O capitalismo e o “livre mercado” falham retumbantemente como mecanismo de distribuição de riquezas.
José Roberto Kupfer
17/09/2009 - 19:21
Foi mínima a repercussão de uma entrevista da diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, Josette Sheeran, na quarta-feira, em Londres, à agência de notícias Reuters. Ela falou sobre o aumento da fome no mundo e o simultâneo encolhimento do fundo da ONU que fornece recursos para mitigar o problema. Ao mesmo tempo em que o número de famintos no planeta, com a crise global, passou, pela primeira vez, de 1 bilhão de seres humanos, o fundo emergencial bateu no nível mais baixo em 20 anos – só recebeu até agora US$ 2,6 bilhões dos US$ 6,7 bilhões previstos em seu orçamento para 2009.
Segundo Sheeran, seu programa mal dispõe de um terço da verba necessária para alimentar 10% do total de necessitados. “Para solucionar o problema da fome”, disse ela, “bastaria 0,01% do total aplicado pelos governos no socorro das economias afetadas pela crise financeira global”.
Não é só vergonhoso que, em pleno século XXI, um sexto da população mundial não tenha acesso aos meios para suprir a mais básica das necessidades humanas. É uma terrível prova de que algo vai muito mal com a Humanidade. É também indicação irrefutável de que, tanto quanto outros sistemas econômicos, o capitalismo está longe de assegurar o bem-estar universal, ainda que em bases mínimas – a certeza de que, ao acordar, todos os viventes terão um prato de comida.
O sistema capitalista tem sido o mais eficiente na geração de riquezas. Isso é fato, inclusive em relação aos alimentos. Não é de hoje que a produção de comida, em bases capitalistas, tem sido mais do que suficiente para atender às necessidades alimentares básicas dos seis bilhões de viventes da Terra. Mas o capitalismo e o “livre mercado” falham retumbantemente como mecanismo de distribuição de riquezas. Deixados inteiramente aos seus próprios desígnios, tendem ao monopólio e à concentração de renda. Os mais de 1 bilhão de seres afetados por uma fome sistêmica são a denúncia mais eloqüente dessa falha. Há produção de riquezas, mas não o devido acesso a elas.
Há quem, na defesa de sua ideologia, ainda que em meio a uma das maiores crises da história do capitalismo, encha o peito para louvar os períodos de prosperidade que o sistema vem propiciando. Mas, enquanto um sexto dos seres humanos não tiverem acesso cotidiano nem mesmo a um prato de comida, essa será uma louvação imprestável. Isso que louvam pode ser chamado de qualquer coisa, menos de prosperidade.
Fonte: www.ig.com.br/crônicasdaeconomiabrasileira
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