefet , na Fatec ou da USP-Leste, com seus cursos 'para pobres', para que o proletariado fique satisfeito com empregos técnicos bem remunerados em multinacionais e pare de exigir o direito ao ensino público de qualidade? Ou quem sabe talvez reproduzir em Veja o pensamento educacional de José Goldenberg, ex-ministro da educação que refutava o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) por considerar que ensino para adultos referia-se a 'analfabetos' e que pessoas nessa condição ('analfabetos') já tinham construído um bom lugar na sociedade, sendo de pouca valia investir neles para reverter a situação de penúria educacional. Tradiuzindo , para Goldenberg , o analfabetismo seria eliminado com investimento na educação dos filhos dos analfabetos e com a eliminação natural do analfabetismo no Brasil, a saber, com o deaparecimento cronológico dos analfabetos...Se um Ministro pode ter tal concepção distorcida de ensino, porque então nos espantarmos com o pensamento retrógado de um jornalista a serviço da direita que parece ter perdido o foco?
* Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
"É o estado que está fazendo porcaria, não o mercado. O que não quer dizer que não haja mercadistas nessa história, que ganhariam dinheiro vendendo educação ou bananas. Não tenho nada contra, uma vez que há quem queira comprar bananas e há quem queira comprar educação. Mas o estado não pode subsidiar uma banana ruim. Assim como não pode subsidiar uma educação ruim. Aliás, o estado não tem de subsidiar nem banana boa!"
Reinaldo Azevedo em seu blog, 14/11/2009
Com esta análise mercadológico-educacional, Reinaldo Azevedo comenta em seu blog questões sobre ensino. A bola foi levantada por uma aluna de uma universidade que enviou em e-mail para o jornalista, criticando a mídia por desqualificar estudantes de instituições particulares de ensino superior.
Reinaldo responde à aluna, dizendo que com seu texto 'levaria pau' quando ele era professor de português. Mas ele não é mais professor de português e agora dedica-se a ensinar a classe média e a comentar sobre a realidade brasileira sob uma ótica ultra-direitista e radical, mostrando um certo preconceito de classe. Ele continua sua 'análise educacional', evidentemente com seu jeito, digamos, 'aguerrido'. Critica o governo atual, pautado, segundo ele, por um 'petismo vagabundo' que estaria desvirtuando o ensino superior distribuindo bolsas do ProUni a 'garçons, taxistas e manicures'. Continua seus arroubos dizendo que "está se oferecendo uma universidade que não oferece vida universitária", diz que "em vez de se abrir um novo horizonte a pessoas vindas de ambientes um tanto acanhados intelectualmente (parece-me que aqui ele está se referindo aos leitores incondicionais de Veja) há instituições por aí que estão apenas referendando esse acanhamento. E a esquerda aplaude — ou parte dela ao menos."
Por fim , Tio Rei, como é conhecido entre seu fiel público, fecha esse 'tratado educacional' com o seguinte impropério:
"O dinheiro que sustenta essa farra não estaria sendo aplicado com mais eficiência num ensino técnico de qualidade, por exemplo? Posso apostar que sim. Nem quero aqui ficar fazendo aquela oposição clássica — ou que já virou um clichê — entre quantidade e qualidade. Já nem se trata mais disso. (...)"
Fiquemos por aqui. Parece que após Otávio Frias Filho endossar em seu periódioco Folha a afirmação que no Brasil houve uma ditadura branda (ou ditabranda), Reinaldo volta ao passado nebuloso dos anos de chumbo, espalhando pelos quatro cantos do Brasil uma mentalidade, uma ideologia educacional obtusa e segregacionista que diz o seguinte :"Ensino superior apenas para a elite, para o proletariado cursos técnicos para uma rápida insersão no mercado de trabalho". Afinal, para que a ralé precisa de conhecimento - digo conhecimento no sentido estrito do terno, conhecimento transformador da realidade, embasado em ideais humanistas - se com apenas um curso técnico ou então , com muita boa vontade, um curso superior tecnólogo no Cefet ou na Fatec paulista, os filhos 'do povo' estarão bem qualificados e ganhando bem no mercado de trabalho cada vez mais competitivo? Para que ter um ensino crítico (notório que existem cursos superiores ruins que devem ser fiscalizados por estarem oferecendo um ensino sofrível) se temos formadores de opinião tão qualificados, intelectuais tão notórios como Demétrio Magnoli ("A escravidão no Brasil foi democrática"), como Jô Soares( 'a vaca sagrada da classe média brasileira') ou então jornalistas como Ali Kamel ("Não somos racistas"), Mainardi e o próprio Reinaldo Azevedo que, com sua 'perspicácia' e 'análises lúcidas' formam o time de 'vestais do pensamento nacional' do qual não temos do que nos envergonhar? Eles bastam para que estejamos bem equipados em questões reflexivas e despendam um pouco de tempo e raciocínio.
O utilitarismo educacional de Reinaldo Azevedo é pautado na ideologia educacional reinante na época da ditadura militar. Ali a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 5692/71 foi embasada na crença de que 'os meios , planejados, controlados adequadamente são suficientes para resultados eficientes'.Essa LDB sugeria um ensino taylorista, direcionado com vistas à 'otimização e eficiência' (termos tão recorrentes ultimamente e associados ao meio corporativo). É um ensino reprodutor do establishment , bancário (conceito de Paulo Freire, educador desprezado por Veja), que incentiva a verticalização social, onde apenas os que conseguissem vencer 'pelos méritos próprios' teriam direito ao ensino de qualidade, fosse técnico ou superior. A LDB 5692/71 foi substituida pela LDB nº 9394/96, já na era democrática, regida por ideais democráticos.
Reinaldo Azevedo e parte da direita, raivosa com os avanços sociais alcançados nos últimos anos, descontente com a melhor distribuição de renda, indignada com o crescimento do país liderado pelo 'presidente inculto', parecem estar desesperados ao evocar, mesmo que de forma indireta, a ideologia que formatou a LDB dos tempos militares. Isso mostra o quanto a mentalidade de nossa elite pode criar quando está perdendo o jogo. Para o ilustre jornalista, nem bananas (deixo a critério da imaginação dos leitores para decifrar o termo) devem ser servidas pelo Estado ao cidadão.
Qual o próximo passo? Editoriais clamando a expansão de vagas no Cefet , na Fatec ou da USP-Leste, com seus cursos 'para pobres', para que o proletariado fique satisfeito com empregos técnicos bem remunerados em multinacionais e pare de exigir o direito ao ensino público de qualidade? Ou quem sabe talvez reproduzir em Veja o pensamento educacional de José Goldenberg, ex-ministro da educação que refutava o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) por considerar que ensino para adultos referia-se a 'analfabetos' e que pessoas nessa condição ('analfabetos') já tinham construído um bom lugar na sociedade, sendo de pouca valia investir neles para reverter a situação de penúria educacional. Tradiuzindo , para Goldenberg , o analfabetismo seria eliminado com investimento na educação dos filhos dos analfabetos e com a eliminação natural do analfabetismo no Brasil, a saber, com o deaparecimento cronológico dos analfabetos...Se um Ministro pode ter tal concepção distorcida de ensino, porque então nos espantarmos com o pensamento retrógado de um jornalista a serviço da direita que parece ter perdido o foco?
* Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
* Liberdade de Imprensa? ANJ e jornais aderem à “Declaração de Hamburgo” em assembléia da SIP
11/11/2009
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizou em Buenos Aires, de 6 a 10 de novembro, sua 65ª assembleia geral. Nela a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Folha de São Paulo e O Globo aderiram à "Declaração de Hamburgo", que pleiteia o respeito à propriedade intelectual para textos jornalísticos reproduzidos na internet. Parlamentares, sindicalistas e intelectuais que participaram do Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina criticaram o evento patronal.
Na 65ª assembleia da SIP, repleta de posições contrárias aos governos de esquerda da América Latina e focada em leis que afetam os meios de comunicação, foram combatidas medidas como a recente aprovação da Lei de Mídia argentina, que restringe a atuação dos grupos de comunicação no país e uma legislação sobre comunicação em trâmite no Equador. A mesma SIP tentou influenciar, há aproximadamente dois meses, o processo de construção da I Conferência Nacional de Comunicação brasileira.
A voz do dono
Mereceu destaque, na cobertura jornalística do evento, uma leitura comparativa do “ranking da liberdade de imprensa” da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), de 2002 a 2009. No relatório da ONG, que é apontada por seus críticos como fiel escudeira dos interesses das principais potenciais econômicas européias e dos Estados Unidos, no continente americano quem se destacou nos ataques contra a liberdade de imprensa foram a Venezuela, Honduras, Bolívia, Equador e Argentina. Ainda segundo tal relatório, neste período – relembrando, “de 2002 a 2009” – o Brasil caiu da 54ª para a 71ª posição no ranking internacional.
Eles se preocupam com o Brasil
Diversos veículos divulgaram a “preocupação” da SIP com o Brasil. Segundo matéria veiculada no site Comunique-se, tal preocupação refere-se ao “aumento de casos de censura e de ações judiciais contra meios de comunicação no Brasil”. A matéria informa, também, que “Segundo Sidnei Basile, da Abril, que apresentou o relatório sobre a situação brasileira, além do caso de censura ao Estadão, o fim da exigência de diploma de jornalismo para o exercício da profissão também causa preocupação”.
Direitos autorais de quem?
Já na Folha de São Paulo, editada pela empresa Folha da Manhã, cuja diretora-superintendente, Judith Brito, é também presidente da ANJ, um dos destaques da cobertura à assembléia da SIP foi quanto à "Declaração de Hamburgo", lançada em junho, “após encontro do Conselho Europeu de Publishers e da Associação Mundial de Jornais” e que agora conta com a adesão da Folha, ANJ e O Globo. Curiosamente, tal matéria foi “reproduzida” em diversos veículos e sites de todo o país.
A crítica do alemão Florian Nehm, representante do Conselho Europeu de Publishers (EPC), ao fato de a maioria dos países ainda não ter adaptado suas legislações à “necessidade de proteger a propriedade intelectual na internet” teve grande divulgação. Segundo ele, "a independência econômica é condição prévia para o jornalismo independente". O reclame é em defesa da "necessidade de uma distribuição justa e equitativa dos ganhos gerados pela distribuição de conteúdo de empresas jornalísticas por agregadores de notícias, como o Google News". E não faltou o argumento de que a “conseqüência imediata” da “ausência de ganhos pela distribuição do conteúdo jornalístico na internet” é a demissão de pessoal.
Diante de tal cobertura, e do fato de muitas empresas utilizarem em diversos veículos o material produzido pelos jornalistas, o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, reagiu. “Cabe perguntar se a preocupação empresarial vai se estender para o pagamento de direitos autorais dos jornalistas e se a prática da superexploração do trabalho vai ser superada, inclusive com o fim das pressões por flexiblização da legislação trabalhista e das práticas de precarização”, disse.
Outro lado
A ofensiva da mídia conservadora teve, no dia 9 de novembro, uma contra-ofensiva. O Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina - proposto pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez - discutiu "a situação dos meios na América Latina" e "os monopólios midiáticos e a uniformização da opinião pública".
O encontro paralelo ao da SIP teve a participação de legisladores, sindicalistas e acadêmicos da Argentina, Uruguai, Brasil, Venezuela, Colômbia e Honduras. Na avaliação dos participantes, a SIP ajuda a promover ações autoritárias nos meios de comunicação da região.
Fonte: Fenaj.org.br
Com informações do Comunique-se, FSP e Agência ADITAL.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizou em Buenos Aires, de 6 a 10 de novembro, sua 65ª assembleia geral. Nela a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Folha de São Paulo e O Globo aderiram à "Declaração de Hamburgo", que pleiteia o respeito à propriedade intelectual para textos jornalísticos reproduzidos na internet. Parlamentares, sindicalistas e intelectuais que participaram do Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina criticaram o evento patronal.
Na 65ª assembleia da SIP, repleta de posições contrárias aos governos de esquerda da América Latina e focada em leis que afetam os meios de comunicação, foram combatidas medidas como a recente aprovação da Lei de Mídia argentina, que restringe a atuação dos grupos de comunicação no país e uma legislação sobre comunicação em trâmite no Equador. A mesma SIP tentou influenciar, há aproximadamente dois meses, o processo de construção da I Conferência Nacional de Comunicação brasileira.
A voz do dono
Mereceu destaque, na cobertura jornalística do evento, uma leitura comparativa do “ranking da liberdade de imprensa” da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), de 2002 a 2009. No relatório da ONG, que é apontada por seus críticos como fiel escudeira dos interesses das principais potenciais econômicas européias e dos Estados Unidos, no continente americano quem se destacou nos ataques contra a liberdade de imprensa foram a Venezuela, Honduras, Bolívia, Equador e Argentina. Ainda segundo tal relatório, neste período – relembrando, “de 2002 a 2009” – o Brasil caiu da 54ª para a 71ª posição no ranking internacional.
Eles se preocupam com o Brasil
Diversos veículos divulgaram a “preocupação” da SIP com o Brasil. Segundo matéria veiculada no site Comunique-se, tal preocupação refere-se ao “aumento de casos de censura e de ações judiciais contra meios de comunicação no Brasil”. A matéria informa, também, que “Segundo Sidnei Basile, da Abril, que apresentou o relatório sobre a situação brasileira, além do caso de censura ao Estadão, o fim da exigência de diploma de jornalismo para o exercício da profissão também causa preocupação”.
Direitos autorais de quem?
Já na Folha de São Paulo, editada pela empresa Folha da Manhã, cuja diretora-superintendente, Judith Brito, é também presidente da ANJ, um dos destaques da cobertura à assembléia da SIP foi quanto à "Declaração de Hamburgo", lançada em junho, “após encontro do Conselho Europeu de Publishers e da Associação Mundial de Jornais” e que agora conta com a adesão da Folha, ANJ e O Globo. Curiosamente, tal matéria foi “reproduzida” em diversos veículos e sites de todo o país.
A crítica do alemão Florian Nehm, representante do Conselho Europeu de Publishers (EPC), ao fato de a maioria dos países ainda não ter adaptado suas legislações à “necessidade de proteger a propriedade intelectual na internet” teve grande divulgação. Segundo ele, "a independência econômica é condição prévia para o jornalismo independente". O reclame é em defesa da "necessidade de uma distribuição justa e equitativa dos ganhos gerados pela distribuição de conteúdo de empresas jornalísticas por agregadores de notícias, como o Google News". E não faltou o argumento de que a “conseqüência imediata” da “ausência de ganhos pela distribuição do conteúdo jornalístico na internet” é a demissão de pessoal.
Diante de tal cobertura, e do fato de muitas empresas utilizarem em diversos veículos o material produzido pelos jornalistas, o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, reagiu. “Cabe perguntar se a preocupação empresarial vai se estender para o pagamento de direitos autorais dos jornalistas e se a prática da superexploração do trabalho vai ser superada, inclusive com o fim das pressões por flexiblização da legislação trabalhista e das práticas de precarização”, disse.
Outro lado
A ofensiva da mídia conservadora teve, no dia 9 de novembro, uma contra-ofensiva. O Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina - proposto pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez - discutiu "a situação dos meios na América Latina" e "os monopólios midiáticos e a uniformização da opinião pública".
O encontro paralelo ao da SIP teve a participação de legisladores, sindicalistas e acadêmicos da Argentina, Uruguai, Brasil, Venezuela, Colômbia e Honduras. Na avaliação dos participantes, a SIP ajuda a promover ações autoritárias nos meios de comunicação da região.
Fonte: Fenaj.org.br
Com informações do Comunique-se, FSP e Agência ADITAL.
* A internet cria uma nova unidade básica no jornalismo contemporâneo
Por Carlos Castilho
Durante décadas, a unidade básica ou o padrão de referência para o jornalismo, era o jornal, uma instituição física. Depois, já no final do século XIX, a unidade passou a ser a notícia. Na metade do século XX, o jornalista profissional tornou-se o ponto de referência e agora, no início da era digital, o pilar do jornalismo passou a ser o tema.
Noutras palavras: nos primórdios do jornalismo, você comprava o jornal, um bem físico definido pelo seu título, pelo seu dono e seus vínculos sociais e econômicos. Havia uma fidelidade a uma instituição. Quando a notícia tornou-se a referência, os leitores passaram a comprar jornais em função da atualidade. O “furo jornalístico” classificava quem era o melhor jornal.
O advento da televisão e da rádio reduziu em muito a capacidade dos jornais produzirem furos que o colocavam em vantagem sobre os concorrentes. Por isto, a autoria transformou-se no maior diferencial na venda de conteúdos informativos. Foi a época em que surgiram as grandes grifes jornalísticas e os jornais se esforçavam ao máximo para ter o maior número possível de assinaturas prestigiadas.
Mas ai veio e internet provocando uma nova mudança nos parâmetros definidores do patrimônio mais valorizado de uma empresa jornalística. A nova tendência começou a definir-se muito recentemente quando ficou claro que os leitores vão atrás de temas e não mais de autores, notícias ou instituições.
