Por Isabelle Anchieta
A cultura de meritocracia
(...) Os concursos para escolher a próxima top model multiplicam-se; as revistas insistem em ranquear a mais sexy, a mais popular, a mais bem vestida; os programas de TV selecionam "feias" e "mal-vestidas" para transformar sua estética e, supostamente, sua vida. A magreza, a juventude e a moda embalam e alimentam essa cultura social que promove uma competição destrutiva entre as mulheres. Uma competição emburrecedora, na medida em que é alicerçada em um pilar extremamente limitador para a emancipação feminina: a beleza (enquanto única alternativa de ascensão social).
Criou-se no país, assim como é o futebol para os meninos, a idéia de que a única via do feminino é a beleza – ora através de uma carreira como manequim, ora através de um marido afortunado. É por essa razão que a beleza alheia incomoda, ameaça, na medida em que retira da concorrente a sua suposta "única" alternativa de ter seu lugar ao sol. Nesse sentido, Geisy* foi julgada por um falso moralismo que traveste uma outra questão fundamental: a competição feminina.
Ser bela continua a ser a maior obrigação feminina, patrocinada agora pelas campanhas publicitárias, pela moda e pelo consumo. Uma busca pelo corpo impecável, pela bolsa invejável, pelo cabelo que brilha mais que o das outras. Um sistema que cria, via beleza, mecanismos de controle e competição extremamente limitadores da experiência humana da mulher, enquanto ser humano capaz de múltiplas experiências e transcendências. Não que eu faça aqui um discurso anticapitalista, pois foi ele o único sistema que avançou efetivamente na ruptura do feminino com suas antigas coerções (religiosas e patriarcais) através dos valores laicos e pela consolidação do imaginário social igualitário-democrático que preza pela cultura da meritocracia (ou seja, se você for bom, não importa o sexo, a cor e a etnia, você pode ascender socialmente).
Crueldade feminina volta-se contra a mulher
Claro que não chegamos a um nível de igualdade minimamente aceitável. Segundo dados da revista Exame (2009), das 100 maiores empresas no país nenhuma possui mulheres na presidência. Mas é fato também que avançamos, tanto que a mídia cumpriu, no caso de Geisy, um importante papel ao posicionar-se contra a violência sofrida pela estudante – independente do encantamento ou não de Geisy por sua visibilidade midiática. Isso não desqualifica o ato e a violência, isso não a desqualifica, como querem alguns poucos, na medida em que o acontecimento transcende uma discussão particularizada e revela os atrasos na emancipação feminina no Brasil.
Desejo, por fim, fazer com que essa reflexão não seja apenas um "puxão de orelha" para as mulheres, mas um chamado à sua consciência. Essa delicada e difícil auto-reflexão que nos leva a desvendar tanto os nossos monstros e limites, quanto a nossa cumplicidade com o sistema cultural alienante a que nosso momento histórico nos condiciona. Pois não podemos nos furtar de não considerar que somos co-responsáveis por alimentar esse sistema, e que podemos, sempre, não compactuar com ele. Não somos seres determinados, alienados, dada a nossa capacidade humana, sempre renovada, de desviar o olhar, de não se tornar objeto, de nos emanciparmos e recriarmos a nossa cultura. Pois essa crueldade feminina reverte-se, mais cedo ou mais tarde, contra cada uma de nós.
(*estudante da UNIBAN, agredida por trajar um vestido curto)
Fonte: observatóriodaimprensa.com.br
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
* Educação, bananas e Veja
Por Marcos Vinicius Gomes*
"É o estado que está fazendo porcaria, não o mercado. O que não quer dizer que não haja mercadistas nessa história, que ganhariam dinheiro vendendo educação ou bananas. Não tenho nada contra, uma vez que há quem queira comprar bananas e há quem queira comprar educação. Mas o estado não pode subsidiar uma banana ruim. Assim como não pode subsidiar uma educação ruim. Aliás, o estado não tem de subsidiar nem banana boa!"
Reinaldo Azevedo em seu blog, 14/11/2009
Com esta análise mercadológico-educacional, Reinaldo Azevedo comenta em seu blog questões sobre ensino. A bola foi levantada por uma aluna de uma universidade que enviou em e-mail para o jornalista, criticando a mídia por desqualificar estudantes de instituições particulares de ensino superior.
Reinaldo responde à aluna, dizendo que com seu texto 'levaria pau' quando ele era professor de português. Mas ele não é mais professor de português e agora dedica-se a ensinar a classe média e a comentar sobre a realidade brasileira sob uma ótica ultra-direitista e radical, mostrando um certo preconceito de classe. Ele continua sua 'análise educacional', evidentemente com seu jeito, digamos, 'aguerrido'. Critica o governo atual, pautado, segundo ele, por um 'petismo vagabundo' que estaria desvirtuando o ensino superior distribuindo bolsas do ProUni a 'garçons, taxistas e manicures'. Continua seus arroubos dizendo que "está se oferecendo uma universidade que não oferece vida universitária", diz que "em vez de se abrir um novo horizonte a pessoas vindas de ambientes um tanto acanhados intelectualmente (parece-me que aqui ele está se referindo aos leitores incondicionais de Veja) há instituições por aí que estão apenas referendando esse acanhamento. E a esquerda aplaude — ou parte dela ao menos."
