Por Carlos Castilho
Durante décadas, a unidade básica ou o padrão de referência para o jornalismo, era o jornal, uma instituição física. Depois, já no final do século XIX, a unidade passou a ser a notícia. Na metade do século XX, o jornalista profissional tornou-se o ponto de referência e agora, no início da era digital, o pilar do jornalismo passou a ser o tema.
Noutras palavras: nos primórdios do jornalismo, você comprava o jornal, um bem físico definido pelo seu título, pelo seu dono e seus vínculos sociais e econômicos. Havia uma fidelidade a uma instituição. Quando a notícia tornou-se a referência, os leitores passaram a comprar jornais em função da atualidade. O “furo jornalístico” classificava quem era o melhor jornal.
O advento da televisão e da rádio reduziu em muito a capacidade dos jornais produzirem furos que o colocavam em vantagem sobre os concorrentes. Por isto, a autoria transformou-se no maior diferencial na venda de conteúdos informativos. Foi a época em que surgiram as grandes grifes jornalísticas e os jornais se esforçavam ao máximo para ter o maior número possível de assinaturas prestigiadas.
Mas ai veio e internet provocando uma nova mudança nos parâmetros definidores do patrimônio mais valorizado de uma empresa jornalística. A nova tendência começou a definir-se muito recentemente quando ficou claro que os leitores vão atrás de temas e não mais de autores, notícias ou instituições.
Uma pesquisa recente do jornal The New York Times mostrou que é cada vez maior o número de leitores que acessam diretamente as páginas de blogs especializados, que de alguma forma poderiam ser equiparados às seções ou editorias nas redações convencionais. A diferença é que as editorias sempre foram decididas pela chefia de redação enquanto no caso das publicações online, a definição fica por conta da demanda do público.
Com isto as páginas de abertura, estilo portal, e caracterizadas por uma vitrine do conteúdo global do site, perdem muito de sua relevância pois deixam de ser uma passagem obrigatória ou o chamariz para temas internos. A instituição (página) deixou de ser o destino final pois os índices de visitação passaram a ser definidos mais em função do fim da linha (blogs especializados).
Cada leitor cria uma espécie de cardápio individual de referências informativas em função de suas preferências. Este menu noticioso pode ser extremamente flexível e mutável, ao contrario dos padrões anteriores, caracterizados por fidelidades e hábitos estáveis.
A opção por temas na hora de eleger as instituições onde buscará elementos para seu cardápio informativo evidentemente incorpora padrões anteriores. A instituição jornal ainda é uma das mais valorizadas na escolha de uma fonte informativa, da mesma forma que a atualidade, originalidade e contextualização da notícia continuam sendo fatores que entram na composição das opções informativas do público. O mesmo acontece com as grifes jornalísticas, que seguem sendo uma referência importante na aferição de credibilidades.
Todos estes fatores convergem agora para a seleção de temas, cuja variedade caracteriza o norte-americano Chris Anderson classificou de “nichos informativos”, ou seja, segmentos do público com interesses altamente específicos. Os nichos noticiosos se especializaram na busca, processamento e publicação de temas que jamais entrariam na consideração do editor chefe de um jornal médio. Duzentas pessoas viabilizam um nicho noticioso na Web, mas dificilmente justificariam a criação de uma área especializada num jornal.
A existência de tantos nichos informativos baseados em temas obriga as instituições produtoras de conteúdos a trabalhar com colaboradores , ou, para usar o economês, conteúdos “terceirizados”. É inviável financeiramente diversificar conteúdos com base em produção própria, porque ela sempre sairá mais cara que a produzida pelo aficionado.
É claro que algumas empresas acham que o conteúdo próprio é um ativo valorizado porque ainda acreditam que as pessoas consomem notícias em função apenas da marca (título) ou da assinatura. Mas a realidade está se encarregando de mostrar o equívoco desta concepção. A tendência é os conteúdos serem produzidos cada vez mais pelos nichos cabendo às instituições, no caso jornais, rádios, televisões ou portais online preocupar-se majoritariamente com a formação da rede de usuários e com o suporte técnico.
Fonte: portal ig
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