Uma pesquisa recente do jornal The New York Times mostrou que é cada vez maior o número de leitores que acessam diretamente as páginas de blogs especializados, que de alguma forma poderiam ser equiparados às seções ou editorias nas redações convencionais. A diferença é que as editorias sempre foram decididas pela chefia de redação enquanto no caso das publicações online, a definição fica por conta da demanda do público.
Com isto as páginas de abertura, estilo portal, e caracterizadas por uma vitrine do conteúdo global do site, perdem muito de sua relevância pois deixam de ser uma passagem obrigatória ou o chamariz para temas internos. A instituição (página) deixou de ser o destino final pois os índices de visitação passaram a ser definidos mais em função do fim da linha (blogs especializados).
Cada leitor cria uma espécie de cardápio individual de referências informativas em função de suas preferências. Este menu noticioso pode ser extremamente flexível e mutável, ao contrario dos padrões anteriores, caracterizados por fidelidades e hábitos estáveis.
A opção por temas na hora de eleger as instituições onde buscará elementos para seu cardápio informativo evidentemente incorpora padrões anteriores. A instituição jornal ainda é uma das mais valorizadas na escolha de uma fonte informativa, da mesma forma que a atualidade, originalidade e contextualização da notícia continuam sendo fatores que entram na composição das opções informativas do público. O mesmo acontece com as grifes jornalísticas, que seguem sendo uma referência importante na aferição de credibilidades.
Todos estes fatores convergem agora para a seleção de temas, cuja variedade caracteriza o norte-americano Chris Anderson classificou de “nichos informativos”, ou seja, segmentos do público com interesses altamente específicos. Os nichos noticiosos se especializaram na busca, processamento e publicação de temas que jamais entrariam na consideração do editor chefe de um jornal médio. Duzentas pessoas viabilizam um nicho noticioso na Web, mas dificilmente justificariam a criação de uma área especializada num jornal.
A existência de tantos nichos informativos baseados em temas obriga as instituições produtoras de conteúdos a trabalhar com colaboradores , ou, para usar o economês, conteúdos “terceirizados”. É inviável financeiramente diversificar conteúdos com base em produção própria, porque ela sempre sairá mais cara que a produzida pelo aficionado.
É claro que algumas empresas acham que o conteúdo próprio é um ativo valorizado porque ainda acreditam que as pessoas consomem notícias em função apenas da marca (título) ou da assinatura. Mas a realidade está se encarregando de mostrar o equívoco desta concepção. A tendência é os conteúdos serem produzidos cada vez mais pelos nichos cabendo às instituições, no caso jornais, rádios, televisões ou portais online preocupar-se majoritariamente com a formação da rede de usuários e com o suporte técnico.
Fonte: portal ig
Durante décadas, a unidade básica ou o padrão de referência para o jornalismo, era o jornal, uma instituição física. Depois, já no final do século XIX, a unidade passou a ser a notícia. Na metade do século XX, o jornalista profissional tornou-se o ponto de referência e agora, no início da era digital, o pilar do jornalismo passou a ser o tema.
Noutras palavras: nos primórdios do jornalismo, você comprava o jornal, um bem físico definido pelo seu título, pelo seu dono e seus vínculos sociais e econômicos. Havia uma fidelidade a uma instituição. Quando a notícia tornou-se a referência, os leitores passaram a comprar jornais em função da atualidade. O “furo jornalístico” classificava quem era o melhor jornal.
O advento da televisão e da rádio reduziu em muito a capacidade dos jornais produzirem furos que o colocavam em vantagem sobre os concorrentes. Por isto, a autoria transformou-se no maior diferencial na venda de conteúdos informativos. Foi a época em que surgiram as grandes grifes jornalísticas e os jornais se esforçavam ao máximo para ter o maior número possível de assinaturas prestigiadas.
Mas ai veio e internet provocando uma nova mudança nos parâmetros definidores do patrimônio mais valorizado de uma empresa jornalística. A nova tendência começou a definir-se muito recentemente quando ficou claro que os leitores vão atrás de temas e não mais de autores, notícias ou instituições.
Uma pesquisa recente do jornal The New York Times mostrou que é cada vez maior o número de leitores que acessam diretamente as páginas de blogs especializados, que de alguma forma poderiam ser equiparados às seções ou editorias nas redações convencionais. A diferença é que as editorias sempre foram decididas pela chefia de redação enquanto no caso das publicações online, a definição fica por conta da demanda do público.
Com isto as páginas de abertura, estilo portal, e caracterizadas por uma vitrine do conteúdo global do site, perdem muito de sua relevância pois deixam de ser uma passagem obrigatória ou o chamariz para temas internos. A instituição (página) deixou de ser o destino final pois os índices de visitação passaram a ser definidos mais em função do fim da linha (blogs especializados).
Cada leitor cria uma espécie de cardápio individual de referências informativas em função de suas preferências. Este menu noticioso pode ser extremamente flexível e mutável, ao contrario dos padrões anteriores, caracterizados por fidelidades e hábitos estáveis.
A opção por temas na hora de eleger as instituições onde buscará elementos para seu cardápio informativo evidentemente incorpora padrões anteriores. A instituição jornal ainda é uma das mais valorizadas na escolha de uma fonte informativa, da mesma forma que a atualidade, originalidade e contextualização da notícia continuam sendo fatores que entram na composição das opções informativas do público. O mesmo acontece com as grifes jornalísticas, que seguem sendo uma referência importante na aferição de credibilidades.
Todos estes fatores convergem agora para a seleção de temas, cuja variedade caracteriza o norte-americano Chris Anderson classificou de “nichos informativos”, ou seja, segmentos do público com interesses altamente específicos. Os nichos noticiosos se especializaram na busca, processamento e publicação de temas que jamais entrariam na consideração do editor chefe de um jornal médio. Duzentas pessoas viabilizam um nicho noticioso na Web, mas dificilmente justificariam a criação de uma área especializada num jornal.
A existência de tantos nichos informativos baseados em temas obriga as instituições produtoras de conteúdos a trabalhar com colaboradores , ou, para usar o economês, conteúdos “terceirizados”. É inviável financeiramente diversificar conteúdos com base em produção própria, porque ela sempre sairá mais cara que a produzida pelo aficionado.
É claro que algumas empresas acham que o conteúdo próprio é um ativo valorizado porque ainda acreditam que as pessoas consomem notícias em função apenas da marca (título) ou da assinatura. Mas a realidade está se encarregando de mostrar o equívoco desta concepção. A tendência é os conteúdos serem produzidos cada vez mais pelos nichos cabendo às instituições, no caso jornais, rádios, televisões ou portais online preocupar-se majoritariamente com a formação da rede de usuários e com o suporte técnico.
Fonte: portal ig
sábado, 7 de novembro de 2009
* A Aristocracia do poder paralelo
Por Marcos Vinicius Gomes
É consenso que a criminalidade do Rio de Janeiro associada ao tráfico de drogas cresceu demasiado durante os anos oitenta, inicialmente durante o governo de Leonel Brizola. Atribui-se a ele o desleixo e a conivência que resultaram no aumento do controle dos morros por traficantes que assumiram funções inicialmente atribuídas ao Estado. Mas relacionar o enraizamento da criminalidade carioca diretamente unicamente à administração Brizola no meu entender é precipitado.
O texto de Marques (autor do texto postado abaixo*) associa algumas vezes os traficantes à aristocracia - os traficantes seriam os reis dos morros, ocupando um lugar deixado pelo Estado. Mas nessa ‘aristocracia’ existe um componente que parece estar ligado à idéia de cidade estado, bem anterior aos anos mais recentes. O Rio foi capital do Brasil durante cento e cinqüenta anos, criou-se ali uma sociedade verticalizada com aristocratas, uma pequena burguesia, burocratas, homens livres e escravos.
Com o fim do império e da escravidão já um ano antes, a cidade transformou-se em metrópole na virada do século com obras de infra-estrutura, saneamento. Com o Estado Novo de Vargas ainda prevalecia um ar aristocrático na cidade, não esta aristocracia formal que conhecemos e que teoricamente acabou no Brasil, mas algo que tem a ver com a mentalidade da população da cidade em si. Além disso, é notório ter sido o Rio o celeiro cultural mais latente do país. O escritor que quisesse fazer sucesso teria que estar no Rio, assim como um cantor, um ator que não fosse nativo dali. O Rio era (e ainda é a porta de entrada nacional, cartão postal ao mundo).
O carioca é orgulhoso de sua cidade, o que não poderia deixar de ser, mas como em outras partes do Brasil o orgulho pode se tornar ufanismo utópico, talvez catastrófico, algo que já vem desde tempos de Cabral e da carta de Pero Vaz de Caminha. Deste ufanismo vem certo cinismo que é notado de tempos em tempos em atitudes que deveriam envergonhar qualquer um. Peguemos as passeatas “classe média alta’ pela paz em Copacabana (ou então na Avenida Paulista em São Paulo) com seus integrantes vestindo branco e soltando balões, muitos deles usuários ‘sociais de drogas que mascaram seus atos de alienação com intenções sublimes e altruístas. São neo-aristocratas da sociedade verticalizada, da carteirada, do argumento ‘sabe com quem está falando? ‘, da cultura do ‘faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Um outro referencial ‘aristocrático’ do Rio de Janeiro é o carnaval, muitas das vezes maculado com parcerias obscuras de dirigentes de escolas de samba bicheiros e outros contraventores numa harmonia invejável que aglutinam o sonho, a fantasia, a criminalidade e a omissão num só pacote. Carnaval este que para Roberto da Mata carrega algo de catarse, purificador, libertador para aqueles que estavam debaixo da pirâmide aristocrática opressora, verticalizada e escravista da capital da República em tempos antigos.
Quando da mudança da capital para Brasília em 1960, o Rio tem tentado manter a aura de glamour aristocrático que cingiu a cidade desde a chegada de D.João VI no início do século 19. Mas a capital antiga já não conseguiria manter-se no patamar de antes, os burocratas mudaram-se de endereço (que fariam parte de uma ‘aristocracia moderna’), os recursos rarearam, a cidade empobreceu e sem referencial industrial e de prestação de serviços entrou em certo declínio, dependendo apenas do turismo interno e externo, além de sua grande indústria do entretenimento/turismo conhecida como carnaval carioca.
Há indicadores aristocráticos até na polícia do Rio de Janeiro. O exemplo mais notório é o BOPE – batalhão de elite que carrega a pretensão de formar guerreiros urbanos, armados fortemente para defender a sociedade de criminosos perigosos. É mais um dentre outros tantos grupos de elite policial que, numa democracia, reforçam o fator exclusivista da segurança pública, segregacionista, injusta, onde poucos podem usufruir de seu serviço, visto que é de elite. Os recursos para o batalhão são superiores aos grupos policiais ‘comuns’. E onde há exclusão, há a disseminação da política do compadrio, do desrespeito ao mérito e evidente da corrupção.
Voltando ao principal tema, o da violência e de seus atores, tomemos mais uma vez o traficante. Herói de um chão sem lei (sem Estado) arroga e evoca para si o papel de defensor da causa miserável, prestando serviços aos moradores desassistidos destes locais onde impera a lei do mais forte. Autoproclamado líder, assume poderes de déspota, impondo a censura, o terror, a ‘justiça’ paralela. Como príncipes, vivem como sultões num chão de impiedade, às vezes têm laços com políticos, representantes da justiça brasileira, empresários, artistas. Como disse o texto de Marques, são reis nas comunidades, reverenciados por aqueles esquecidos pelo Estado que por sua vez se esqueceu que sua razão de ser é servir o cidadão, independente do quanto de influencia e poder este possa ter.
Evidentemente que na luta contra o tráfico deve-se combatê-lo com as mais eficientes estratégias na busca da extinção da chaga que o comércio de drogas representa à sociedade. A logística, o uso de inteligência são essenciais para o combate aos ‘barões do pó’. Mas, também há que se pensar de modo estrutural, observando-se os vetores que alavancaram este triste capítulo na história do Rio de Janeiro (e também na de outras capitais e cidades brasileiras) sob um olhar crítico histórico-social. Não é pretensão de beletrismo, perfumaria sociológica, mas a análise profunda dos problemas que necessitam ser estudados e combatidos com mais afinco e competência numa cidade (e num país) que irá sediar um evento mundial importante como as Olimpíadas de 2016, evento que necessita de estruturas de segurança bem organizadas. Para isso o Rio precisa se modernizar, a começar pela mentalidade aristocrática que ainda ronda a cidade maravilhosa e seus habitantes cariocas.
*nota do blog
É consenso que a criminalidade do Rio de Janeiro associada ao tráfico de drogas cresceu demasiado durante os anos oitenta, inicialmente durante o governo de Leonel Brizola. Atribui-se a ele o desleixo e a conivência que resultaram no aumento do controle dos morros por traficantes que assumiram funções inicialmente atribuídas ao Estado. Mas relacionar o enraizamento da criminalidade carioca diretamente unicamente à administração Brizola no meu entender é precipitado.
O texto de Marques (autor do texto postado abaixo*) associa algumas vezes os traficantes à aristocracia - os traficantes seriam os reis dos morros, ocupando um lugar deixado pelo Estado. Mas nessa ‘aristocracia’ existe um componente que parece estar ligado à idéia de cidade estado, bem anterior aos anos mais recentes. O Rio foi capital do Brasil durante cento e cinqüenta anos, criou-se ali uma sociedade verticalizada com aristocratas, uma pequena burguesia, burocratas, homens livres e escravos.
Com o fim do império e da escravidão já um ano antes, a cidade transformou-se em metrópole na virada do século com obras de infra-estrutura, saneamento. Com o Estado Novo de Vargas ainda prevalecia um ar aristocrático na cidade, não esta aristocracia formal que conhecemos e que teoricamente acabou no Brasil, mas algo que tem a ver com a mentalidade da população da cidade em si. Além disso, é notório ter sido o Rio o celeiro cultural mais latente do país. O escritor que quisesse fazer sucesso teria que estar no Rio, assim como um cantor, um ator que não fosse nativo dali. O Rio era (e ainda é a porta de entrada nacional, cartão postal ao mundo).
O carioca é orgulhoso de sua cidade, o que não poderia deixar de ser, mas como em outras partes do Brasil o orgulho pode se tornar ufanismo utópico, talvez catastrófico, algo que já vem desde tempos de Cabral e da carta de Pero Vaz de Caminha. Deste ufanismo vem certo cinismo que é notado de tempos em tempos em atitudes que deveriam envergonhar qualquer um. Peguemos as passeatas “classe média alta’ pela paz em Copacabana (ou então na Avenida Paulista em São Paulo) com seus integrantes vestindo branco e soltando balões, muitos deles usuários ‘sociais de drogas que mascaram seus atos de alienação com intenções sublimes e altruístas. São neo-aristocratas da sociedade verticalizada, da carteirada, do argumento ‘sabe com quem está falando? ‘, da cultura do ‘faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Um outro referencial ‘aristocrático’ do Rio de Janeiro é o carnaval, muitas das vezes maculado com parcerias obscuras de dirigentes de escolas de samba bicheiros e outros contraventores numa harmonia invejável que aglutinam o sonho, a fantasia, a criminalidade e a omissão num só pacote. Carnaval este que para Roberto da Mata carrega algo de catarse, purificador, libertador para aqueles que estavam debaixo da pirâmide aristocrática opressora, verticalizada e escravista da capital da República em tempos antigos.
Quando da mudança da capital para Brasília em 1960, o Rio tem tentado manter a aura de glamour aristocrático que cingiu a cidade desde a chegada de D.João VI no início do século 19. Mas a capital antiga já não conseguiria manter-se no patamar de antes, os burocratas mudaram-se de endereço (que fariam parte de uma ‘aristocracia moderna’), os recursos rarearam, a cidade empobreceu e sem referencial industrial e de prestação de serviços entrou em certo declínio, dependendo apenas do turismo interno e externo, além de sua grande indústria do entretenimento/turismo conhecida como carnaval carioca.
Há indicadores aristocráticos até na polícia do Rio de Janeiro. O exemplo mais notório é o BOPE – batalhão de elite que carrega a pretensão de formar guerreiros urbanos, armados fortemente para defender a sociedade de criminosos perigosos. É mais um dentre outros tantos grupos de elite policial que, numa democracia, reforçam o fator exclusivista da segurança pública, segregacionista, injusta, onde poucos podem usufruir de seu serviço, visto que é de elite. Os recursos para o batalhão são superiores aos grupos policiais ‘comuns’. E onde há exclusão, há a disseminação da política do compadrio, do desrespeito ao mérito e evidente da corrupção.
Voltando ao principal tema, o da violência e de seus atores, tomemos mais uma vez o traficante. Herói de um chão sem lei (sem Estado) arroga e evoca para si o papel de defensor da causa miserável, prestando serviços aos moradores desassistidos destes locais onde impera a lei do mais forte. Autoproclamado líder, assume poderes de déspota, impondo a censura, o terror, a ‘justiça’ paralela. Como príncipes, vivem como sultões num chão de impiedade, às vezes têm laços com políticos, representantes da justiça brasileira, empresários, artistas. Como disse o texto de Marques, são reis nas comunidades, reverenciados por aqueles esquecidos pelo Estado que por sua vez se esqueceu que sua razão de ser é servir o cidadão, independente do quanto de influencia e poder este possa ter.