Por fim , Tio Rei, como é conhecido entre seu fiel público, fecha esse 'tratado educacional' com o seguinte impropério:
"O dinheiro que sustenta essa farra não estaria sendo aplicado com mais eficiência num ensino técnico de qualidade, por exemplo? Posso apostar que sim. Nem quero aqui ficar fazendo aquela oposição clássica — ou que já virou um clichê — entre quantidade e qualidade. Já nem se trata mais disso. (...)"
Fiquemos por aqui. Parece que após Otávio Frias Filho endossar em seu periódioco Folha a afirmação que no Brasil houve uma ditadura branda (ou ditabranda), Reinaldo volta ao passado nebuloso dos anos de chumbo, espalhando pelos quatro cantos do Brasil uma mentalidade, uma ideologia educacional obtusa e segregacionista que diz o seguinte :"Ensino superior apenas para a elite, para o proletariado cursos técnicos para uma rápida insersão no mercado de trabalho". Afinal, para que a ralé precisa de conhecimento - digo conhecimento no sentido estrito do terno, conhecimento transformador da realidade, embasado em ideais humanistas - se com apenas um curso técnico ou então , com muita boa vontade, um curso superior tecnólogo no Cefet ou na Fatec paulista, os filhos 'do povo' estarão bem qualificados e ganhando bem no mercado de trabalho cada vez mais competitivo? Para que ter um ensino crítico (notório que existem cursos superiores ruins que devem ser fiscalizados por estarem oferecendo um ensino sofrível) se temos formadores de opinião tão qualificados, intelectuais tão notórios como Demétrio Magnoli ("A escravidão no Brasil foi democrática"), como Jô Soares( 'a vaca sagrada da classe média brasileira') ou então jornalistas como Ali Kamel ("Não somos racistas"), Mainardi e o próprio Reinaldo Azevedo que, com sua 'perspicácia' e 'análises lúcidas' formam o time de 'vestais do pensamento nacional' do qual não temos do que nos envergonhar? Eles bastam para que estejamos bem equipados em questões reflexivas e despendam um pouco de tempo e raciocínio.
O utilitarismo educacional de Reinaldo Azevedo é pautado na ideologia educacional reinante na época da ditadura militar. Ali a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 5692/71 foi embasada na crença de que 'os meios , planejados, controlados adequadamente são suficientes para resultados eficientes'.Essa LDB sugeria um ensino taylorista, direcionado com vistas à 'otimização e eficiência' (termos tão recorrentes ultimamente e associados ao meio corporativo). É um ensino reprodutor do establishment , bancário (conceito de Paulo Freire, educador desprezado por Veja), que incentiva a verticalização social, onde apenas os que conseguissem vencer 'pelos méritos próprios' teriam direito ao ensino de qualidade, fosse técnico ou superior. A LDB 5692/71 foi substituida pela LDB nº 9394/96, já na era democrática, regida por ideais democráticos.
Reinaldo Azevedo e parte da direita, raivosa com os avanços sociais alcançados nos últimos anos, descontente com a melhor distribuição de renda, indignada com o crescimento do país liderado pelo 'presidente inculto', parecem estar desesperados ao evocar, mesmo que de forma indireta, a ideologia que formatou a LDB dos tempos militares. Isso mostra o quanto a mentalidade de nossa elite pode criar quando está perdendo o jogo. Para o ilustre jornalista, nem bananas (deixo a critério da imaginação dos leitores para decifrar o termo) devem ser servidas pelo Estado ao cidadão.
Qual o próximo passo? Editoriais clamando a expansão de vagas no Cefet , na Fatec ou da USP-Leste, com seus cursos 'para pobres', para que o proletariado fique satisfeito com empregos técnicos bem remunerados em multinacionais e pare de exigir o direito ao ensino público de qualidade? Ou quem sabe talvez reproduzir em Veja o pensamento educacional de José Goldenberg, ex-ministro da educação que refutava o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) por considerar que ensino para adultos referia-se a 'analfabetos' e que pessoas nessa condição ('analfabetos') já tinham construído um bom lugar na sociedade, sendo de pouca valia investir neles para reverter a situação de penúria educacional. Tradiuzindo , para Goldenberg , o analfabetismo seria eliminado com investimento na educação dos filhos dos analfabetos e com a eliminação natural do analfabetismo no Brasil, a saber, com o deaparecimento cronológico dos analfabetos...Se um Ministro pode ter tal concepção distorcida de ensino, porque então nos espantarmos com o pensamento retrógado de um jornalista a serviço da direita que parece ter perdido o foco?
* Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
"É o estado que está fazendo porcaria, não o mercado. O que não quer dizer que não haja mercadistas nessa história, que ganhariam dinheiro vendendo educação ou bananas. Não tenho nada contra, uma vez que há quem queira comprar bananas e há quem queira comprar educação. Mas o estado não pode subsidiar uma banana ruim. Assim como não pode subsidiar uma educação ruim. Aliás, o estado não tem de subsidiar nem banana boa!"
Reinaldo Azevedo em seu blog, 14/11/2009
Com esta análise mercadológico-educacional, Reinaldo Azevedo comenta em seu blog questões sobre ensino. A bola foi levantada por uma aluna de uma universidade que enviou em e-mail para o jornalista, criticando a mídia por desqualificar estudantes de instituições particulares de ensino superior.
Reinaldo responde à aluna, dizendo que com seu texto 'levaria pau' quando ele era professor de português. Mas ele não é mais professor de português e agora dedica-se a ensinar a classe média e a comentar sobre a realidade brasileira sob uma ótica ultra-direitista e radical, mostrando um certo preconceito de classe. Ele continua sua 'análise educacional', evidentemente com seu jeito, digamos, 'aguerrido'. Critica o governo atual, pautado, segundo ele, por um 'petismo vagabundo' que estaria desvirtuando o ensino superior distribuindo bolsas do ProUni a 'garçons, taxistas e manicures'. Continua seus arroubos dizendo que "está se oferecendo uma universidade que não oferece vida universitária", diz que "em vez de se abrir um novo horizonte a pessoas vindas de ambientes um tanto acanhados intelectualmente (parece-me que aqui ele está se referindo aos leitores incondicionais de Veja) há instituições por aí que estão apenas referendando esse acanhamento. E a esquerda aplaude — ou parte dela ao menos."
Por fim , Tio Rei, como é conhecido entre seu fiel público, fecha esse 'tratado educacional' com o seguinte impropério:
"O dinheiro que sustenta essa farra não estaria sendo aplicado com mais eficiência num ensino técnico de qualidade, por exemplo? Posso apostar que sim. Nem quero aqui ficar fazendo aquela oposição clássica — ou que já virou um clichê — entre quantidade e qualidade. Já nem se trata mais disso. (...)"
Fiquemos por aqui. Parece que após Otávio Frias Filho endossar em seu periódioco Folha a afirmação que no Brasil houve uma ditadura branda (ou ditabranda), Reinaldo volta ao passado nebuloso dos anos de chumbo, espalhando pelos quatro cantos do Brasil uma mentalidade, uma ideologia educacional obtusa e segregacionista que diz o seguinte :"Ensino superior apenas para a elite, para o proletariado cursos técnicos para uma rápida insersão no mercado de trabalho". Afinal, para que a ralé precisa de conhecimento - digo conhecimento no sentido estrito do terno, conhecimento transformador da realidade, embasado em ideais humanistas - se com apenas um curso técnico ou então , com muita boa vontade, um curso superior tecnólogo no Cefet ou na Fatec paulista, os filhos 'do povo' estarão bem qualificados e ganhando bem no mercado de trabalho cada vez mais competitivo? Para que ter um ensino crítico (notório que existem cursos superiores ruins que devem ser fiscalizados por estarem oferecendo um ensino sofrível) se temos formadores de opinião tão qualificados, intelectuais tão notórios como Demétrio Magnoli ("A escravidão no Brasil foi democrática"), como Jô Soares( 'a vaca sagrada da classe média brasileira') ou então jornalistas como Ali Kamel ("Não somos racistas"), Mainardi e o próprio Reinaldo Azevedo que, com sua 'perspicácia' e 'análises lúcidas' formam o time de 'vestais do pensamento nacional' do qual não temos do que nos envergonhar? Eles bastam para que estejamos bem equipados em questões reflexivas e despendam um pouco de tempo e raciocínio.
O utilitarismo educacional de Reinaldo Azevedo é pautado na ideologia educacional reinante na época da ditadura militar. Ali a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 5692/71 foi embasada na crença de que 'os meios , planejados, controlados adequadamente são suficientes para resultados eficientes'.Essa LDB sugeria um ensino taylorista, direcionado com vistas à 'otimização e eficiência' (termos tão recorrentes ultimamente e associados ao meio corporativo). É um ensino reprodutor do establishment , bancário (conceito de Paulo Freire, educador desprezado por Veja), que incentiva a verticalização social, onde apenas os que conseguissem vencer 'pelos méritos próprios' teriam direito ao ensino de qualidade, fosse técnico ou superior. A LDB 5692/71 foi substituida pela LDB nº 9394/96, já na era democrática, regida por ideais democráticos.
