No século passado, conhecemos o cinema, a televisão, as
grandes revistas, os movimentos denominados expressionismo, fauvismo, cubismo,
abstracionismo, dadaísmo, surrealismo, pop art, arte contemporânea, hippie,
feminista, estudantil, pela reforma agrária, sociais e culturais que
influenciaram os costumes - até na dança, trazendo novas perspectivas sobre a
liberdade individual, igualdade de direitos e expressão artística.
Após o trauma da segunda grande guerra o mundo queria
evoluir e evoluiu. Foi criada a ONU, com o seu Conselho de Segurança e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Exceto na combalida África, a humanidade
melhorou depois da dor. O que infelizmente não aconteceu, nos dias atuais, após
a tragédia do Corona vírus (COVID-19). A doença, de alguma maneira, desumanizou
as relações sociais. Desta vez o real perigo, os inimigos "estavam entre
nós". E, também, já aprendemos a lidar, de alguma forma, com a solidão
natural, mas não com a segregação forçada. Nestas circunstâncias, a solidão
própria é demasiado opressiva, angustiante.
Estamos no início de novo século e as coisas desandaram,
como se vivêssemos períodos cíclicos, alternando ethos, como dos climas das
estações. O mundo aprende e desaprende sucessivamente. Senão não teria havido
uma segunda grande guerra. O planeta Terra é só uma roda gigante. O erro
político do século passado foram as ditaduras malditas de diferentes espectros
políticos, não propriamente os regimes. Povos foram enganados. As da esquerda
sobreviveram. No século atual o mundo desaprendeu os bons ensinamentos, ainda
recentes, que tornaram a convivência humana mais saudável, numa sociedade que é
governada autoritariamente - porque é humanamente governada, onde as pessoas
são retaliatórias, agressivas, de não fácil relação interpessoal. Moderadamente
após a virada cultural mundial. Mas, a violência pessoal tem recrudescido com
força animal. O egocentrismo humano a tudo deturpa como a tripudiar da sua
frágil condição humana.
Depois da guinada para o fundamental, na ingênua busca pelo
essencial, volta-se para a valorização do artificial, do material, do imediato,
imperiosamente influenciado pelo ganho individual em detrimento do coletivo. Agora
estamos vivendo numa sociedade onde se pretende que prevaleça o individualismo,
a vontade pessoal do cidadão. Onde se impõe as suas particularidades e
passionalidades segundo descrição grega arcaica do "conceito de
doxa". Numa geração de fracos gerada pelo exitoso marketing comercial banal,
o indivíduo moderno aprendeu a mimar a si mesmo e aos seus filhos, tornando-os
irremediavelmente inseguros, tímidos. Estes, por se haverem impotentes serão
insensíveis a questões históricas e sociais preponderantes, que no século
passado culminaram na melhoria das sociedades. Eles não têm uma concepção macro
realista do mundo. A fuga para as telinhas não aproximou, de forma
emocionalmente empática, o mundo de nós.
Antes ninguém era igual, mas constituía um dos grupos
identitários existentes. Agora persegue-se a autonomia e a autenticidade. O
indivíduo firma a sua conduta pessoal idealizada ou forma o seu grupo por meio
de dogmas de matiz ontopsicológica. Alguns guiados pelas entranhas. Como a
veneração a cabelos brilhosos, barrigas enxutas, glúteos grandes e tatuagens
exuberantes. É o culto ao corpo moderno. Almejam adquirir fãs, admiradores e
seguidores. Intentam criar um céu terreno e serem adorados. Aumentou a galera
da promiscuidade sexual, do HPV e do HIV. Os números não são atualizados para
não "reprimir" os amantes do sexo livre. Os parceiros modernos fingem
que não traem e fingem que não são traídos. A independência consagrada, numa
conduta de rebanho. No melhor estilo dos Meriones shawi e Antechinus. Bom que
não ficam grudados tal qual os da espécie Canis lupus familiaris. A indústria
como sempre e em tudo, ajuda na instigação da luxúria e da lascívia. Agora até por
meio de comprimidos estimulantes, que leva alguns à morte.
E até se mescla conceitos ou costumes ambivalentes.
Resvalando para um politicamente correto tendencioso. Há um constante embate de
egos feridos, a chamada "era do ressentimento". Hoje há amor pelos
animais e ódio às pessoas. Algumas religiões tomam o lugar de Deus. Também
estão sendo formadas tribos de engajamento ideológico que intentam excluírem-se
mutuamente, comprometendo a teoria democrática emoldurada em tese, antítese e
síntese política. "A minha verdade imposta não pode ser debatida, é para
ser respeitada." E quem discorda tem que ser abatido. É a geração do
sentir, não do pensar. Os pensadores tornaram-se obsoletos. Ocorre que da
pluralidade humana, do diálogo ideológico nutre-se a democracia. Os brasileiros
partidários da extrema esquerda e da extrema direita flertam com o fascismo
deletério todo o tempo e nem sequer se dão conta disso. Os consecutivos
governos perdulários e corruptos são um capítulo à parte dessa história.
Depois de tantos conhecimentos, tantas opções e possibilidades as mentes confusas adoeceram. E alguns acabam buscando no perigo, prazer. A necessidade do uso de medicamentos psicotrópicos explodiu. E surgiu a geração drogada. Seja no uso continuado de cocaína, álcool ou remédios para tudo e para todos. Para dormir, relaxar, concentrar, embelezar, transar... Quase não se faz mais almoço familiar tradicional. Agora as refeições funcionam num balcão self-service, numa cozinha à la carte residencial. Dentro do núcleo familiar cada um faz o seu horário, o seu cardápio, os seus costumes, a sua verdade e ingressa numa tribo social, mesmo que disfuncional, mas que represente os seus sentimentos, mesmo que em controvertida definição. Geração vaga, fútil, superficial, perdida em si mesma. Que busca na leveza exterior a saída para o peso insuportável de si próprio.
(“O homem não pode salvar o mundo.” James Lovelock)
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