Evidentemente que na luta contra o tráfico deve-se combatê-lo com as mais eficientes estratégias na busca da extinção da chaga que o comércio de drogas representa à sociedade. A logística, o uso de inteligência são essenciais para o combate aos ‘barões do pó’. Mas, também há que se pensar de modo estrutural, observando-se os vetores que alavancaram este triste capítulo na história do Rio de Janeiro (e também na de outras capitais e cidades brasileiras) sob um olhar crítico histórico-social. Não é pretensão de beletrismo, perfumaria sociológica, mas a análise profunda dos problemas que necessitam ser estudados e combatidos com mais afinco e competência numa cidade (e num país) que irá sediar um evento mundial importante como as Olimpíadas de 2016, evento que necessita de estruturas de segurança bem organizadas. Para isso o Rio precisa se modernizar, a começar pela mentalidade aristocrática que ainda ronda a cidade maravilhosa e seus habitantes cariocas.
*nota do blog
terça-feira, 3 de novembro de 2009
* A minissaia e a micromentalidade brasileira
Por Marcos Vinicius Gomes
terça-feira, 3 de novembro de 2009
‘Aqui é o Oriente Médio?’, foi a pergunta feita pelo metalúrgico Severino Filho, em entrevista ao site G1 em 31/10/2009. O metalúrgico é pai da universitária, hostilizada publicamente na universidade onde cursa Turismo em São Bernardo, município da grande SP, por estar usando um vestido curto. A resposta à pergunta deste pai constrangido pela intransigência da sociedade é o ponto - chave da análise deste impasse. Mas este ponto-chave foi ignorado pela maioria da imprensa e da população em geral.
O caso foi destaque na mídia – internet, televisão (a moça chegou a dar entrevista a um programa sensacionalista da TV Record, o ‘Geraldo Brasil’), jornais. Augusto Nunes, um dos príncipes de Veja escreveu que se fosse na universidade onde estudou ela seria cantada em verso e prosa.Já outro jornalista da Veja, Reinaldo Azevedo saiu em defesa da aluna, dizendo que mesmo que se moça fosse prostituta não mereceria tal ultraje e, evidentemente não perdeu a oportunidade de ser ‘Reinaldo’: culpou a universidade e a expansão do ensino superior pelas ofensas à estudante, chamando instituições não tradicionais de ‘unisupletivos’. Faltou apenas a TFP se pronunciar sobre o caso.
O mais lamentável de toda essa polêmica é que no final, o motivador que deveria ser dissecado nesta lamentável história onde aproveitadores da tragédia alheia despejam seus arsenais de convicções, não foi analisado. A força motriz desta discussão que fez tanto setores reacionários ou então progressistas da sociedade brasileira mostrar apenas a ‘sua verdade’ não foi vista, devido à paixão do confronto de idéias, devido ao provincianismo. O motivador – o machismo - saiu ileso.
Mesmo que houvesse inúmeros discursos de defesa da estudante universitária ao direito de usar as roupas que lhe aprouvesse, embasados na ‘emancipação feminina’ tão decantada ultimamente, mas pouco visualizada na prática social, os resquícios de machismo ainda são notórios. O linchamento sofrido pela estudante em São Paulo reflete algo corriqueiro dentro de um país que cerceia liberdades, faz vistas grossas à degradação sofrida por inúmeras mulheres brasileiras.
É uma vergonha um país que tem mulheres muito mais qualificadas que os homens e que, entretanto paga-se 25% a menos de salário a elas em relação ao sexo oposto. É uma vergonha um país que tem forte exploração sexual feminina seja para o ‘mercado interno’ ou então atrelada ao tráfico internacional de mulheres para a prostituição na Itália, Suíça, Espanha, entre outros destinos da Europa. É uma vergonha uma nação que vitimiza suas mulheres, encobrindo a violência doméstica praticada principalmente por maridos e namorados , que não acordou ainda para a importância de assegurarmos os direitos da mulher à dignidade e à vida.
Alguém poderá dizer que há exagero, que as mulheres são respeitadas e valorizadas pela sociedade brasileira. Vejamos um exemplo muito interessante de conservadorismo machista vindo de uma parte que teoricamente deveria opor-se ao sexismo, defendendo a igualdade de direitos.
É o caso do juiz mineiro Edilson Rumbelsperger Rodrigues que foi citado em reportagem da Folha de S Paulo de outubro de 2009 por recusar-se a aceitar pedidos de medidas contra homens que agrediam suas mulheres ou então as ameaçavam. O magistrado disse em nota que não iria “desigualar homens e mulheres naquilo em que são rigorosamente iguais, ou seja, nas demais espécies de violência que um pratica contra o outro sem qualquer diferença" (para o juiz talvez o número de mulheres agredidas equivalesse ao de homens agredidos por suas companheiras, fato improvável, sabendo- se como está enraizado o machismo no Brasil). Rumbelsperger usa o argumento que algumas disposições da lei têm "caráter vingativo". Ele diz: "Combato, assim, o feminismo exagerado – consubstanciado em parte da Lei Maria da Penha – e que dela se aproveitou para buscar compensar um passivo feminino histórico, com algumas disposições de caráter vingativo". Ele termina sua defesa com a seguinte argumentação, que até que se prove o contrário, tem alto teor patriarcal-machista: “Se eu voltasse atrás num único pensamento expressado em quaisquer de nossas decisões, eu o estaria fazendo por mera covardia, apenas para tentar me livrar da angústia desse embate". Ou em outras palavras, o juiz demonstra que se angustiasse pouco ou não se angustiasse em nada no embate, não seria varonil; se recuasse em suas declarações infelizes contrárias à lei que defende o direito básico das mulheres de serem respeitadas e protegidas, talvez fosse menos forte, quiçá menos homem. Um típico argumento machista.
A constituição garante a liberdade de pensamento, de expressão. Porém, argumentos sexistas vindos de alguém que deveria insurgir-se contra a secular violência masculina que vitimiza a mulher no Brasil, tem um que de desdém. Tem uma simbologia que ainda reina por entre nós em todas as classes, grupos do país – a simbologia do desrespeito á mulher aos seus mais básicos direitos como cidadã. Tanto na opinião do juiz e em suas atitudes enquanto magistrado, quanto no linchamento moral registrado na semana passada contra a estudante que estaria em ‘trajes inapropriados’ para o ambiente acadêmico, repousa a indiferença de uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar e valorizar a mulher. Não a mulher de plástico, tipo exportação que vive no imaginário coletivo nacional, a mulher objeto das passarelas, tampouco a mulher idílica cantada em verso e prosa em nossas músicas. A mulher referida aqui é a mulher que luta diuturnamente contra um sistema injusto, excludente. A mulher que quer ser verdadeiramente valorizada, ter seus direitos assegurados e independência. Lamentavelmente parece que temos que concordar com o cidadão Severino, pai da universitária em sua pergunta retórica: “Aqui é o Oriente Médio?” Sim, parece que estamos no Oriente Médio.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
‘Aqui é o Oriente Médio?’, foi a pergunta feita pelo metalúrgico Severino Filho, em entrevista ao site G1 em 31/10/2009. O metalúrgico é pai da universitária, hostilizada publicamente na universidade onde cursa Turismo em São Bernardo, município da grande SP, por estar usando um vestido curto. A resposta à pergunta deste pai constrangido pela intransigência da sociedade é o ponto - chave da análise deste impasse. Mas este ponto-chave foi ignorado pela maioria da imprensa e da população em geral.
O caso foi destaque na mídia – internet, televisão (a moça chegou a dar entrevista a um programa sensacionalista da TV Record, o ‘Geraldo Brasil’), jornais. Augusto Nunes, um dos príncipes de Veja escreveu que se fosse na universidade onde estudou ela seria cantada em verso e prosa.Já outro jornalista da Veja, Reinaldo Azevedo saiu em defesa da aluna, dizendo que mesmo que se moça fosse prostituta não mereceria tal ultraje e, evidentemente não perdeu a oportunidade de ser ‘Reinaldo’: culpou a universidade e a expansão do ensino superior pelas ofensas à estudante, chamando instituições não tradicionais de ‘unisupletivos’. Faltou apenas a TFP se pronunciar sobre o caso.
O mais lamentável de toda essa polêmica é que no final, o motivador que deveria ser dissecado nesta lamentável história onde aproveitadores da tragédia alheia despejam seus arsenais de convicções, não foi analisado. A força motriz desta discussão que fez tanto setores reacionários ou então progressistas da sociedade brasileira mostrar apenas a ‘sua verdade’ não foi vista, devido à paixão do confronto de idéias, devido ao provincianismo. O motivador – o machismo - saiu ileso.
Mesmo que houvesse inúmeros discursos de defesa da estudante universitária ao direito de usar as roupas que lhe aprouvesse, embasados na ‘emancipação feminina’ tão decantada ultimamente, mas pouco visualizada na prática social, os resquícios de machismo ainda são notórios. O linchamento sofrido pela estudante em São Paulo reflete algo corriqueiro dentro de um país que cerceia liberdades, faz vistas grossas à degradação sofrida por inúmeras mulheres brasileiras.
É uma vergonha um país que tem mulheres muito mais qualificadas que os homens e que, entretanto paga-se 25% a menos de salário a elas em relação ao sexo oposto. É uma vergonha um país que tem forte exploração sexual feminina seja para o ‘mercado interno’ ou então atrelada ao tráfico internacional de mulheres para a prostituição na Itália, Suíça, Espanha, entre outros destinos da Europa. É uma vergonha uma nação que vitimiza suas mulheres, encobrindo a violência doméstica praticada principalmente por maridos e namorados , que não acordou ainda para a importância de assegurarmos os direitos da mulher à dignidade e à vida.
Alguém poderá dizer que há exagero, que as mulheres são respeitadas e valorizadas pela sociedade brasileira. Vejamos um exemplo muito interessante de conservadorismo machista vindo de uma parte que teoricamente deveria opor-se ao sexismo, defendendo a igualdade de direitos.
É o caso do juiz mineiro Edilson Rumbelsperger Rodrigues que foi citado em reportagem da Folha de S Paulo de outubro de 2009 por recusar-se a aceitar pedidos de medidas contra homens que agrediam suas mulheres ou então as ameaçavam. O magistrado disse em nota que não iria “desigualar homens e mulheres naquilo em que são rigorosamente iguais, ou seja, nas demais espécies de violência que um pratica contra o outro sem qualquer diferença" (para o juiz talvez o número de mulheres agredidas equivalesse ao de homens agredidos por suas companheiras, fato improvável, sabendo- se como está enraizado o machismo no Brasil). Rumbelsperger usa o argumento que algumas disposições da lei têm "caráter vingativo". Ele diz: "Combato, assim, o feminismo exagerado – consubstanciado em parte da Lei Maria da Penha – e que dela se aproveitou para buscar compensar um passivo feminino histórico, com algumas disposições de caráter vingativo". Ele termina sua defesa com a seguinte argumentação, que até que se prove o contrário, tem alto teor patriarcal-machista: “Se eu voltasse atrás num único pensamento expressado em quaisquer de nossas decisões, eu o estaria fazendo por mera covardia, apenas para tentar me livrar da angústia desse embate". Ou em outras palavras, o juiz demonstra que se angustiasse pouco ou não se angustiasse em nada no embate, não seria varonil; se recuasse em suas declarações infelizes contrárias à lei que defende o direito básico das mulheres de serem respeitadas e protegidas, talvez fosse menos forte, quiçá menos homem. Um típico argumento machista.
A constituição garante a liberdade de pensamento, de expressão. Porém, argumentos sexistas vindos de alguém que deveria insurgir-se contra a secular violência masculina que vitimiza a mulher no Brasil, tem um que de desdém. Tem uma simbologia que ainda reina por entre nós em todas as classes, grupos do país – a simbologia do desrespeito á mulher aos seus mais básicos direitos como cidadã. Tanto na opinião do juiz e em suas atitudes enquanto magistrado, quanto no linchamento moral registrado na semana passada contra a estudante que estaria em ‘trajes inapropriados’ para o ambiente acadêmico, repousa a indiferença de uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar e valorizar a mulher. Não a mulher de plástico, tipo exportação que vive no imaginário coletivo nacional, a mulher objeto das passarelas, tampouco a mulher idílica cantada em verso e prosa em nossas músicas. A mulher referida aqui é a mulher que luta diuturnamente contra um sistema injusto, excludente. A mulher que quer ser verdadeiramente valorizada, ter seus direitos assegurados e independência. Lamentavelmente parece que temos que concordar com o cidadão Severino, pai da universitária em sua pergunta retórica: “Aqui é o Oriente Médio?” Sim, parece que estamos no Oriente Médio.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
* Quem deseja namorar sério pode usar a internet a seu favor, diz psicóloga
Exclusivo VEJA.com/Comportamento
Por Natália Cuminale
Por que, na opinião da senhora, é crescente a procura das pessoas por sites de relacionamento amoroso?
Porque atualmente os relacionamentos estão efêmeros, confusos, sem definição. Temos pesquisas que relatam que existe uma confusão entre ficar e namorar, o que é compromisso e o que não é. Você não sabe nem se está namorando. Fizemos um estudo para saber por que as pessoas vão buscar nas agências de casamento. Descobrimos que não são pessoas mal amadas e nem mal resolvidas, elas possuem características interessantes. Elas buscam um estilo de amor diferente, mais maduro, um amor pragmático. São pessoas que sabem que querem um compromisso e que buscam parceiros que possam oferecer isso no lugar certo. Está cada vez mais complicado estabelecer um relacionamento. Na vida real já está difícil definir se existe um compromisso, então as pessoas buscam alternativas.
Mas podemos dizer que é uma estratégia que funciona?
Quem vai a um site de relacionamento quer um relacionamento. Se você só quer uns beijos e uns abraços ou um sexo casual, é algo muito mais fácil de conseguir e não precisa recorrer a esse tipo de recurso. Dados antropológicos mostram que são os iguais que se atraem e não os opostos. Segundo estudos, em 85% de todas as relações são encontradas quatro variáveis que sempre são as mesmas: nível socioeconômico, educacional, religião e raça. Não quer dizer que opostos não podem se atrair, só que dentro do conceito estatístico eles são sempre exceção. Então se você escreve o que você quer e encontra isso, há uma grande chance de funcionar.
Os usuários normalmente alegam que é melhor saber mais sobre uma pessoa antes mesmo de conhecê-la pessoalmente. Não parece que a lógica está invertida?
Realmente inverteu-se a lógica que achava que o natural é o flerte e o cortejar, quando você olhar de longe e faz gestos de flerte que são multiculturais. O primeiro indicador para uma paquera era a aparência. Na internet, a pessoa pesquisa um perfil, mas tenho a impressão que a aparência ainda é importante, principalmente para os homens. É um flerte virtual, mais pragmático. Isso economiza tempo. Às vezes, só no terceiro encontro você vai descobrir que a pessoa mora do outro lado da cidade, ou vai descobrir que ele é casado, ou que ele é fumante e você tem alergia a cigarro. Corre-se o risco de você perder alguma coisa mais importante. Você descarta um fumante que poderia ter um monte de características boas, por exemplo. O perfil não pode ser tão restrito. É preciso ter um olhar um pouco mais amplo.
Nota do blog: cautelas devem ser adotadas nos relacionamentos pela internet.
Por Natália Cuminale
Por que, na opinião da senhora, é crescente a procura das pessoas por sites de relacionamento amoroso?
Porque atualmente os relacionamentos estão efêmeros, confusos, sem definição. Temos pesquisas que relatam que existe uma confusão entre ficar e namorar, o que é compromisso e o que não é. Você não sabe nem se está namorando. Fizemos um estudo para saber por que as pessoas vão buscar nas agências de casamento. Descobrimos que não são pessoas mal amadas e nem mal resolvidas, elas possuem características interessantes. Elas buscam um estilo de amor diferente, mais maduro, um amor pragmático. São pessoas que sabem que querem um compromisso e que buscam parceiros que possam oferecer isso no lugar certo. Está cada vez mais complicado estabelecer um relacionamento. Na vida real já está difícil definir se existe um compromisso, então as pessoas buscam alternativas.
Mas podemos dizer que é uma estratégia que funciona?
Quem vai a um site de relacionamento quer um relacionamento. Se você só quer uns beijos e uns abraços ou um sexo casual, é algo muito mais fácil de conseguir e não precisa recorrer a esse tipo de recurso. Dados antropológicos mostram que são os iguais que se atraem e não os opostos. Segundo estudos, em 85% de todas as relações são encontradas quatro variáveis que sempre são as mesmas: nível socioeconômico, educacional, religião e raça. Não quer dizer que opostos não podem se atrair, só que dentro do conceito estatístico eles são sempre exceção. Então se você escreve o que você quer e encontra isso, há uma grande chance de funcionar.