Reinaldo Azevedo e parte da direita, raivosa com os avanços sociais alcançados nos últimos anos, descontente com a melhor distribuição de renda, indignada com o crescimento do país liderado pelo 'presidente inculto', parecem estar desesperados ao evocar, mesmo que de forma indireta, a ideologia que formatou a LDB dos tempos militares. Isso mostra o quanto a mentalidade de nossa elite pode criar quando está perdendo o jogo. Para o ilustre jornalista, nem bananas (deixo a critério da imaginação dos leitores para decifrar o termo) devem ser servidas pelo Estado ao cidadão.
Qual o próximo passo? Editoriais clamando a expansão de vagas no Cefet , na Fatec ou da USP-Leste, com seus cursos 'para pobres', para que o proletariado fique satisfeito com empregos técnicos bem remunerados em multinacionais e pare de exigir o direito ao ensino público de qualidade? Ou quem sabe talvez reproduzir em Veja o pensamento educacional de José Goldenberg, ex-ministro da educação que refutava o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) por considerar que ensino para adultos referia-se a 'analfabetos' e que pessoas nessa condição ('analfabetos') já tinham construído um bom lugar na sociedade, sendo de pouca valia investir neles para reverter a situação de penúria educacional. Tradiuzindo , para Goldenberg , o analfabetismo seria eliminado com investimento na educação dos filhos dos analfabetos e com a eliminação natural do analfabetismo no Brasil, a saber, com o deaparecimento cronológico dos analfabetos...Se um Ministro pode ter tal concepção distorcida de ensino, porque então nos espantarmos com o pensamento retrógado de um jornalista a serviço da direita que parece ter perdido o foco?
* Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
* Liberdade de Imprensa? ANJ e jornais aderem à “Declaração de Hamburgo” em assembléia da SIP
11/11/2009
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizou em Buenos Aires, de 6 a 10 de novembro, sua 65ª assembleia geral. Nela a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Folha de São Paulo e O Globo aderiram à "Declaração de Hamburgo", que pleiteia o respeito à propriedade intelectual para textos jornalísticos reproduzidos na internet. Parlamentares, sindicalistas e intelectuais que participaram do Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina criticaram o evento patronal.
Na 65ª assembleia da SIP, repleta de posições contrárias aos governos de esquerda da América Latina e focada em leis que afetam os meios de comunicação, foram combatidas medidas como a recente aprovação da Lei de Mídia argentina, que restringe a atuação dos grupos de comunicação no país e uma legislação sobre comunicação em trâmite no Equador. A mesma SIP tentou influenciar, há aproximadamente dois meses, o processo de construção da I Conferência Nacional de Comunicação brasileira.
A voz do dono
Mereceu destaque, na cobertura jornalística do evento, uma leitura comparativa do “ranking da liberdade de imprensa” da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), de 2002 a 2009. No relatório da ONG, que é apontada por seus críticos como fiel escudeira dos interesses das principais potenciais econômicas européias e dos Estados Unidos, no continente americano quem se destacou nos ataques contra a liberdade de imprensa foram a Venezuela, Honduras, Bolívia, Equador e Argentina. Ainda segundo tal relatório, neste período – relembrando, “de 2002 a 2009” – o Brasil caiu da 54ª para a 71ª posição no ranking internacional.
Eles se preocupam com o Brasil
Diversos veículos divulgaram a “preocupação” da SIP com o Brasil. Segundo matéria veiculada no site Comunique-se, tal preocupação refere-se ao “aumento de casos de censura e de ações judiciais contra meios de comunicação no Brasil”. A matéria informa, também, que “Segundo Sidnei Basile, da Abril, que apresentou o relatório sobre a situação brasileira, além do caso de censura ao Estadão, o fim da exigência de diploma de jornalismo para o exercício da profissão também causa preocupação”.
Direitos autorais de quem?
Já na Folha de São Paulo, editada pela empresa Folha da Manhã, cuja diretora-superintendente, Judith Brito, é também presidente da ANJ, um dos destaques da cobertura à assembléia da SIP foi quanto à "Declaração de Hamburgo", lançada em junho, “após encontro do Conselho Europeu de Publishers e da Associação Mundial de Jornais” e que agora conta com a adesão da Folha, ANJ e O Globo. Curiosamente, tal matéria foi “reproduzida” em diversos veículos e sites de todo o país.
A crítica do alemão Florian Nehm, representante do Conselho Europeu de Publishers (EPC), ao fato de a maioria dos países ainda não ter adaptado suas legislações à “necessidade de proteger a propriedade intelectual na internet” teve grande divulgação. Segundo ele, "a independência econômica é condição prévia para o jornalismo independente". O reclame é em defesa da "necessidade de uma distribuição justa e equitativa dos ganhos gerados pela distribuição de conteúdo de empresas jornalísticas por agregadores de notícias, como o Google News". E não faltou o argumento de que a “conseqüência imediata” da “ausência de ganhos pela distribuição do conteúdo jornalístico na internet” é a demissão de pessoal.
Diante de tal cobertura, e do fato de muitas empresas utilizarem em diversos veículos o material produzido pelos jornalistas, o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, reagiu. “Cabe perguntar se a preocupação empresarial vai se estender para o pagamento de direitos autorais dos jornalistas e se a prática da superexploração do trabalho vai ser superada, inclusive com o fim das pressões por flexiblização da legislação trabalhista e das práticas de precarização”, disse.
Outro lado
A ofensiva da mídia conservadora teve, no dia 9 de novembro, uma contra-ofensiva. O Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina - proposto pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez - discutiu "a situação dos meios na América Latina" e "os monopólios midiáticos e a uniformização da opinião pública".
O encontro paralelo ao da SIP teve a participação de legisladores, sindicalistas e acadêmicos da Argentina, Uruguai, Brasil, Venezuela, Colômbia e Honduras. Na avaliação dos participantes, a SIP ajuda a promover ações autoritárias nos meios de comunicação da região.
Fonte: Fenaj.org.br
Com informações do Comunique-se, FSP e Agência ADITAL.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizou em Buenos Aires, de 6 a 10 de novembro, sua 65ª assembleia geral. Nela a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Folha de São Paulo e O Globo aderiram à "Declaração de Hamburgo", que pleiteia o respeito à propriedade intelectual para textos jornalísticos reproduzidos na internet. Parlamentares, sindicalistas e intelectuais que participaram do Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina criticaram o evento patronal.
Na 65ª assembleia da SIP, repleta de posições contrárias aos governos de esquerda da América Latina e focada em leis que afetam os meios de comunicação, foram combatidas medidas como a recente aprovação da Lei de Mídia argentina, que restringe a atuação dos grupos de comunicação no país e uma legislação sobre comunicação em trâmite no Equador. A mesma SIP tentou influenciar, há aproximadamente dois meses, o processo de construção da I Conferência Nacional de Comunicação brasileira.
A voz do dono
Mereceu destaque, na cobertura jornalística do evento, uma leitura comparativa do “ranking da liberdade de imprensa” da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), de 2002 a 2009. No relatório da ONG, que é apontada por seus críticos como fiel escudeira dos interesses das principais potenciais econômicas européias e dos Estados Unidos, no continente americano quem se destacou nos ataques contra a liberdade de imprensa foram a Venezuela, Honduras, Bolívia, Equador e Argentina. Ainda segundo tal relatório, neste período – relembrando, “de 2002 a 2009” – o Brasil caiu da 54ª para a 71ª posição no ranking internacional.
Eles se preocupam com o Brasil
Diversos veículos divulgaram a “preocupação” da SIP com o Brasil. Segundo matéria veiculada no site Comunique-se, tal preocupação refere-se ao “aumento de casos de censura e de ações judiciais contra meios de comunicação no Brasil”. A matéria informa, também, que “Segundo Sidnei Basile, da Abril, que apresentou o relatório sobre a situação brasileira, além do caso de censura ao Estadão, o fim da exigência de diploma de jornalismo para o exercício da profissão também causa preocupação”.
Direitos autorais de quem?
Já na Folha de São Paulo, editada pela empresa Folha da Manhã, cuja diretora-superintendente, Judith Brito, é também presidente da ANJ, um dos destaques da cobertura à assembléia da SIP foi quanto à "Declaração de Hamburgo", lançada em junho, “após encontro do Conselho Europeu de Publishers e da Associação Mundial de Jornais” e que agora conta com a adesão da Folha, ANJ e O Globo. Curiosamente, tal matéria foi “reproduzida” em diversos veículos e sites de todo o país.
A crítica do alemão Florian Nehm, representante do Conselho Europeu de Publishers (EPC), ao fato de a maioria dos países ainda não ter adaptado suas legislações à “necessidade de proteger a propriedade intelectual na internet” teve grande divulgação. Segundo ele, "a independência econômica é condição prévia para o jornalismo independente". O reclame é em defesa da "necessidade de uma distribuição justa e equitativa dos ganhos gerados pela distribuição de conteúdo de empresas jornalísticas por agregadores de notícias, como o Google News". E não faltou o argumento de que a “conseqüência imediata” da “ausência de ganhos pela distribuição do conteúdo jornalístico na internet” é a demissão de pessoal.
Diante de tal cobertura, e do fato de muitas empresas utilizarem em diversos veículos o material produzido pelos jornalistas, o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, reagiu. “Cabe perguntar se a preocupação empresarial vai se estender para o pagamento de direitos autorais dos jornalistas e se a prática da superexploração do trabalho vai ser superada, inclusive com o fim das pressões por flexiblização da legislação trabalhista e das práticas de precarização”, disse.
Outro lado
A ofensiva da mídia conservadora teve, no dia 9 de novembro, uma contra-ofensiva. O Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina - proposto pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez - discutiu "a situação dos meios na América Latina" e "os monopólios midiáticos e a uniformização da opinião pública".
O encontro paralelo ao da SIP teve a participação de legisladores, sindicalistas e acadêmicos da Argentina, Uruguai, Brasil, Venezuela, Colômbia e Honduras. Na avaliação dos participantes, a SIP ajuda a promover ações autoritárias nos meios de comunicação da região.