Os usuários normalmente alegam que é melhor saber mais sobre uma pessoa antes mesmo de conhecê-la pessoalmente. Não parece que a lógica está invertida?
Realmente inverteu-se a lógica que achava que o natural é o flerte e o cortejar, quando você olhar de longe e faz gestos de flerte que são multiculturais. O primeiro indicador para uma paquera era a aparência. Na internet, a pessoa pesquisa um perfil, mas tenho a impressão que a aparência ainda é importante, principalmente para os homens. É um flerte virtual, mais pragmático. Isso economiza tempo. Às vezes, só no terceiro encontro você vai descobrir que a pessoa mora do outro lado da cidade, ou vai descobrir que ele é casado, ou que ele é fumante e você tem alergia a cigarro. Corre-se o risco de você perder alguma coisa mais importante. Você descarta um fumante que poderia ter um monte de características boas, por exemplo. O perfil não pode ser tão restrito. É preciso ter um olhar um pouco mais amplo.
Nota do blog: cautelas devem ser adotadas nos relacionamentos pela internet.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
* Você sabe o que é tautologia?
É o termo usado para definir um dos vícios de linguagem. Consiste na repetição de uma idéia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como você pode ver na lista a seguir:
- elode ligação
- acabamentofinal
- certezaabsoluta
- quantiaexata
- nos dias 8, 9 e 10,inclusive
- juntamente com
- éexpressamente proibido
- em duas metadesiguais
- sintomasindicativos
- há anos atrás
- vereadorda cidade (de)
- aoutra alternativa
- detalhesminuciosos
- a razão éporque
- anexo junto à carta
- de sualivre escolha
- superávitpositivo
-todos foram unânimes
- conviverjunto
- fatoreal
- encararde frente
- multidão de pessoas
- amanhecero dia
- criação nova
- retornarde novo
- empréstimotemporário
- surpresainesperada
- escolhaopcional
- planejarantecipadamente
- aberturainaugural
- continuaa permanecer
- a última versãodefinitiva
- possivelmentepoderá ocorrer (á)
- comparecerem pessoa
- gritarbem alto
- propriedadecaracterística
-demasiadamente excessivo
- a seu critériopessoal
- excederem muito
- encararde frente.
O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como você pode ver na lista a seguir:
- elo
- acabamento
- certeza
- quantia
- nos dias 8, 9 e 10,
- j
- é
- em duas metades
- sintomas
- há anos a
- vereador
- a
- detalhes
- a razão é
- anexo
- de sua
- superávit
-
- conviver
- fato
- encarar
- multidão de
- amanhecer
- criação n
- retornar
- empréstimo
- surpresa
- escolha
- planejar
- abertura
- continua
- a última versão
- possivelmente
- comparecer
- gritar
- propriedade
-
- a seu critério
- exceder
- encarar
* O Estado ‘marginal’
Marcos Vinicius Gomes
Semana passada durante o intervalo na escola onde leciono em São Paulo, observei alguns alunos que cantavam uma letra de rap, ritmo muito difundido entre os jovens, principalmente os da periferia das grandes cidades. Aproximando-me deles, percebi que a letra que cantavam não tratava de problemas da comunidade onde viviam, nem tinha algo de protesto social ou político, semelhante às letras de rappers famosos que são ouvidos nas rádios e tevês. Pedi para analisar a letra escrita numa folha e vi que o rap era um exemplo explícito de apologia à criminalidade. Resumindo, a letra ilustrava uma ação criminosa imaginária onde um grupo delinqüente bem armado assaltaria um banco e levaria a melhor sobre a Polícia. A Polícia neste caso era tratada com desdém na letra da música.
Tomamos algumas medidas em relação a esse episódio lastimável. A letra do rap foi confiscada e houve uma conversa com os alunos que escreveram a letra. São alunos de quinta série, vale ressaltar, diferenciados. E estes alunos que escreveram e cantaram esta música nunca tiveram problema de mau comportamento escolar. Podem ser classificados como alunos aplicados e interessados apesar das dificuldades familiares, sociais e econômicas que os rodeiam. Estes fatores podem indicar uma incoerência, pois não havendo histórico de delinqüência entre os garotos compositores do rap subversivo, como poderiam eles ter tanta familiaridade com um linguajar conhecido apenas entre os iniciados na marginalidade?
A questão aqui é mais ampla. Deve ser vista de um ângulo diverso daquele já tentado com freqüência e muitas das vezes sem sucesso. Não se devem apontar a esmo responsáveis imediatos, algo muito comum em terras brasileiras, nem tão pouco sermos condescendentes com a atitude inconseqüente dos adolescentes. Pergunta-se então quem poderia ser o patrocinador, senão direto, ao menos indireto dessa virada de paradigmas, onde o nocivo torna-se agradável e o certo, duvidoso? O fomentador dessa descrença dos jovens no poder público, vetor do bem estar coletivo, da justiça da igualdade. Jovens, futuro – e mais do que isso, o presente – do Brasil?
São vários, mas entre eles fiquemos com um responsável importante, o próprio ultrajado e desacreditado estado. Estado que há tempos torna-se cada vez mais marginal, marginal no sentido mais irrestrito, conduzido por conceitos políticos e econômicos que o acusam de ser um mal ao desenvolvimento e progresso. Há uma idéia comum de ‘estado mínimo’ reinante pelos meios de poder contemporâneos que reduz a importância do estado, principalmente em áreas prioritárias onde o estado deve se fazer presente constantemente.
Se alguém perguntasse aos garotos da letra do ‘rap do mal’ porque tamanha aversão ao estado (Polícia) eles responderiam que ela, a Polícia (ou estado) representa o mal, a injustiça, pois é imparcial, favorecendo apenas a poucos. O Estado oficial-marginal, suplantado por outro paralelo, antes marginal, agora visível. E esta justificativa teria a ver com a percepção coletiva da ingerência e corrupção no Estado, conhecidos há tempos em todos os cantos do país. A animosidade em relação ao Estado e a seus serviços essenciais que cada vez são mais precários (graças à mentalidade que diz que o que é público não é de ninguém e, portanto deve ser visto como algo que pode ser tratado com descaso e de modo desqualificado) vão além de episódios isolados de violência por parte dos operadores da segurança pública. A Polícia é a representação mais latente do Estado numa sociedade que tem escassa noção do que é o Estado, como é a brasileira. E ainda é inúmeras vezes mais latente essa representação do Estado pela Polícia em regiões desassistidas pelo mesmo Estado (a saúde vem em segundo lugar como representação e por último a educação). Se apenas indicarmos fatores isolados que causam na geração desassistida este fascínio temeroso pela perversão, não nos dando ao trabalho de desenterrar e extirpar suas raízes causadoras continuaremos nossa árdua e inócua corrida em busca dos responsáveis. E este incômodo sentimento de desprezo e descrença no bem comum (patrocinado a priori pelo Estado), prosseguirá.
Enviado pelo autor.
Semana passada durante o intervalo na escola onde leciono em São Paulo, observei alguns alunos que cantavam uma letra de rap, ritmo muito difundido entre os jovens, principalmente os da periferia das grandes cidades. Aproximando-me deles, percebi que a letra que cantavam não tratava de problemas da comunidade onde viviam, nem tinha algo de protesto social ou político, semelhante às letras de rappers famosos que são ouvidos nas rádios e tevês. Pedi para analisar a letra escrita numa folha e vi que o rap era um exemplo explícito de apologia à criminalidade. Resumindo, a letra ilustrava uma ação criminosa imaginária onde um grupo delinqüente bem armado assaltaria um banco e levaria a melhor sobre a Polícia. A Polícia neste caso era tratada com desdém na letra da música.
Tomamos algumas medidas em relação a esse episódio lastimável. A letra do rap foi confiscada e houve uma conversa com os alunos que escreveram a letra. São alunos de quinta série, vale ressaltar, diferenciados. E estes alunos que escreveram e cantaram esta música nunca tiveram problema de mau comportamento escolar. Podem ser classificados como alunos aplicados e interessados apesar das dificuldades familiares, sociais e econômicas que os rodeiam. Estes fatores podem indicar uma incoerência, pois não havendo histórico de delinqüência entre os garotos compositores do rap subversivo, como poderiam eles ter tanta familiaridade com um linguajar conhecido apenas entre os iniciados na marginalidade?
A questão aqui é mais ampla. Deve ser vista de um ângulo diverso daquele já tentado com freqüência e muitas das vezes sem sucesso. Não se devem apontar a esmo responsáveis imediatos, algo muito comum em terras brasileiras, nem tão pouco sermos condescendentes com a atitude inconseqüente dos adolescentes. Pergunta-se então quem poderia ser o patrocinador, senão direto, ao menos indireto dessa virada de paradigmas, onde o nocivo torna-se agradável e o certo, duvidoso? O fomentador dessa descrença dos jovens no poder público, vetor do bem estar coletivo, da justiça da igualdade. Jovens, futuro – e mais do que isso, o presente – do Brasil?
São vários, mas entre eles fiquemos com um responsável importante, o próprio ultrajado e desacreditado estado. Estado que há tempos torna-se cada vez mais marginal, marginal no sentido mais irrestrito, conduzido por conceitos políticos e econômicos que o acusam de ser um mal ao desenvolvimento e progresso. Há uma idéia comum de ‘estado mínimo’ reinante pelos meios de poder contemporâneos que reduz a importância do estado, principalmente em áreas prioritárias onde o estado deve se fazer presente constantemente.
Se alguém perguntasse aos garotos da letra do ‘rap do mal’ porque tamanha aversão ao estado (Polícia) eles responderiam que ela, a Polícia (ou estado) representa o mal, a injustiça, pois é imparcial, favorecendo apenas a poucos. O Estado oficial-marginal, suplantado por outro paralelo, antes marginal, agora visível. E esta justificativa teria a ver com a percepção coletiva da ingerência e corrupção no Estado, conhecidos há tempos em todos os cantos do país. A animosidade em relação ao Estado e a seus serviços essenciais que cada vez são mais precários (graças à mentalidade que diz que o que é público não é de ninguém e, portanto deve ser visto como algo que pode ser tratado com descaso e de modo desqualificado) vão além de episódios isolados de violência por parte dos operadores da segurança pública. A Polícia é a representação mais latente do Estado numa sociedade que tem escassa noção do que é o Estado, como é a brasileira. E ainda é inúmeras vezes mais latente essa representação do Estado pela Polícia em regiões desassistidas pelo mesmo Estado (a saúde vem em segundo lugar como representação e por último a educação). Se apenas indicarmos fatores isolados que causam na geração desassistida este fascínio temeroso pela perversão, não nos dando ao trabalho de desenterrar e extirpar suas raízes causadoras continuaremos nossa árdua e inócua corrida em busca dos responsáveis. E este incômodo sentimento de desprezo e descrença no bem comum (patrocinado a priori pelo Estado), prosseguirá.
Enviado pelo autor.
domingo, 25 de outubro de 2009
* Você tem saudade de quê?
Anne Danielle Magalhães
Saudade é quando a gente manda uma coisa sair de nosso coração, mas ela não vai embora: ao invés disso, deita no sofá, liga a televisão e nos pede um cafuné, bem esparramada em nossa vida. Eu sei que daqui a dez anos vou sentir saudade das coisas que estão acontecendo agora. É sempre assim, não é? Tudo o que a gente faz (ou tenta fazer) é para que os outros tenham saudade da gente e nos queiram sempre por perto. Nos querendo sempre por perto, farão de tudo para nos magoar menos, nos decepcionar menos. Às vezes não conseguem, porque são humanos e, portanto, falhos. Assim nos afastamos, até que essas pessoas se acostumem a ter saudade da gente e não lutem mais por nós, e se acomodem, e apenas lembrem com um brilho no olhar os bons momentos que vivemos juntos.
Queria deixar a saudade como algo precioso, só pras pessoas que já partiram. Como é estranho sentir saudade de uma pessoa que está perto da gente (vale na mesma cidade)! Por que eu simplemente não telefono, e digo: "Ei, estou sentindo sua falta! Vamos sair uma tarde dessas para tomar um sorvete e conversarmos?". Ah... mas essas mágoas... mas essas decepções que temos... Elas tentam estragar o plano. Eu já magoei, já decepcionei. E foi tão bom dar um abraço do tamanho do mundo inteiro depois disso! Que coisa sem preço é se sentir perdoado. Saber que aquela pessoa te quer junto apesar de quem você é. Mas que coisa linda que é o perdão! Ele consegue fazer a saudade não ser eterna. Do que é que você tem saudade? Voltar não é regredir.
Que coisa chata que seria o mundo sem a saudade! Como é que a gente iria saber se algo foi realmente bom se não sentíssemos nem um pouquinho a sua falta? Que coisa mais estranha que seria a vida se a gente não sentisse falta das pessoas! Como é que iríamos tentar não decepcioná-las? Se, por acaso, acontecer de você não poder de jeito nenhum voltar e matar a saudade (o que acho muito difícil, só em casos extremos mesmo), não tem problema: vá tratar de construir coisas tão especiais como aquelas :
Quando eu era criança, eu subia no alto de alguma coisa e me jogava no ar, porque os braços do meu pai estavam abertos pra me segurar. Eu confiava simplesmente, eu sabia que ele estava ali e isso bastava. Eu fazia muitos castelinhos de areia na praia, e enfeitava com tampinhas e canudos.
Então uma onda vinha e derrubava tudo. Mas eu nem ligava. Apenas sorria e começava a construir outro castelo, dizendo em voz alta que o faria ainda maior e mais bonito. Confiar e sempre começar de novo. Hoje eu tenho essa saudade: de ser a criança que eu era.
Saudade é quando a gente manda uma coisa sair de nosso coração, mas ela não vai embora: ao invés disso, deita no sofá, liga a televisão e nos pede um cafuné, bem esparramada em nossa vida. Eu sei que daqui a dez anos vou sentir saudade das coisas que estão acontecendo agora. É sempre assim, não é? Tudo o que a gente faz (ou tenta fazer) é para que os outros tenham saudade da gente e nos queiram sempre por perto. Nos querendo sempre por perto, farão de tudo para nos magoar menos, nos decepcionar menos. Às vezes não conseguem, porque são humanos e, portanto, falhos. Assim nos afastamos, até que essas pessoas se acostumem a ter saudade da gente e não lutem mais por nós, e se acomodem, e apenas lembrem com um brilho no olhar os bons momentos que vivemos juntos.
Queria deixar a saudade como algo precioso, só pras pessoas que já partiram. Como é estranho sentir saudade de uma pessoa que está perto da gente (vale na mesma cidade)! Por que eu simplemente não telefono, e digo: "Ei, estou sentindo sua falta! Vamos sair uma tarde dessas para tomar um sorvete e conversarmos?". Ah... mas essas mágoas... mas essas decepções que temos... Elas tentam estragar o plano. Eu já magoei, já decepcionei. E foi tão bom dar um abraço do tamanho do mundo inteiro depois disso! Que coisa sem preço é se sentir perdoado. Saber que aquela pessoa te quer junto apesar de quem você é. Mas que coisa linda que é o perdão! Ele consegue fazer a saudade não ser eterna. Do que é que você tem saudade? Voltar não é regredir.
Que coisa chata que seria o mundo sem a saudade! Como é que a gente iria saber se algo foi realmente bom se não sentíssemos nem um pouquinho a sua falta? Que coisa mais estranha que seria a vida se a gente não sentisse falta das pessoas! Como é que iríamos tentar não decepcioná-las? Se, por acaso, acontecer de você não poder de jeito nenhum voltar e matar a saudade (o que acho muito difícil, só em casos extremos mesmo), não tem problema: vá tratar de construir coisas tão especiais como aquelas :
Quando eu era criança, eu subia no alto de alguma coisa e me jogava no ar, porque os braços do meu pai estavam abertos pra me segurar. Eu confiava simplesmente, eu sabia que ele estava ali e isso bastava. Eu fazia muitos castelinhos de areia na praia, e enfeitava com tampinhas e canudos.
Então uma onda vinha e derrubava tudo. Mas eu nem ligava. Apenas sorria e começava a construir outro castelo, dizendo em voz alta que o faria ainda maior e mais bonito. Confiar e sempre começar de novo. Hoje eu tenho essa saudade: de ser a criança que eu era.
sábado, 24 de outubro de 2009
* O progresso passa pela educação
Uma nação civilizada e próspera se forma necessariamente pela educação. Que país com suficientes condições não valorizaria efetivamente os seus profissionais de educação? O Brasil? Vemos a longa luta dos professores em busca de melhores salários e condições de trabalho. Ainda por esses dias vi uma manchete estampada num diário sergipano noticiando o movimento do magistério em defesa do piso nacional para a categoria.
Todos os governantes, políticos e profissionais que temos são frutos do aprendizado que tiveram na sala de aula. Pouco ou muito. Nunca seremos um país autosuficiente nas várias áreas em que somos dependentes dos conhecimentos estrangeiros se não investirmos de forma significativa na educação como um todo e especialmente no responsável imediato pelo ensino: o professor. Cada aluno e pai de aluno esperam que essas questões referentes ao assunto sejam o mais rapidamente resolvidas. Para benefício de todos.