Fonte: Fenaj.org.br
Com informações do Comunique-se, FSP e Agência ADITAL.
* A internet cria uma nova unidade básica no jornalismo contemporâneo
Por Carlos Castilho
Durante décadas, a unidade básica ou o padrão de referência para o jornalismo, era o jornal, uma instituição física. Depois, já no final do século XIX, a unidade passou a ser a notícia. Na metade do século XX, o jornalista profissional tornou-se o ponto de referência e agora, no início da era digital, o pilar do jornalismo passou a ser o tema.
Noutras palavras: nos primórdios do jornalismo, você comprava o jornal, um bem físico definido pelo seu título, pelo seu dono e seus vínculos sociais e econômicos. Havia uma fidelidade a uma instituição. Quando a notícia tornou-se a referência, os leitores passaram a comprar jornais em função da atualidade. O “furo jornalístico” classificava quem era o melhor jornal.
O advento da televisão e da rádio reduziu em muito a capacidade dos jornais produzirem furos que o colocavam em vantagem sobre os concorrentes. Por isto, a autoria transformou-se no maior diferencial na venda de conteúdos informativos. Foi a época em que surgiram as grandes grifes jornalísticas e os jornais se esforçavam ao máximo para ter o maior número possível de assinaturas prestigiadas.
Mas ai veio e internet provocando uma nova mudança nos parâmetros definidores do patrimônio mais valorizado de uma empresa jornalística. A nova tendência começou a definir-se muito recentemente quando ficou claro que os leitores vão atrás de temas e não mais de autores, notícias ou instituições.
Uma pesquisa recente do jornal The New York Times mostrou que é cada vez maior o número de leitores que acessam diretamente as páginas de blogs especializados, que de alguma forma poderiam ser equiparados às seções ou editorias nas redações convencionais. A diferença é que as editorias sempre foram decididas pela chefia de redação enquanto no caso das publicações online, a definição fica por conta da demanda do público.
Com isto as páginas de abertura, estilo portal, e caracterizadas por uma vitrine do conteúdo global do site, perdem muito de sua relevância pois deixam de ser uma passagem obrigatória ou o chamariz para temas internos. A instituição (página) deixou de ser o destino final pois os índices de visitação passaram a ser definidos mais em função do fim da linha (blogs especializados).
Cada leitor cria uma espécie de cardápio individual de referências informativas em função de suas preferências. Este menu noticioso pode ser extremamente flexível e mutável, ao contrario dos padrões anteriores, caracterizados por fidelidades e hábitos estáveis.
A opção por temas na hora de eleger as instituições onde buscará elementos para seu cardápio informativo evidentemente incorpora padrões anteriores. A instituição jornal ainda é uma das mais valorizadas na escolha de uma fonte informativa, da mesma forma que a atualidade, originalidade e contextualização da notícia continuam sendo fatores que entram na composição das opções informativas do público. O mesmo acontece com as grifes jornalísticas, que seguem sendo uma referência importante na aferição de credibilidades.
Todos estes fatores convergem agora para a seleção de temas, cuja variedade caracteriza o norte-americano Chris Anderson classificou de “nichos informativos”, ou seja, segmentos do público com interesses altamente específicos. Os nichos noticiosos se especializaram na busca, processamento e publicação de temas que jamais entrariam na consideração do editor chefe de um jornal médio. Duzentas pessoas viabilizam um nicho noticioso na Web, mas dificilmente justificariam a criação de uma área especializada num jornal.
A existência de tantos nichos informativos baseados em temas obriga as instituições produtoras de conteúdos a trabalhar com colaboradores , ou, para usar o economês, conteúdos “terceirizados”. É inviável financeiramente diversificar conteúdos com base em produção própria, porque ela sempre sairá mais cara que a produzida pelo aficionado.
É claro que algumas empresas acham que o conteúdo próprio é um ativo valorizado porque ainda acreditam que as pessoas consomem notícias em função apenas da marca (título) ou da assinatura. Mas a realidade está se encarregando de mostrar o equívoco desta concepção. A tendência é os conteúdos serem produzidos cada vez mais pelos nichos cabendo às instituições, no caso jornais, rádios, televisões ou portais online preocupar-se majoritariamente com a formação da rede de usuários e com o suporte técnico.
Fonte: portal ig
Durante décadas, a unidade básica ou o padrão de referência para o jornalismo, era o jornal, uma instituição física. Depois, já no final do século XIX, a unidade passou a ser a notícia. Na metade do século XX, o jornalista profissional tornou-se o ponto de referência e agora, no início da era digital, o pilar do jornalismo passou a ser o tema.
Noutras palavras: nos primórdios do jornalismo, você comprava o jornal, um bem físico definido pelo seu título, pelo seu dono e seus vínculos sociais e econômicos. Havia uma fidelidade a uma instituição. Quando a notícia tornou-se a referência, os leitores passaram a comprar jornais em função da atualidade. O “furo jornalístico” classificava quem era o melhor jornal.