Alberto Magalhães
Todos os governantes, políticos e profissionais que temos são frutos do aprendizado que tiveram na sala de aula. Pouco ou muito. Nunca seremos um país autosuficiente nas várias áreas em que somos dependentes dos conhecimentos estrangeiros se não investirmos de forma significativa na educação como um todo e especialmente no responsável imediato pelo ensino: o professor. Cada aluno e pai de aluno esperam que essas questões referentes ao assunto sejam o mais rapidamente resolvidas. Para benefício de todos.
Alberto Magalhães
domingo, 18 de outubro de 2009
* REDE GLOBO - William Bonner: cursos não formam jornalistas
Bonner defendeu veementemente o ensino de História e de Português, que "deveriam ser disciplinas obrigatórias e diárias" nos cursos de Jornalismo.
Por Zélia Leal Adghirni em 12/10/2009
Inteligente, bem humorado, sedutor. Difícil não se deixar envolver pelo discurso fascinante de William Bonner, um verdadeiro showman do jornalismo global em palestra para um auditório lotado de estudantes de Jornalismo na Universidade de Brasília na segunda-feira [5/10]. Bonner estava lá para lançar seu livro Jornal Nacional – Modo de Fazer, dentro das atividades do acordo Globo/Universidade com a UnB. Os alunos que não puderam entrar por absoluta falta de espaço e assistiram à palestra no lado de fora, onde foi instalado um telão. Mas podiam interagir, enviando perguntas. Tudo ia muito bem, como uma boa aula de Jornalismo, até que veio a esperada pergunta sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista, pelo STF.
Para Bonner, o fato de não precisar mais de diploma não muda nada no mercado profissional. Apenas dá às empresas a liberdade de contratar legalmente colaboradores de outras áreas que já atuavam no jornalismo. O que já existia de fato, disse ele. O que também já sabíamos, pois a Globo deixou claro, há muito tempo, que dá as costas para o diploma. William Bonner, por exemplo, não tem. Ele é formado em Publicidade pela USP. Mas garantiu que o fim do diploma não significa que as Organizações Globo vão agora contratar engenheiros para fazer jornalismo. A preferência será reservada aos egressos do curso do Jornalismo. Eis o paradoxo. Se as escolas são ruins, se os alunos são mal formados, por que contratar jornalistas?
Até aqui, nenhuma novidade. O que surpreendeu o auditório foi o complemento da resposta. Para o apresentador do Jornal Nacional, as escolas de Jornalismo não servem para formar jornalistas. Deveriam se preocupar mais com o ensino de Português e História. Para o resto, a universidade serve apenas como experiência de vida. "Jornalismo se aprende no mercado", disse ele sem medo de errar. Os cursos de Jornalismo não servem nem para ensinar ética profissional e técnicas de redação.
Doação dos direitos autorais
Segundo Bonner, ética se aprende na vida, é uma questão de educação. E para aprender técnicas jornalísticas, um semestre é suficiente. O rapaz da mecha branca no cabelo garantiu à platéia deslumbrada: "Em seis meses, eu pego um estudante e faço dele um editor na Globo". Confessou já ter afirmado, tempos atrás, que transformaria qualquer motorista de táxi em jornalista, mas mudou de opinião "porque agora valorizo o papel da universidade".
Bonner defendeu veementemente o ensino de História e de Português, que "deveriam ser disciplinas obrigatórias e diárias" nos cursos de Jornalismo. Admite que, pessoalmente, tem muita dificuldade com a língua materna. Contou que um dia desses teve que pedir ajuda a um amigo americano para escrever a palavra "obsceno", referindo-se à forma de um biscoito. "Incrível, o americano, com seu forte sotaque, conseguiu esclarecer a questão explicando que era com sc".
O mais surpreendente na fala do simpático William Bonner foi a declaração que os cursos de Jornalismo das universidades públicas estão mais preocupados com a formação de uma ideologia de esquerda do que em formar jornalistas. Seriam cursos "de doutrinamento esquerdista". E quando se é jovem, quando se tem 20 anos, é difícil divergir dos professores, disse ele. Não ficou claro se Bonner se referia à USP da época em que estudou, à USP atual, ou a todos os cursos de Jornalismo das universidades públicas brasileiras. Mas alguma coisa de bom deve ter ficado na formação do jornalista, pois ele abriu a palestra dizendo que doava os direitos autorais de seu livro à USP. Que devia isso à universidade onde estudou sem pagar nada quando, na época, seu pai poderia ter optado por uma instituição privada.
Mais respeito à universidade
Imaginem o impacto e a amplitude destas declarações diante dos alunos que ouvem de nós, professores, exatamente o contrário. Que é preciso estudar política, economia, literatura, ler muito e desenvolver o espírito crítico. As idéias de Bonner, para quem não gosta de estudar, são uma carta branca para a irresponsabilidade. Para quem gosta, para quem escolheu o curso de Jornalismo "por vocação" (no sentido weberiano), que acredita que o jornalista está a serviço da sociedade e não desta ou daquela empresa, fica difícil aceitar uma visão tão redutora apresentada por um dos maiores formadores de opinião do país. A universidade é acima de tudo um lugar de reflexão e produção de conhecimento. Dezenas de teses e dissertações são realizadas nas universidades todos os anos, sobre as mídias e, sobretudo, sobre a Globo, a única que realmente faz um "jornal nacional" no país.
Acho louvável a iniciativa da Globo em procurar as escolas para dialogar. Pessoalmente, já acompanhei um grupo de alunos à sucursal da Globo em São Paulo e foi uma experiência rica, inesquecível, ver como é preparado e apresentado o Jornal Hoje. Fomos muito bem recebidos.
Falo aqui em meu nome. Minha opinião não envolve meus colegas ou a direção da faculdade. Tenho diploma de jornalista, 20 anos de mercado e 16 de magistério com doutoramento no exterior. Levamos quatro anos para formar um jornalista. Por isso, espero mais respeito à universidade onde ensinamos e pesquisamos com recursos públicos. É lamentável pensar que tudo isso não serve para nada.
Fonte:www.observatoriodaimprensa.com.br
Por Zélia Leal Adghirni em 12/10/2009
Inteligente, bem humorado, sedutor. Difícil não se deixar envolver pelo discurso fascinante de William Bonner, um verdadeiro showman do jornalismo global em palestra para um auditório lotado de estudantes de Jornalismo na Universidade de Brasília na segunda-feira [5/10]. Bonner estava lá para lançar seu livro Jornal Nacional – Modo de Fazer, dentro das atividades do acordo Globo/Universidade com a UnB. Os alunos que não puderam entrar por absoluta falta de espaço e assistiram à palestra no lado de fora, onde foi instalado um telão. Mas podiam interagir, enviando perguntas. Tudo ia muito bem, como uma boa aula de Jornalismo, até que veio a esperada pergunta sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista, pelo STF.
Para Bonner, o fato de não precisar mais de diploma não muda nada no mercado profissional. Apenas dá às empresas a liberdade de contratar legalmente colaboradores de outras áreas que já atuavam no jornalismo. O que já existia de fato, disse ele. O que também já sabíamos, pois a Globo deixou claro, há muito tempo, que dá as costas para o diploma. William Bonner, por exemplo, não tem. Ele é formado em Publicidade pela USP. Mas garantiu que o fim do diploma não significa que as Organizações Globo vão agora contratar engenheiros para fazer jornalismo. A preferência será reservada aos egressos do curso do Jornalismo. Eis o paradoxo. Se as escolas são ruins, se os alunos são mal formados, por que contratar jornalistas?
Até aqui, nenhuma novidade. O que surpreendeu o auditório foi o complemento da resposta. Para o apresentador do Jornal Nacional, as escolas de Jornalismo não servem para formar jornalistas. Deveriam se preocupar mais com o ensino de Português e História. Para o resto, a universidade serve apenas como experiência de vida. "Jornalismo se aprende no mercado", disse ele sem medo de errar. Os cursos de Jornalismo não servem nem para ensinar ética profissional e técnicas de redação.
Doação dos direitos autorais
Segundo Bonner, ética se aprende na vida, é uma questão de educação. E para aprender técnicas jornalísticas, um semestre é suficiente. O rapaz da mecha branca no cabelo garantiu à platéia deslumbrada: "Em seis meses, eu pego um estudante e faço dele um editor na Globo". Confessou já ter afirmado, tempos atrás, que transformaria qualquer motorista de táxi em jornalista, mas mudou de opinião "porque agora valorizo o papel da universidade".
Bonner defendeu veementemente o ensino de História e de Português, que "deveriam ser disciplinas obrigatórias e diárias" nos cursos de Jornalismo. Admite que, pessoalmente, tem muita dificuldade com a língua materna. Contou que um dia desses teve que pedir ajuda a um amigo americano para escrever a palavra "obsceno", referindo-se à forma de um biscoito. "Incrível, o americano, com seu forte sotaque, conseguiu esclarecer a questão explicando que era com sc".
O mais surpreendente na fala do simpático William Bonner foi a declaração que os cursos de Jornalismo das universidades públicas estão mais preocupados com a formação de uma ideologia de esquerda do que em formar jornalistas. Seriam cursos "de doutrinamento esquerdista". E quando se é jovem, quando se tem 20 anos, é difícil divergir dos professores, disse ele. Não ficou claro se Bonner se referia à USP da época em que estudou, à USP atual, ou a todos os cursos de Jornalismo das universidades públicas brasileiras. Mas alguma coisa de bom deve ter ficado na formação do jornalista, pois ele abriu a palestra dizendo que doava os direitos autorais de seu livro à USP. Que devia isso à universidade onde estudou sem pagar nada quando, na época, seu pai poderia ter optado por uma instituição privada.
Mais respeito à universidade
Imaginem o impacto e a amplitude destas declarações diante dos alunos que ouvem de nós, professores, exatamente o contrário. Que é preciso estudar política, economia, literatura, ler muito e desenvolver o espírito crítico. As idéias de Bonner, para quem não gosta de estudar, são uma carta branca para a irresponsabilidade. Para quem gosta, para quem escolheu o curso de Jornalismo "por vocação" (no sentido weberiano), que acredita que o jornalista está a serviço da sociedade e não desta ou daquela empresa, fica difícil aceitar uma visão tão redutora apresentada por um dos maiores formadores de opinião do país. A universidade é acima de tudo um lugar de reflexão e produção de conhecimento. Dezenas de teses e dissertações são realizadas nas universidades todos os anos, sobre as mídias e, sobretudo, sobre a Globo, a única que realmente faz um "jornal nacional" no país.
Acho louvável a iniciativa da Globo em procurar as escolas para dialogar. Pessoalmente, já acompanhei um grupo de alunos à sucursal da Globo em São Paulo e foi uma experiência rica, inesquecível, ver como é preparado e apresentado o Jornal Hoje. Fomos muito bem recebidos.
Falo aqui em meu nome. Minha opinião não envolve meus colegas ou a direção da faculdade. Tenho diploma de jornalista, 20 anos de mercado e 16 de magistério com doutoramento no exterior. Levamos quatro anos para formar um jornalista. Por isso, espero mais respeito à universidade onde ensinamos e pesquisamos com recursos públicos. É lamentável pensar que tudo isso não serve para nada.
Fonte:www.observatoriodaimprensa.com.br
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
* A literatura: instrumento de criação
“A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista (...) o artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades fatuais (...) traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro.”
Afrânio Coutinho (Notas de teoria literária)
Afrânio Coutinho (Notas de teoria literária)
* O perdão como forma de libertação
“O perdão é o exato oposto da vingança. E só ele é capaz de impedir que, a partir de uma transgressão original, muitas outras se sucedam, ficando todos presos ao processo, permitindo que a reação em cadeia contida em cada ação prossiga o seu curso sem barreiras”.
Hannah Arendt
"O fraco jamais perdoa, o perdão é característica do forte."
Mahatma Gandhi
Hannah Arendt
"O fraco jamais perdoa, o perdão é característica do forte."
Mahatma Gandhi
* Não é esquisito que ...
Quando o outro não faz é preguiçoso.
Quando você não faz ... está muito ocupado.
Quando o outro fala é intrigante.
Quando você fala ... é crítica construtiva.
Quando o outro se decide a favor de um ponto, é "cabeça dura".
Quando você o faz ... está sendo firme.
Quando o outro não cumprimenta, é mascarado.
Quando você passa sem cumprimentar ... é apenas distração.
Quando o outro fala sobre si mesmo, é egoísta.
Quando você fala, é porque precisa desabafar.
Quando o outro se esforça para ser agradável, tem uma segunda intenção.
Quando você age assim ... é gentil.
Quando o outro encara os dois lados do problema, está sendo fraco.
Quando você o faz ... está sendo compreensivo.
Quando o outro faz alguma coisa sem ordem, está se excedendo.
Quando você faz ... é iniciativa.
Quando o outro progride, teve oportunidade.
Quando você progride ... é fruto de muito trabalho.
Quando o outro luta por seus direitos, é teimoso.
Quando você o faz ... é prova de caráter.
Não é mesmo esquisito?
Autor desconhecido.
Quando você não faz ... está muito ocupado.
Quando o outro fala é intrigante.
Quando você fala ... é crítica construtiva.
Quando o outro se decide a favor de um ponto, é "cabeça dura".
Quando você o faz ... está sendo firme.
Quando o outro não cumprimenta, é mascarado.
Quando você passa sem cumprimentar ... é apenas distração.
Quando o outro fala sobre si mesmo, é egoísta.
Quando você fala, é porque precisa desabafar.
Quando o outro se esforça para ser agradável, tem uma segunda intenção.
Quando você age assim ... é gentil.
Quando o outro encara os dois lados do problema, está sendo fraco.
Quando você o faz ... está sendo compreensivo.
Quando o outro faz alguma coisa sem ordem, está se excedendo.
Quando você faz ... é iniciativa.
Quando o outro progride, teve oportunidade.
Quando você progride ... é fruto de muito trabalho.
Quando o outro luta por seus direitos, é teimoso.
Quando você o faz ... é prova de caráter.
Não é mesmo esquisito?
Autor desconhecido.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
* Mensagem: ...Eu viverei para sempre
"Um dia, um doutor determinará que meu cérebro deixou de funcionar e que basicamente minha vida cessou. Quando isso acontecer, não tentem introduzir vida artificial por meio de uma máquina. Ao invés disso, dêem minha visão ao homem que nunca viu o sol nascer, o rosto de um bebê ou o amor nos olhos de uma mulher. Dêem meu coração a uma pessoa cujo coração só causou intermináveis dores. Dêem meus rins a uma pessoa que depende de uma máquina para existir, semana a semana. Peguem meu sangue, meus ossos, cada músculo e nervos de meu corpo e encontrem um meio de fazer uma criança aleijada andar. Peguem minhas células, se necessário, e usem de alguma maneira que um dia um garoto mudo seja capaz de gritar quando seu time marcar um gol, e uma menina surda possa ouvir a chuva batendo na sua janela. Queimem o que sobrou de mim e espalhem as cinzas para o vento ajudar as folhas nascerem. Se realmente quiserem enterrar alguma coisa, que sejam minhas falhas, minhas fraquezas e todos os preconceitos contra meus semelhantes. Dêem meus pecados ao diabo e minha alma a Deus. Se quiserem lembrar de mim, façam-no com um ato bondoso ou dirijam uma palavra delicada a alguém que precise de vocês. Se vocês fizerem tudo o que estou pedindo, viverei para sempre."
De um leitor de um jornal de grande circulação, comovido com a situação dos transplantes em nosso país com o objetivo de incentivar a cultura da doação.
De um leitor de um jornal de grande circulação, comovido com a situação dos transplantes em nosso país com o objetivo de incentivar a cultura da doação.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
* Ao Jornalista César Gama, uma mente brilhante - talvez um pouco siderada realmente, e uma alma do bem (embora autoproclamado ateu):
"Embora por vezes mortificado pelo homem, Deus sobrevive às teorias niilistas dos filósofos, ao descrédito dos céticos e ao desprezo dos pragmáticos que endeusam a sociedade materialista e a cultura moderna “redentora”."
Alberto Magalhães
(Em tempo: siderar - 1.sofrer as influências dos astros)
Alberto Magalhães
(Em tempo: siderar - 1.sofrer as influências dos astros)
* Depressão bipolar vai da euforia à tristeza
A depressão bipolar, ou síndrome maníaco-depressiva, está caracterizada por mudanças de humor entre dois extremos opostos, que alternam entre períodos de mania (euforia exagerada) e a depressão. A doença é classificada, dependendo dos seus sintomas, em bipolar I, bipolar II e distúrbios ciclotímico.
Causas - Alguns especialistas acreditam que o distúrbio bipolar é um elo a mais na cadeia dos distúrbios psiquiátricos, desde a esquizofrenia até a depressão, diferindo em sua forma de expressão, mas com uma causa biológica em comum. Entretanto, estudos do cérebro, com técnicas de ressonância magnética, revelam que na depressão bipolar existem muitas vezes anormalidades no hipocampo (o extremo esquerdo é muito maior do que o direito). Os níveis de dopamina e serotonina, ambos neurotransmissores, também se encontram relacionados com esse distúrbio.
Sintomas - A depressão pode acometer com fadiga e perda de energia, tristeza, insônia ou outras alterações do sono, alterações de peso corporal, diminuição da concentração e do poder de decisão, sentimento de culpa, pessimismo, desesperança, baixa auto-estima e pensamentos suicidas. A face maníaca surge de improviso e, geralmente, segue as fases de severa depressão. Está caracterizada por pensamentos desligados, idéia magnificente, alucinações, sentimentos de onipotência e irritabilidade extrema.
Diagnósticos - Como inicialmente os sintomas podem ser confundidos com a depressão, é importante reconhecer as fases de mania com as suas manifestações características. É importante descartar outros distúrbios que possam causar sintomas de mania ou alterações do humor (distúrbios hormonais, deficiências vitamínicas, alterações neurológicas).
Tratamentos - Apesar do fato de uma pequena porcentagem de pacientes bipolares terem alta produtividade e criatividade durante as fases maníacas, com maior frequência a alteração do juízo e o pensamento distorcido podem levar a condutas perigosas. O objetivo principal do tratamento é reduzir a frequência, a severidade e as consequências sociais dos episódios bipolares. A necessidade de hospitalização haverá de depender do risco apresentado pelo paciente para ferir aos outros ou a si próprio, bem como dar disponibilidade de ser contido pelas pessoas do seu meio ambiente. Durante a fase maníaca, via de regra, são ministrados medicamentos e terapia.
Fonte: Jornal da Cidade
Causas - Alguns especialistas acreditam que o distúrbio bipolar é um elo a mais na cadeia dos distúrbios psiquiátricos, desde a esquizofrenia até a depressão, diferindo em sua forma de expressão, mas com uma causa biológica em comum. Entretanto, estudos do cérebro, com técnicas de ressonância magnética, revelam que na depressão bipolar existem muitas vezes anormalidades no hipocampo (o extremo esquerdo é muito maior do que o direito). Os níveis de dopamina e serotonina, ambos neurotransmissores, também se encontram relacionados com esse distúrbio.
Sintomas - A depressão pode acometer com fadiga e perda de energia, tristeza, insônia ou outras alterações do sono, alterações de peso corporal, diminuição da concentração e do poder de decisão, sentimento de culpa, pessimismo, desesperança, baixa auto-estima e pensamentos suicidas. A face maníaca surge de improviso e, geralmente, segue as fases de severa depressão. Está caracterizada por pensamentos desligados, idéia magnificente, alucinações, sentimentos de onipotência e irritabilidade extrema.
Diagnósticos - Como inicialmente os sintomas podem ser confundidos com a depressão, é importante reconhecer as fases de mania com as suas manifestações características. É importante descartar outros distúrbios que possam causar sintomas de mania ou alterações do humor (distúrbios hormonais, deficiências vitamínicas, alterações neurológicas).
Tratamentos - Apesar do fato de uma pequena porcentagem de pacientes bipolares terem alta produtividade e criatividade durante as fases maníacas, com maior frequência a alteração do juízo e o pensamento distorcido podem levar a condutas perigosas. O objetivo principal do tratamento é reduzir a frequência, a severidade e as consequências sociais dos episódios bipolares. A necessidade de hospitalização haverá de depender do risco apresentado pelo paciente para ferir aos outros ou a si próprio, bem como dar disponibilidade de ser contido pelas pessoas do seu meio ambiente. Durante a fase maníaca, via de regra, são ministrados medicamentos e terapia.
Fonte: Jornal da Cidade
* A dramática história do povo Judeu
ISRAEL - País do Oriente Médio asiático, banhado pelo Mediterrâneo, tem fronteiras ao norte com Líbano e Síria, a leste e sul com a Jordânia e com o Egito. Tem um pequeno litoral voltado para o Índico, pelo Golfo de Acaba e divide margens do Mar Morto com a Jordânia. Seu nome significa 'venceu com (Yisra) Deus (el)', em hebraico. Israel é também o segundo nome do patriarca Jacó, cujos descendentes, na tradição hebraica, são chamados bnei yisra'el, 'filhos de Israel'.
O registro histórico mais antigo que se conhece sobre o nome Israel está mencionado na Estela de Merneptah (num poema dedicado ao faraó Merneptah), em que o nome é associado a um povo, mas não a uma localização geográfica. Ao que se sabe, o Povo de Israel surgiu de grupos nômades que habitavam a Mesopotâmia há cerca de cinco mil anos.
No fim do século XVII a.C., este povo foi atacado e escravizado pelos egípcios. Após o fim do cativeiro no Egito, os hebreus vagaram pela região da Península do Sinai até que reconquistaram, sob o comando do rei Saul, uma parte de seu território original, as terras de Canaã, por volta de 1029 a.C.. Saul foi sucedido por David, em torno do ano 1000 a.C., que expandiu o território de Israel e conquistou a cidade de Jerusalém, onde instalou a capital do seu reino. Israel alcançou seu apogeu durante o reinado de Salomão, entre os anos 966 a.C. e 926 a.C.. Porém, pouco depois do fim do reinado de Salomão, Israel foi dividido em dois: a Norte, o Reino das Dez Tribos, também chamado de Reino de Israel, e ao Sul, o Reino das Duas Tribos, também chamado de Reino de Judá, cuja capital ficou sendo Jerusalém - do nome Judá nasceram as denominações: judeu e judaísmo. Entretanto, o território dos judeus foi sendo conquistado e influenciado por diversas potências de sua época, entre elas: assírios, persas, gregos, selêucidas e romanos.
Em 586 a.C. o imperador Nabucodonosor invadiu Jerusalém e obrigou os israelitas ao exílio. Levados à força para a Babilônia, os prisioneiros de Judá e Israel passaram cerca de 50 anos como escravos sob o domínio dos babilônios. O fim do Primeiro Êxodo possibilitou a volta dos israelitas a Jerusalém, que foi reconstruída.
Mais tarde, os romanos invadiram e dominaram a região e estabeleceram que o reino judeu seria seu protetorado. A primeira grande revolta contra o domínio romano e sua intromissão nos assuntos religiosos se iniciou no ano 66 e durou até 70 d.C., quando o general Tito invadiu a região e destruiu Jerusalém e o seu Templo. A região então foi transformada em província romana e batizada com o nome de Provincia Judaea. A segunda e última rebelião contra os romanos foi a Revolta de Bar Kochba. A rebelião foi esmagada pelo imperador Adriano em 135 d.C. e os judeus sobreviventes foram feitos escravos e expulsos de sua terra, na chamada 'diáspora'. Naquele mesmo ano, Adriano rebatizou a Provincia Judaea para Provincia Siria Palaestina, um nome grego derivado de 'Filistéia' como tentativa de desligar a terra de seu passado judaico. A Mishná e o Talmude Yerushalmi (dois dos textos sagrados judaicos mais importantes) foram escritos na região neste período.
Depois dos romanos os bizantinos e posteriormente os muçulmanos conquistaram a Palestina em 638. Seu território foi controlado por diferentes Estados muçulmanos ao longo dos séculos (à exceção do controle dos cristãos cruzados, no Século XI) até fazer parte do Império Otomano, entre 1517 e 1917.
O sionismo (termo derivado de Sion, nome de uma colina da antiga Jerusalém), surgiu na Europa em meados do século XVII. Inicialmente de caráter religioso, pregava a volta dos judeus à Terra de Israel, como forma de se proteger sua religião e cultura ancestral. Entre os séculos XIII e XIX o número de judeus que fizeram aliá (ato de um judeu imigrar para a Terra Santa) foi constante e sempre crescente, estimulado por periódicos surgimentos de crenças messiânicas e de perseguições anti-judaicas. Estas perseguições tinham quase sempre um caráter político-religioso. Os judeus que retornaram à Palestina se estabeleceram principalmente em Jerusalém, mas também desenvolveram significativos centros em outras cidades nos arredores. Os judeus já eram a maioria da população de Jerusalém no ano de 1844, convivendo com muçulmanos, cristãos, armênios, gregos e outras minorias, sob o domínio turco-otomano. A estes migrantes religiosos foram se juntar os primeiros migrantes seculares a partir da segunda metade do século. Eram em geral judeus da Europa Central e adeptos de ideologias socialistas. Porém, o sionismo moderno - fundado por Theodor Herzl, a partir de 1896 - aos poucos foi ganhando peso entre os judeus de outras partes do mundo. Começaram então novas ondas de imigrações judaicas para a província palestina, com os que lá chegavam adquirindo terras dos árabes e estabelecendo colônias e fazendas coletivas (Kibbutzim).
A escolha da causa sionista pelo território da então província palestina derivava de todo o significado cultural e histórico que a antiga Israel bíblica possuía para o povo judeu. Os sionistas defendiam a criação de um estado judaico em todo o território original de Israel, o que incluiria hoje a atual Jordânia, embora propostas de cessão de territórios na Patagônia, no Chipre e em Uganda tenham sido estudadas.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, com a Europa destruída e os sentimentos anti-semitas ainda exaltados, milhões de judeus de todo o mundo se uniram aos sionistas na Palestina. Mas a política de restrição à imigração judaica foi mantida pelo Mandato Britânico. Como forma de burlar as determinações inglesas, grupos militantes judaicos sionistas procuravam infiltrar clandestinamente o maior número possível de refugiados judeus na Palestina. Enquanto isso, retomavam os ataques contra alvos britânicos e repeliam ações violentas dos nacionalistas árabes. Como as pressões foram se avolumando, a Grã-Bretanha decidiu abrir mão da administração da Palestina e entregou a administração da região à Organização das Nações Unidas (ONU).
O aumento dos conflitos entre judeus, ingleses e árabes forçou a reunião da Assembléia Geral da ONU, realizada em 29 de novembro de 1947 e presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, que decidiu pela divisão da Palestina Britânica em dois estados, um judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união econômica e aduaneira. A decisão foi aceita pela maioria das lideranças sionistas, embora tenha recebido críticas de outras organizações, por não permitir o estabelecimento do estado judeu em toda a Palestina. Mas a Liga Árabe não aceitou o plano de partilha. Eclodiu então um conflito armado entre judeus e árabes.
Em 14 de maio de 1948, algumas horas antes do término do mandato britânico sobre a Palestina, David Ben Gurion assinou a Declaração de Independência do Estado de Israel. Em janeiro de 1949, Israel realizou suas primeiras eleições parlamentares e aprovou leis para assegurar o controle educacional, além do direito de retorno ao país para todos os judeus. No período entre a Declaração de Independência e a Guerra de Independência, Israel recebeu cerca de 850 mil imigrantes, em especial sobreviventes de guerra e judeus oriundos dos países árabes (sefaraditas e Mizrahim). A Guerra dos Seis Dias (de 5 a 10 de junho de 1967) gerou uma onda de anti-judaísmo nos países sob a esfera de influência soviética. Os judeus da União Soviética eram proibidos de deixar o país, mas a partir de 1969 a reivindicação dos judeus soviéticos pelo direito a imigração possibilitou um ligeiro incremento no número destes em Israel. Na Polônia, em 1967, mais de cinco mil judeus imigraram. Até 1973, ano da Guerra do Yom Kippur, 260 mil judeus desembarcaram em Israel, a maioria de países socialistas. Atualmente Israel vive um intenso conflito armado contra seus vizinhos árabes, e sua economia floresce com o forte apoio dos EUA e remessas particulares. Há o intenso e permanente conflito com o povo palestino, que quer estabelecer seu país nas terras de seus antepassados. Atualmente, Israel é governado pelo presidente Shimon Peres e pelo primeiro-ministro Ehud Olmert.
Fonte: www.ibge.gov.br
O registro histórico mais antigo que se conhece sobre o nome Israel está mencionado na Estela de Merneptah (num poema dedicado ao faraó Merneptah), em que o nome é associado a um povo, mas não a uma localização geográfica. Ao que se sabe, o Povo de Israel surgiu de grupos nômades que habitavam a Mesopotâmia há cerca de cinco mil anos.
No fim do século XVII a.C., este povo foi atacado e escravizado pelos egípcios. Após o fim do cativeiro no Egito, os hebreus vagaram pela região da Península do Sinai até que reconquistaram, sob o comando do rei Saul, uma parte de seu território original, as terras de Canaã, por volta de 1029 a.C.. Saul foi sucedido por David, em torno do ano 1000 a.C., que expandiu o território de Israel e conquistou a cidade de Jerusalém, onde instalou a capital do seu reino. Israel alcançou seu apogeu durante o reinado de Salomão, entre os anos 966 a.C. e 926 a.C.. Porém, pouco depois do fim do reinado de Salomão, Israel foi dividido em dois: a Norte, o Reino das Dez Tribos, também chamado de Reino de Israel, e ao Sul, o Reino das Duas Tribos, também chamado de Reino de Judá, cuja capital ficou sendo Jerusalém - do nome Judá nasceram as denominações: judeu e judaísmo. Entretanto, o território dos judeus foi sendo conquistado e influenciado por diversas potências de sua época, entre elas: assírios, persas, gregos, selêucidas e romanos.
Em 586 a.C. o imperador Nabucodonosor invadiu Jerusalém e obrigou os israelitas ao exílio. Levados à força para a Babilônia, os prisioneiros de Judá e Israel passaram cerca de 50 anos como escravos sob o domínio dos babilônios. O fim do Primeiro Êxodo possibilitou a volta dos israelitas a Jerusalém, que foi reconstruída.
Mais tarde, os romanos invadiram e dominaram a região e estabeleceram que o reino judeu seria seu protetorado. A primeira grande revolta contra o domínio romano e sua intromissão nos assuntos religiosos se iniciou no ano 66 e durou até 70 d.C., quando o general Tito invadiu a região e destruiu Jerusalém e o seu Templo. A região então foi transformada em província romana e batizada com o nome de Provincia Judaea. A segunda e última rebelião contra os romanos foi a Revolta de Bar Kochba. A rebelião foi esmagada pelo imperador Adriano em 135 d.C. e os judeus sobreviventes foram feitos escravos e expulsos de sua terra, na chamada 'diáspora'. Naquele mesmo ano, Adriano rebatizou a Provincia Judaea para Provincia Siria Palaestina, um nome grego derivado de 'Filistéia' como tentativa de desligar a terra de seu passado judaico. A Mishná e o Talmude Yerushalmi (dois dos textos sagrados judaicos mais importantes) foram escritos na região neste período.
Depois dos romanos os bizantinos e posteriormente os muçulmanos conquistaram a Palestina em 638. Seu território foi controlado por diferentes Estados muçulmanos ao longo dos séculos (à exceção do controle dos cristãos cruzados, no Século XI) até fazer parte do Império Otomano, entre 1517 e 1917.
O sionismo (termo derivado de Sion, nome de uma colina da antiga Jerusalém), surgiu na Europa em meados do século XVII. Inicialmente de caráter religioso, pregava a volta dos judeus à Terra de Israel, como forma de se proteger sua religião e cultura ancestral. Entre os séculos XIII e XIX o número de judeus que fizeram aliá (ato de um judeu imigrar para a Terra Santa) foi constante e sempre crescente, estimulado por periódicos surgimentos de crenças messiânicas e de perseguições anti-judaicas. Estas perseguições tinham quase sempre um caráter político-religioso. Os judeus que retornaram à Palestina se estabeleceram principalmente em Jerusalém, mas também desenvolveram significativos centros em outras cidades nos arredores. Os judeus já eram a maioria da população de Jerusalém no ano de 1844, convivendo com muçulmanos, cristãos, armênios, gregos e outras minorias, sob o domínio turco-otomano. A estes migrantes religiosos foram se juntar os primeiros migrantes seculares a partir da segunda metade do século. Eram em geral judeus da Europa Central e adeptos de ideologias socialistas. Porém, o sionismo moderno - fundado por Theodor Herzl, a partir de 1896 - aos poucos foi ganhando peso entre os judeus de outras partes do mundo. Começaram então novas ondas de imigrações judaicas para a província palestina, com os que lá chegavam adquirindo terras dos árabes e estabelecendo colônias e fazendas coletivas (Kibbutzim).
A escolha da causa sionista pelo território da então província palestina derivava de todo o significado cultural e histórico que a antiga Israel bíblica possuía para o povo judeu. Os sionistas defendiam a criação de um estado judaico em todo o território original de Israel, o que incluiria hoje a atual Jordânia, embora propostas de cessão de territórios na Patagônia, no Chipre e em Uganda tenham sido estudadas.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, com a Europa destruída e os sentimentos anti-semitas ainda exaltados, milhões de judeus de todo o mundo se uniram aos sionistas na Palestina. Mas a política de restrição à imigração judaica foi mantida pelo Mandato Britânico. Como forma de burlar as determinações inglesas, grupos militantes judaicos sionistas procuravam infiltrar clandestinamente o maior número possível de refugiados judeus na Palestina. Enquanto isso, retomavam os ataques contra alvos britânicos e repeliam ações violentas dos nacionalistas árabes. Como as pressões foram se avolumando, a Grã-Bretanha decidiu abrir mão da administração da Palestina e entregou a administração da região à Organização das Nações Unidas (ONU).