O advento da televisão e da rádio reduziu em muito a capacidade dos jornais produzirem furos que o colocavam em vantagem sobre os concorrentes. Por isto, a autoria transformou-se no maior diferencial na venda de conteúdos informativos. Foi a época em que surgiram as grandes grifes jornalísticas e os jornais se esforçavam ao máximo para ter o maior número possível de assinaturas prestigiadas.
Mas ai veio e internet provocando uma nova mudança nos parâmetros definidores do patrimônio mais valorizado de uma empresa jornalística. A nova tendência começou a definir-se muito recentemente quando ficou claro que os leitores vão atrás de temas e não mais de autores, notícias ou instituições.
Uma pesquisa recente do jornal The New York Times mostrou que é cada vez maior o número de leitores que acessam diretamente as páginas de blogs especializados, que de alguma forma poderiam ser equiparados às seções ou editorias nas redações convencionais. A diferença é que as editorias sempre foram decididas pela chefia de redação enquanto no caso das publicações online, a definição fica por conta da demanda do público.
Com isto as páginas de abertura, estilo portal, e caracterizadas por uma vitrine do conteúdo global do site, perdem muito de sua relevância pois deixam de ser uma passagem obrigatória ou o chamariz para temas internos. A instituição (página) deixou de ser o destino final pois os índices de visitação passaram a ser definidos mais em função do fim da linha (blogs especializados).
Cada leitor cria uma espécie de cardápio individual de referências informativas em função de suas preferências. Este menu noticioso pode ser extremamente flexível e mutável, ao contrario dos padrões anteriores, caracterizados por fidelidades e hábitos estáveis.
A opção por temas na hora de eleger as instituições onde buscará elementos para seu cardápio informativo evidentemente incorpora padrões anteriores. A instituição jornal ainda é uma das mais valorizadas na escolha de uma fonte informativa, da mesma forma que a atualidade, originalidade e contextualização da notícia continuam sendo fatores que entram na composição das opções informativas do público. O mesmo acontece com as grifes jornalísticas, que seguem sendo uma referência importante na aferição de credibilidades.
Todos estes fatores convergem agora para a seleção de temas, cuja variedade caracteriza o norte-americano Chris Anderson classificou de “nichos informativos”, ou seja, segmentos do público com interesses altamente específicos. Os nichos noticiosos se especializaram na busca, processamento e publicação de temas que jamais entrariam na consideração do editor chefe de um jornal médio. Duzentas pessoas viabilizam um nicho noticioso na Web, mas dificilmente justificariam a criação de uma área especializada num jornal.
A existência de tantos nichos informativos baseados em temas obriga as instituições produtoras de conteúdos a trabalhar com colaboradores , ou, para usar o economês, conteúdos “terceirizados”. É inviável financeiramente diversificar conteúdos com base em produção própria, porque ela sempre sairá mais cara que a produzida pelo aficionado.
É claro que algumas empresas acham que o conteúdo próprio é um ativo valorizado porque ainda acreditam que as pessoas consomem notícias em função apenas da marca (título) ou da assinatura. Mas a realidade está se encarregando de mostrar o equívoco desta concepção. A tendência é os conteúdos serem produzidos cada vez mais pelos nichos cabendo às instituições, no caso jornais, rádios, televisões ou portais online preocupar-se majoritariamente com a formação da rede de usuários e com o suporte técnico.
Fonte: portal ig
sábado, 7 de novembro de 2009
* A Aristocracia do poder paralelo
Por Marcos Vinicius Gomes
É consenso que a criminalidade do Rio de Janeiro associada ao tráfico de drogas cresceu demasiado durante os anos oitenta, inicialmente durante o governo de Leonel Brizola. Atribui-se a ele o desleixo e a conivência que resultaram no aumento do controle dos morros por traficantes que assumiram funções inicialmente atribuídas ao Estado. Mas relacionar o enraizamento da criminalidade carioca diretamente unicamente à administração Brizola no meu entender é precipitado.
O texto de Marques (autor do texto postado abaixo*) associa algumas vezes os traficantes à aristocracia - os traficantes seriam os reis dos morros, ocupando um lugar deixado pelo Estado. Mas nessa ‘aristocracia’ existe um componente que parece estar ligado à idéia de cidade estado, bem anterior aos anos mais recentes. O Rio foi capital do Brasil durante cento e cinqüenta anos, criou-se ali uma sociedade verticalizada com aristocratas, uma pequena burguesia, burocratas, homens livres e escravos.
Com o fim do império e da escravidão já um ano antes, a cidade transformou-se em metrópole na virada do século com obras de infra-estrutura, saneamento. Com o Estado Novo de Vargas ainda prevalecia um ar aristocrático na cidade, não esta aristocracia formal que conhecemos e que teoricamente acabou no Brasil, mas algo que tem a ver com a mentalidade da população da cidade em si. Além disso, é notório ter sido o Rio o celeiro cultural mais latente do país. O escritor que quisesse fazer sucesso teria que estar no Rio, assim como um cantor, um ator que não fosse nativo dali. O Rio era (e ainda é a porta de entrada nacional, cartão postal ao mundo).