O aumento dos conflitos entre judeus, ingleses e árabes forçou a reunião da Assembléia Geral da ONU, realizada em 29 de novembro de 1947 e presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, que decidiu pela divisão da Palestina Britânica em dois estados, um judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união econômica e aduaneira. A decisão foi aceita pela maioria das lideranças sionistas, embora tenha recebido críticas de outras organizações, por não permitir o estabelecimento do estado judeu em toda a Palestina. Mas a Liga Árabe não aceitou o plano de partilha. Eclodiu então um conflito armado entre judeus e árabes.
Em 14 de maio de 1948, algumas horas antes do término do mandato britânico sobre a Palestina, David Ben Gurion assinou a Declaração de Independência do Estado de Israel. Em janeiro de 1949, Israel realizou suas primeiras eleições parlamentares e aprovou leis para assegurar o controle educacional, além do direito de retorno ao país para todos os judeus. No período entre a Declaração de Independência e a Guerra de Independência, Israel recebeu cerca de 850 mil imigrantes, em especial sobreviventes de guerra e judeus oriundos dos países árabes (sefaraditas e Mizrahim). A Guerra dos Seis Dias (de 5 a 10 de junho de 1967) gerou uma onda de anti-judaísmo nos países sob a esfera de influência soviética. Os judeus da União Soviética eram proibidos de deixar o país, mas a partir de 1969 a reivindicação dos judeus soviéticos pelo direito a imigração possibilitou um ligeiro incremento no número destes em Israel. Na Polônia, em 1967, mais de cinco mil judeus imigraram. Até 1973, ano da Guerra do Yom Kippur, 260 mil judeus desembarcaram em Israel, a maioria de países socialistas. Atualmente Israel vive um intenso conflito armado contra seus vizinhos árabes, e sua economia floresce com o forte apoio dos EUA e remessas particulares. Há o intenso e permanente conflito com o povo palestino, que quer estabelecer seu país nas terras de seus antepassados. Atualmente, Israel é governado pelo presidente Shimon Peres e pelo primeiro-ministro Ehud Olmert.
Fonte: www.ibge.gov.br
* Amigo
Marcelo Batalha
Difícil querer definir amigo.
Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.
Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas.
É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu.
É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer contigo já o realimenta, satisfaz.
É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você.
É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.
É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "por vir".
É ao mesmo tempo espelho que te reflete, e óleo derramado sobre suas águas agitadas.
É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia.
É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso.
Amigo é aquele que toca na sua ferida numa mesa de chope, acompanha suas
vitórias, faz piada amenizando problemas.
É quem sabe que viver é ter história pra contar.
É quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento, é o padrinho filosófico dos seus filhos.
É o achar daquilo que você nem sabia que buscava.
Amigo é aquele que te lê em cartas esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas.
É aquele que te ouve ao telefone mesmo quando a ligação é caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se tivesse olhando em seus olhos.
É aquele que percebe em seus olhos seus desejos, seus disfarces, alegria, medo.
É aquele que aguarda pacientemente e se
entusiasma quando vê surgir aquele tão esperado brilho no seu olhar, e é quem tem uma palavra sob medida quando estes mesmos olhos estão amplificando tristeza interior.
Amigo é aquele que demonstra que te ama sem qualquer medo de má interpretação: amigo é quem te ama "e ponto". É verdade e razão, sonho e sentimento. Amigo é pra sempre, mesmo que o sempre não exista.
Pode haver nada mais confortável neste mundo do que um amigo velho?
Não tem surpresas conosco, mas também não espera de nós o que não podemos dar. Não se escandaliza com o que fazemos, não se irrita, ou, se se irrita, é moderadamente.
Não precisa a gente lhe explicar nada, o mecanismo de novos interesses e até mesmo de novos amores, porque o velho amigo conhece todos os nossos mecanismos. Mas, além dessa capacidade de compreensão quase infinita, se o amigo velho nos é acima de tudo precioso é porque preciosos também somos nós para ele.
Difícil querer definir amigo.
Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.
Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas.
É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu.
É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer contigo já o realimenta, satisfaz.
É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você.
É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.
É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "por vir".
É ao mesmo tempo espelho que te reflete, e óleo derramado sobre suas águas agitadas.
É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia.
É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso.
Amigo é aquele que toca na sua ferida numa mesa de chope, acompanha suas
vitórias, faz piada amenizando problemas.
É quem sabe que viver é ter história pra contar.
É quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento, é o padrinho filosófico dos seus filhos.
É o achar daquilo que você nem sabia que buscava.
Amigo é aquele que te lê em cartas esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas.
É aquele que te ouve ao telefone mesmo quando a ligação é caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se tivesse olhando em seus olhos.
É aquele que percebe em seus olhos seus desejos, seus disfarces, alegria, medo.
É aquele que aguarda pacientemente e se
entusiasma quando vê surgir aquele tão esperado brilho no seu olhar, e é quem tem uma palavra sob medida quando estes mesmos olhos estão amplificando tristeza interior.
Amigo é aquele que demonstra que te ama sem qualquer medo de má interpretação: amigo é quem te ama "e ponto". É verdade e razão, sonho e sentimento. Amigo é pra sempre, mesmo que o sempre não exista.
Pode haver nada mais confortável neste mundo do que um amigo velho?
Não tem surpresas conosco, mas também não espera de nós o que não podemos dar. Não se escandaliza com o que fazemos, não se irrita, ou, se se irrita, é moderadamente.
Não precisa a gente lhe explicar nada, o mecanismo de novos interesses e até mesmo de novos amores, porque o velho amigo conhece todos os nossos mecanismos. Mas, além dessa capacidade de compreensão quase infinita, se o amigo velho nos é acima de tudo precioso é porque preciosos também somos nós para ele.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
* IBGE: 66,7% das crianças do Nordeste vivem em situação de pobreza
Estudo indica que, para o total do país, a maioria das crianças e adolescentes de até 17 anos (44,7%) vivia, em 2008, em situação de pobreza.
Por Redação, Agência Brasil
09/10/2009
Embora a situação tenha melhorado nos últimos dez anos, o nível de pobreza da infância e adolescência no país ainda é elevado, principalmente na região Nordeste, onde 66,7% das crianças, dos adolescentes e jovens ainda viviam em situação de pobreza em 2008.
A constatação é da Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo indica que, para o total do país, a maioria das crianças e adolescentes de até 17 anos (44,7%) vivia, em 2008, em situação de pobreza.
Os técnicos do IBGE verificaram a tendência de aumento da frequência escolar na primeira infância, embora em ritmo ainda lento. O maior crescimento da taxa ocorreu na faixa dos 4 a 6 anos: de 57,9% para 79,8% entre 1998 e 2008. Entre as crianças de até 3 anos, a taxa de frequência escolar passou de 8,7% para 18,1%, no período.
O estudo constata que a renda da família é determinante para a frequência à escola, que aumenta conforme o nível de rendimento. Na faixa até 3 anos, a taxa era de 18,5% para as famílias que viviam com até meio salário mínimo per capita e de 46,2% para as que viviam com mais de três salários mínimos per capita. No grupo de 4 a 6 anos, a taxa era de 77,1%, na faixa de até meio salário mínimo, e quase universal (98,8%) para as crianças na faixa de rendimento de mais de três salários mínimos per capita.
Já na faixa dos 7 a 14 anos, em que as crianças devem frequentar o ensino fundamental, o acesso à escola está praticamente universalizado para todos os níveis de rendimento. A frequência escolar dos adolescentes de 15 a 17 anos era de 78,4% nas famílias do primeiro quinto de rendimento (as 20% mais pobres) e de 93,7% nas famílias do último quinto (as 20% mais ricas).
Por Redação, Agência Brasil
09/10/2009
Embora a situação tenha melhorado nos últimos dez anos, o nível de pobreza da infância e adolescência no país ainda é elevado, principalmente na região Nordeste, onde 66,7% das crianças, dos adolescentes e jovens ainda viviam em situação de pobreza em 2008.
A constatação é da Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo indica que, para o total do país, a maioria das crianças e adolescentes de até 17 anos (44,7%) vivia, em 2008, em situação de pobreza.
Os técnicos do IBGE verificaram a tendência de aumento da frequência escolar na primeira infância, embora em ritmo ainda lento. O maior crescimento da taxa ocorreu na faixa dos 4 a 6 anos: de 57,9% para 79,8% entre 1998 e 2008. Entre as crianças de até 3 anos, a taxa de frequência escolar passou de 8,7% para 18,1%, no período.
O estudo constata que a renda da família é determinante para a frequência à escola, que aumenta conforme o nível de rendimento. Na faixa até 3 anos, a taxa era de 18,5% para as famílias que viviam com até meio salário mínimo per capita e de 46,2% para as que viviam com mais de três salários mínimos per capita. No grupo de 4 a 6 anos, a taxa era de 77,1%, na faixa de até meio salário mínimo, e quase universal (98,8%) para as crianças na faixa de rendimento de mais de três salários mínimos per capita.
Já na faixa dos 7 a 14 anos, em que as crianças devem frequentar o ensino fundamental, o acesso à escola está praticamente universalizado para todos os níveis de rendimento. A frequência escolar dos adolescentes de 15 a 17 anos era de 78,4% nas famílias do primeiro quinto de rendimento (as 20% mais pobres) e de 93,7% nas famílias do último quinto (as 20% mais ricas).
sábado, 19 de setembro de 2009
*Identifique e harmonize o seu temperamento
Colérico, Sangüíneo, Fleumático, Melancólico são os quatro temperamentos humanos descritos por Hipócrates, médico grego, que viveu entre 460-377aC, relacionados com os quatro elementos: fogo, ar, água e terra, respectivamente.
O temperamento "Colérico", relacionado ao fogo, é atribuído às pessoas ousadas, dinâmicas, líderes natos, prontos a encarar desafios, que em desequilíbrio, tornam-se agressivas, ditadoras e orgulhosas.
O "Sangüíneo", relacionado ao ar, é o temperamento dos curiosos, inquietos, bem humorados, interessados em várias coisas ao mesmo tempo, desprendidos e que, em desequilíbrio, podem ser inseguros, instáveis, volúveis.
"Fleumáticos" (água) são pessoas tranqüilas, lentas, concentradas, sonhadoras, com especial prazer em alimentar-se, e que, em desequilíbrio, tendem à inércia física e mental, à obesidade e problemas digestivos.
Relacionado ao elemento terra, temos o temperamento Melancólico: pessoas introspectivas, concentradas, que analisam a fundo os fatos e podem tornar-se pessimistas e deprimidas, quando em desequilíbrio.
Em cada pessoa predomina um dos quatro temperamentos, resultado de fatores genéticos e influências culturais, variando conforme sua situação e fase da vida. Todo ser humano possui as quatro tendências. O segredo para o equilíbrio do corpo e da alma é não permitir que uma das tendências se sobreponha excessivamente. Seja qual for o seu temperamento dominante, invista em aprender os outros aspectos para você ser mais saudável e harmônico.
O temperamento "Colérico", relacionado ao fogo, é atribuído às pessoas ousadas, dinâmicas, líderes natos, prontos a encarar desafios, que em desequilíbrio, tornam-se agressivas, ditadoras e orgulhosas.
O "Sangüíneo", relacionado ao ar, é o temperamento dos curiosos, inquietos, bem humorados, interessados em várias coisas ao mesmo tempo, desprendidos e que, em desequilíbrio, podem ser inseguros, instáveis, volúveis.
"Fleumáticos" (água) são pessoas tranqüilas, lentas, concentradas, sonhadoras, com especial prazer em alimentar-se, e que, em desequilíbrio, tendem à inércia física e mental, à obesidade e problemas digestivos.
Relacionado ao elemento terra, temos o temperamento Melancólico: pessoas introspectivas, concentradas, que analisam a fundo os fatos e podem tornar-se pessimistas e deprimidas, quando em desequilíbrio.
Em cada pessoa predomina um dos quatro temperamentos, resultado de fatores genéticos e influências culturais, variando conforme sua situação e fase da vida. Todo ser humano possui as quatro tendências. O segredo para o equilíbrio do corpo e da alma é não permitir que uma das tendências se sobreponha excessivamente. Seja qual for o seu temperamento dominante, invista em aprender os outros aspectos para você ser mais saudável e harmônico.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
*De que prosperidade vivem falando?
O capitalismo e o “livre mercado” falham retumbantemente como mecanismo de distribuição de riquezas.
José Roberto Kupfer
17/09/2009 - 19:21
Foi mínima a repercussão de uma entrevista da diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, Josette Sheeran, na quarta-feira, em Londres, à agência de notícias Reuters. Ela falou sobre o aumento da fome no mundo e o simultâneo encolhimento do fundo da ONU que fornece recursos para mitigar o problema. Ao mesmo tempo em que o número de famintos no planeta, com a crise global, passou, pela primeira vez, de 1 bilhão de seres humanos, o fundo emergencial bateu no nível mais baixo em 20 anos – só recebeu até agora US$ 2,6 bilhões dos US$ 6,7 bilhões previstos em seu orçamento para 2009.
Segundo Sheeran, seu programa mal dispõe de um terço da verba necessária para alimentar 10% do total de necessitados. “Para solucionar o problema da fome”, disse ela, “bastaria 0,01% do total aplicado pelos governos no socorro das economias afetadas pela crise financeira global”.
Não é só vergonhoso que, em pleno século XXI, um sexto da população mundial não tenha acesso aos meios para suprir a mais básica das necessidades humanas. É uma terrível prova de que algo vai muito mal com a Humanidade. É também indicação irrefutável de que, tanto quanto outros sistemas econômicos, o capitalismo está longe de assegurar o bem-estar universal, ainda que em bases mínimas – a certeza de que, ao acordar, todos os viventes terão um prato de comida.
O sistema capitalista tem sido o mais eficiente na geração de riquezas. Isso é fato, inclusive em relação aos alimentos. Não é de hoje que a produção de comida, em bases capitalistas, tem sido mais do que suficiente para atender às necessidades alimentares básicas dos seis bilhões de viventes da Terra. Mas o capitalismo e o “livre mercado” falham retumbantemente como mecanismo de distribuição de riquezas. Deixados inteiramente aos seus próprios desígnios, tendem ao monopólio e à concentração de renda. Os mais de 1 bilhão de seres afetados por uma fome sistêmica são a denúncia mais eloqüente dessa falha. Há produção de riquezas, mas não o devido acesso a elas.
Há quem, na defesa de sua ideologia, ainda que em meio a uma das maiores crises da história do capitalismo, encha o peito para louvar os períodos de prosperidade que o sistema vem propiciando. Mas, enquanto um sexto dos seres humanos não tiverem acesso cotidiano nem mesmo a um prato de comida, essa será uma louvação imprestável. Isso que louvam pode ser chamado de qualquer coisa, menos de prosperidade.
Fonte: www.ig.com.br/crônicasdaeconomiabrasileira
José Roberto Kupfer
17/09/2009 - 19:21
Foi mínima a repercussão de uma entrevista da diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, Josette Sheeran, na quarta-feira, em Londres, à agência de notícias Reuters. Ela falou sobre o aumento da fome no mundo e o simultâneo encolhimento do fundo da ONU que fornece recursos para mitigar o problema. Ao mesmo tempo em que o número de famintos no planeta, com a crise global, passou, pela primeira vez, de 1 bilhão de seres humanos, o fundo emergencial bateu no nível mais baixo em 20 anos – só recebeu até agora US$ 2,6 bilhões dos US$ 6,7 bilhões previstos em seu orçamento para 2009.
Segundo Sheeran, seu programa mal dispõe de um terço da verba necessária para alimentar 10% do total de necessitados. “Para solucionar o problema da fome”, disse ela, “bastaria 0,01% do total aplicado pelos governos no socorro das economias afetadas pela crise financeira global”.
Não é só vergonhoso que, em pleno século XXI, um sexto da população mundial não tenha acesso aos meios para suprir a mais básica das necessidades humanas. É uma terrível prova de que algo vai muito mal com a Humanidade. É também indicação irrefutável de que, tanto quanto outros sistemas econômicos, o capitalismo está longe de assegurar o bem-estar universal, ainda que em bases mínimas – a certeza de que, ao acordar, todos os viventes terão um prato de comida.
O sistema capitalista tem sido o mais eficiente na geração de riquezas. Isso é fato, inclusive em relação aos alimentos. Não é de hoje que a produção de comida, em bases capitalistas, tem sido mais do que suficiente para atender às necessidades alimentares básicas dos seis bilhões de viventes da Terra. Mas o capitalismo e o “livre mercado” falham retumbantemente como mecanismo de distribuição de riquezas. Deixados inteiramente aos seus próprios desígnios, tendem ao monopólio e à concentração de renda. Os mais de 1 bilhão de seres afetados por uma fome sistêmica são a denúncia mais eloqüente dessa falha. Há produção de riquezas, mas não o devido acesso a elas.
Há quem, na defesa de sua ideologia, ainda que em meio a uma das maiores crises da história do capitalismo, encha o peito para louvar os períodos de prosperidade que o sistema vem propiciando. Mas, enquanto um sexto dos seres humanos não tiverem acesso cotidiano nem mesmo a um prato de comida, essa será uma louvação imprestável. Isso que louvam pode ser chamado de qualquer coisa, menos de prosperidade.
Fonte: www.ig.com.br/crônicasdaeconomiabrasileira
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
*O Direito na imprensa - Publicidade da justiça e responsabilidade da imprensa
Por Dalmo de Abreu Dallari
A publicidade dos atos judiciais é um dos requisitos básicos do Estado Democrático de Direito e por isso, coerentemente com os princípios fundamentais da República, proclamados no artigo 1º, dispõe a Constituição brasileira, no artigo 93, inciso IX, que "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos", dispondo que a lei poderá estabelecer que, excepcionalmente, determinados atos, não os julgamentos, poderão ter a publicidade limitada ao conhecimento pelas partes e seus advogados, nos casos em que "a preservação do direito à intimidade do interessado não prejudique o interesse público à informação". Nessa ordem de considerações, é um dado positivo a maior atenção que a imprensa brasileira vem dando ultimamente aos casos em curso no Judiciário nos quais estão sendo questionados direitos e responsabilidades que afetam o interesse público.
O dever constitucional de publicidade dos atos judiciais não pode, entretanto, ser confundido com a exposição de personalidades do Judiciário e de suas opiniões sobre qualquer assunto, sem levar em conta que em muitos casos essa publicidade terá influência negativa sobre a crença no equilíbrio e na imparcialidade dos juízes e tribunais e sobre a confiança que eles devem inspirar naqueles que buscam a solução justa de qualquer conflito de direitos.
Quanto a esse ponto é indispensável que tanto os membros do Poder Judiciário quanto a imprensa aceitem a existência de limitações, que são de interesse público, e não pratiquem, nem favoreçam ou explorem, os impulsos exibicionistas, a tentação da publicidade, assim como o desejo de ficar em evidência revelando a intimidade dos julgadores, antecipando a divulgação de suas opiniões sobre os julgamentos de que eles irão participar numa ocasião futura e assim influindo indevidamente sobre os julgamentos.
Repercussão fácil
Um exemplo do excesso publicitário é o comportamento do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que está diariamente na imprensa falando sobre os assuntos mais diversos. Seu comportamento exibicionista foi expressamente referido pelo ministro Joaquim Barbosa, quando, num áspero diálogo que travaram publicamente em 23 de abril deste ano – e que toda a imprensa divulgou – aquele ministro acusou o presidente da Suprema Corte do excesso publicitário, afirmando: "Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro".
Na realidade, já é amplamente conhecida a incontinência verbal do ministro Gilmar Mendes, que agride juízes e tribunais por meio da imprensa, em atitude oposta à que se espera de um verdadeiro juiz. Desse modo, ambos, o ministro e os que dão publicidade às ofensas por ele proferidas, não levam em conta que, longe de ser de interesse público e a expressão de um direito inerente à sociedade democrática, tal publicidade contribui para a criação de uma imagem negativa do Poder Judiciário, cuja autoridade é essencial para a garantia do respeito aos direitos e a solução justa dos conflitos.
Numa valiosa obra denominada La déontologie des magistrats (Paris, Ed. Dalloz, 2004), os eminentes juristas franceses Guy Canivet e Julie Joly-Hurard assinalam que "o dever de reserva interdita aos juízes toda crítica e toda expressão exagerada que possa comprometer a confiança e o respeito que sua função deve inspirar aos que esperam justiça". Tomando por base uma decisão do Conselho Superior da Magistratura, de 1993, observam que se trata, de fato, de uma limitação à liberdade de expressão do cidadão juiz, "mas que tem por objetivo preservar a dignidade, a imparcialidade e a independência da magistratura", que são valores de toda a cidadania.
Assim, pois, a imprensa, livre e responsável, não deve colaborar para os desbordamentos verbais dos magistrados e deve resistir à tentação do "furo" e da repercussão fácil e escandalosa, recusando-se a dar publicidade ao mero exibicionismo. A divulgação das ações judiciais é um serviço público relevante que a imprensa pode e deve prestar, dando publicidade ao que é de interesse público.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
A publicidade dos atos judiciais é um dos requisitos básicos do Estado Democrático de Direito e por isso, coerentemente com os princípios fundamentais da República, proclamados no artigo 1º, dispõe a Constituição brasileira, no artigo 93, inciso IX, que "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos", dispondo que a lei poderá estabelecer que, excepcionalmente, determinados atos, não os julgamentos, poderão ter a publicidade limitada ao conhecimento pelas partes e seus advogados, nos casos em que "a preservação do direito à intimidade do interessado não prejudique o interesse público à informação". Nessa ordem de considerações, é um dado positivo a maior atenção que a imprensa brasileira vem dando ultimamente aos casos em curso no Judiciário nos quais estão sendo questionados direitos e responsabilidades que afetam o interesse público.
O dever constitucional de publicidade dos atos judiciais não pode, entretanto, ser confundido com a exposição de personalidades do Judiciário e de suas opiniões sobre qualquer assunto, sem levar em conta que em muitos casos essa publicidade terá influência negativa sobre a crença no equilíbrio e na imparcialidade dos juízes e tribunais e sobre a confiança que eles devem inspirar naqueles que buscam a solução justa de qualquer conflito de direitos.
Quanto a esse ponto é indispensável que tanto os membros do Poder Judiciário quanto a imprensa aceitem a existência de limitações, que são de interesse público, e não pratiquem, nem favoreçam ou explorem, os impulsos exibicionistas, a tentação da publicidade, assim como o desejo de ficar em evidência revelando a intimidade dos julgadores, antecipando a divulgação de suas opiniões sobre os julgamentos de que eles irão participar numa ocasião futura e assim influindo indevidamente sobre os julgamentos.
Repercussão fácil
Um exemplo do excesso publicitário é o comportamento do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que está diariamente na imprensa falando sobre os assuntos mais diversos. Seu comportamento exibicionista foi expressamente referido pelo ministro Joaquim Barbosa, quando, num áspero diálogo que travaram publicamente em 23 de abril deste ano – e que toda a imprensa divulgou – aquele ministro acusou o presidente da Suprema Corte do excesso publicitário, afirmando: "Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro".
Na realidade, já é amplamente conhecida a incontinência verbal do ministro Gilmar Mendes, que agride juízes e tribunais por meio da imprensa, em atitude oposta à que se espera de um verdadeiro juiz. Desse modo, ambos, o ministro e os que dão publicidade às ofensas por ele proferidas, não levam em conta que, longe de ser de interesse público e a expressão de um direito inerente à sociedade democrática, tal publicidade contribui para a criação de uma imagem negativa do Poder Judiciário, cuja autoridade é essencial para a garantia do respeito aos direitos e a solução justa dos conflitos.
Numa valiosa obra denominada La déontologie des magistrats (Paris, Ed. Dalloz, 2004), os eminentes juristas franceses Guy Canivet e Julie Joly-Hurard assinalam que "o dever de reserva interdita aos juízes toda crítica e toda expressão exagerada que possa comprometer a confiança e o respeito que sua função deve inspirar aos que esperam justiça". Tomando por base uma decisão do Conselho Superior da Magistratura, de 1993, observam que se trata, de fato, de uma limitação à liberdade de expressão do cidadão juiz, "mas que tem por objetivo preservar a dignidade, a imparcialidade e a independência da magistratura", que são valores de toda a cidadania.
Assim, pois, a imprensa, livre e responsável, não deve colaborar para os desbordamentos verbais dos magistrados e deve resistir à tentação do "furo" e da repercussão fácil e escandalosa, recusando-se a dar publicidade ao mero exibicionismo. A divulgação das ações judiciais é um serviço público relevante que a imprensa pode e deve prestar, dando publicidade ao que é de interesse público.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
*Argentina - Governo cospe no prato que comeu
Por Alberto Dines
A idéia de uma América Latina democrática, estável e harmoniosa está se dissipando rapidamente. As instituições e a legislação coadunam-se apenas formalmente com o design do Estado de Direito, o calendário eleitoral segue inalterável, mas as pressões para drásticas alterações constitucionais não conferem com alguns princípios republicanos essenciais – tais como o equilíbrio entre os poderes e a alternância no poder. Embora a retórica continue democrática, ela assume um caráter suspeito diante de ações intempestivas e intimidadoras. Sobretudo contra a imprensa.
A invasão das instalações do jornal Clarín, em Buenos Aires, a pretexto de uma auditagem fiscal, enquadra-se no clima de coação e ameaças que começaram na Venezuela e já ganharam adeptos no Equador e Bolívia. As explicações malandras e as visíveis contradições das autoridades portenhas desnudam as intenções da dupla presidencial, Néstor e Cristina Kirchner: reformar na marra a estrutura do sistema midiático.
É isto que interessa examinar. Em primeiro lugar é indispensável registrar que a estrutura da mídia argentina foi montada pelos governos anteriores, fruto de uma partilha de interesses. Ao peronismo – e suas inúmeras facções – não desagradava o atual desenho, tanto que não o alteraram. Servia perfeitamente aos projetos dos diferentes grupos empresariais que lidavam com a mídia, inclusive aos que tinham vocação e conexões políticas. Agora se descobre que o modelo é obsoleto, imperfeito e tenta-se rapidamente mudá-lo antes da instalação do novo Congresso fatalmente dominado pela oposição e cenário para o confronto sucessório em 2011.
Projeto de poder
É preciso igualmente lembrar que apesar dos altos padrões de qualidade da mídia argentina ela é absolutamente impermeável ao debate sobre os temas que lhe dizem respeito. Jornais não se mostram inclinados a incentivar discussões capazes de colocar qualquer tipo de reserva ou questionar o seu desempenho, procedimentos ou organização. Os jornalistas, por outro lado, não se animam a estabelecer um território autônomo onde, com os respectivos públicos, possam estabelecer alguma alternativa de diálogo.
Este distanciamento e esta arrogância já existiram no Brasil e foram em parte vencidos. Mas quando nosso governo e nossos grupos de mídia, sobretudo eletrônica, se acertam para ultrapassar algumas barreiras formais, o rolo compressor também funciona. Caso do Conselho de Comunicação Social, cuja existência efêmera (um pouco mais de dois anos) é uma clara demonstração das convergências em torno das quais se criou o sistema midiático latino-americano.
A desastrada operação dos Kirchner contra o Clarín lembra a desastrosa Guerras das Malvinas em que os generais tinham uma vaga noção dos objetivos da campanha, jamais pensaram na reação e na capacidade dos adversários. Conhecemos os resultados.
Alguém precisa dizer aos Kirchner que a discussão sobre um novo modelo midiático ou audiovisual, deve ser empreendida com os mesmos cuidados utilizados nas discussões sobre a reforma política: sem ceder a qualquer tentação totalitária. Este é um jogo que não pode ser misturado com um projeto de poder. A América Latina perdeu sucessivas décadas iludida pelo voluntarismo e pelo caudilhismo. A "Década Infame" da Argentina (1930-1940) foi reprisada ao longo da segunda metade do século 20 e início do 21.
Menos estresse
A mídia latino-americana sofre dos mesmos vícios das sociedades que as criaram e às quais servem. Impossível desconectá-las. O sonho de desconcentrar rapidamente o sistema de comunicação social – partilhado por meia dúzia de estadistas latino-americanos – deverá acontecer com naturalidade. Nunca por imposição (ditaduras desgastam-se mais rapidamente do que as democracias).
Quando os legislativos forem confrontados com a necessidade de se qualificar para sobreviver, um novo mapeamento da mídia será inevitável. No caso brasileiro, a convocação de grandes debates, como a próxima Conferência Nacional de Comunicação, pode criar pressões reformadoras legítimas e eficazes sobre as forças políticas.
Por outro lado, as conseqüências da crise financeira internacional – que erroneamente imagina-se superada – vai estimular uma fragmentação saneadora. Os grandes conglomerados serão obrigados a repartir-se, forçados pela própria escala e pela diferenciação das tecnologias. Conteúdo não é uma commodity, é um conjunto de commodities processadas separadamente.
Os Kirchner e seu círculo de consultores, entre os quais estão brilhantes jornalistas, deveriam repensar suas doutrinas, agendas e estratégias. O confronto com a mídia só aumentará o seu desgaste. A co-habitação produz menos estresse. Foi ela, aliás, a responsável pelo esquema que os levou ao poder.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
A idéia de uma América Latina democrática, estável e harmoniosa está se dissipando rapidamente. As instituições e a legislação coadunam-se apenas formalmente com o design do Estado de Direito, o calendário eleitoral segue inalterável, mas as pressões para drásticas alterações constitucionais não conferem com alguns princípios republicanos essenciais – tais como o equilíbrio entre os poderes e a alternância no poder. Embora a retórica continue democrática, ela assume um caráter suspeito diante de ações intempestivas e intimidadoras. Sobretudo contra a imprensa.
A invasão das instalações do jornal Clarín, em Buenos Aires, a pretexto de uma auditagem fiscal, enquadra-se no clima de coação e ameaças que começaram na Venezuela e já ganharam adeptos no Equador e Bolívia. As explicações malandras e as visíveis contradições das autoridades portenhas desnudam as intenções da dupla presidencial, Néstor e Cristina Kirchner: reformar na marra a estrutura do sistema midiático.
É isto que interessa examinar. Em primeiro lugar é indispensável registrar que a estrutura da mídia argentina foi montada pelos governos anteriores, fruto de uma partilha de interesses. Ao peronismo – e suas inúmeras facções – não desagradava o atual desenho, tanto que não o alteraram. Servia perfeitamente aos projetos dos diferentes grupos empresariais que lidavam com a mídia, inclusive aos que tinham vocação e conexões políticas. Agora se descobre que o modelo é obsoleto, imperfeito e tenta-se rapidamente mudá-lo antes da instalação do novo Congresso fatalmente dominado pela oposição e cenário para o confronto sucessório em 2011.
Projeto de poder
É preciso igualmente lembrar que apesar dos altos padrões de qualidade da mídia argentina ela é absolutamente impermeável ao debate sobre os temas que lhe dizem respeito. Jornais não se mostram inclinados a incentivar discussões capazes de colocar qualquer tipo de reserva ou questionar o seu desempenho, procedimentos ou organização. Os jornalistas, por outro lado, não se animam a estabelecer um território autônomo onde, com os respectivos públicos, possam estabelecer alguma alternativa de diálogo.
Este distanciamento e esta arrogância já existiram no Brasil e foram em parte vencidos. Mas quando nosso governo e nossos grupos de mídia, sobretudo eletrônica, se acertam para ultrapassar algumas barreiras formais, o rolo compressor também funciona. Caso do Conselho de Comunicação Social, cuja existência efêmera (um pouco mais de dois anos) é uma clara demonstração das convergências em torno das quais se criou o sistema midiático latino-americano.
A desastrada operação dos Kirchner contra o Clarín lembra a desastrosa Guerras das Malvinas em que os generais tinham uma vaga noção dos objetivos da campanha, jamais pensaram na reação e na capacidade dos adversários. Conhecemos os resultados.
Alguém precisa dizer aos Kirchner que a discussão sobre um novo modelo midiático ou audiovisual, deve ser empreendida com os mesmos cuidados utilizados nas discussões sobre a reforma política: sem ceder a qualquer tentação totalitária. Este é um jogo que não pode ser misturado com um projeto de poder. A América Latina perdeu sucessivas décadas iludida pelo voluntarismo e pelo caudilhismo. A "Década Infame" da Argentina (1930-1940) foi reprisada ao longo da segunda metade do século 20 e início do 21.
Menos estresse
A mídia latino-americana sofre dos mesmos vícios das sociedades que as criaram e às quais servem. Impossível desconectá-las. O sonho de desconcentrar rapidamente o sistema de comunicação social – partilhado por meia dúzia de estadistas latino-americanos – deverá acontecer com naturalidade. Nunca por imposição (ditaduras desgastam-se mais rapidamente do que as democracias).
Quando os legislativos forem confrontados com a necessidade de se qualificar para sobreviver, um novo mapeamento da mídia será inevitável. No caso brasileiro, a convocação de grandes debates, como a próxima Conferência Nacional de Comunicação, pode criar pressões reformadoras legítimas e eficazes sobre as forças políticas.
Por outro lado, as conseqüências da crise financeira internacional – que erroneamente imagina-se superada – vai estimular uma fragmentação saneadora. Os grandes conglomerados serão obrigados a repartir-se, forçados pela própria escala e pela diferenciação das tecnologias. Conteúdo não é uma commodity, é um conjunto de commodities processadas separadamente.
Os Kirchner e seu círculo de consultores, entre os quais estão brilhantes jornalistas, deveriam repensar suas doutrinas, agendas e estratégias. O confronto com a mídia só aumentará o seu desgaste. A co-habitação produz menos estresse. Foi ela, aliás, a responsável pelo esquema que os levou ao poder.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
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