O carioca é orgulhoso de sua cidade, o que não poderia deixar de ser, mas como em outras partes do Brasil o orgulho pode se tornar ufanismo utópico, talvez catastrófico, algo que já vem desde tempos de Cabral e da carta de Pero Vaz de Caminha. Deste ufanismo vem certo cinismo que é notado de tempos em tempos em atitudes que deveriam envergonhar qualquer um. Peguemos as passeatas “classe média alta’ pela paz em Copacabana (ou então na Avenida Paulista em São Paulo) com seus integrantes vestindo branco e soltando balões, muitos deles usuários ‘sociais de drogas que mascaram seus atos de alienação com intenções sublimes e altruístas. São neo-aristocratas da sociedade verticalizada, da carteirada, do argumento ‘sabe com quem está falando? ‘, da cultura do ‘faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Um outro referencial ‘aristocrático’ do Rio de Janeiro é o carnaval, muitas das vezes maculado com parcerias obscuras de dirigentes de escolas de samba bicheiros e outros contraventores numa harmonia invejável que aglutinam o sonho, a fantasia, a criminalidade e a omissão num só pacote. Carnaval este que para Roberto da Mata carrega algo de catarse, purificador, libertador para aqueles que estavam debaixo da pirâmide aristocrática opressora, verticalizada e escravista da capital da República em tempos antigos.
Quando da mudança da capital para Brasília em 1960, o Rio tem tentado manter a aura de glamour aristocrático que cingiu a cidade desde a chegada de D.João VI no início do século 19. Mas a capital antiga já não conseguiria manter-se no patamar de antes, os burocratas mudaram-se de endereço (que fariam parte de uma ‘aristocracia moderna’), os recursos rarearam, a cidade empobreceu e sem referencial industrial e de prestação de serviços entrou em certo declínio, dependendo apenas do turismo interno e externo, além de sua grande indústria do entretenimento/turismo conhecida como carnaval carioca.
Há indicadores aristocráticos até na polícia do Rio de Janeiro. O exemplo mais notório é o BOPE – batalhão de elite que carrega a pretensão de formar guerreiros urbanos, armados fortemente para defender a sociedade de criminosos perigosos. É mais um dentre outros tantos grupos de elite policial que, numa democracia, reforçam o fator exclusivista da segurança pública, segregacionista, injusta, onde poucos podem usufruir de seu serviço, visto que é de elite. Os recursos para o batalhão são superiores aos grupos policiais ‘comuns’. E onde há exclusão, há a disseminação da política do compadrio, do desrespeito ao mérito e evidente da corrupção.
Voltando ao principal tema, o da violência e de seus atores, tomemos mais uma vez o traficante. Herói de um chão sem lei (sem Estado) arroga e evoca para si o papel de defensor da causa miserável, prestando serviços aos moradores desassistidos destes locais onde impera a lei do mais forte. Autoproclamado líder, assume poderes de déspota, impondo a censura, o terror, a ‘justiça’ paralela. Como príncipes, vivem como sultões num chão de impiedade, às vezes têm laços com políticos, representantes da justiça brasileira, empresários, artistas. Como disse o texto de Marques, são reis nas comunidades, reverenciados por aqueles esquecidos pelo Estado que por sua vez se esqueceu que sua razão de ser é servir o cidadão, independente do quanto de influencia e poder este possa ter.
Evidentemente que na luta contra o tráfico deve-se combatê-lo com as mais eficientes estratégias na busca da extinção da chaga que o comércio de drogas representa à sociedade. A logística, o uso de inteligência são essenciais para o combate aos ‘barões do pó’. Mas, também há que se pensar de modo estrutural, observando-se os vetores que alavancaram este triste capítulo na história do Rio de Janeiro (e também na de outras capitais e cidades brasileiras) sob um olhar crítico histórico-social. Não é pretensão de beletrismo, perfumaria sociológica, mas a análise profunda dos problemas que necessitam ser estudados e combatidos com mais afinco e competência numa cidade (e num país) que irá sediar um evento mundial importante como as Olimpíadas de 2016, evento que necessita de estruturas de segurança bem organizadas. Para isso o Rio precisa se modernizar, a começar pela mentalidade aristocrática que ainda ronda a cidade maravilhosa e seus habitantes cariocas.
*nota do blog
É consenso que a criminalidade do Rio de Janeiro associada ao tráfico de drogas cresceu demasiado durante os anos oitenta, inicialmente durante o governo de Leonel Brizola. Atribui-se a ele o desleixo e a conivência que resultaram no aumento do controle dos morros por traficantes que assumiram funções inicialmente atribuídas ao Estado. Mas relacionar o enraizamento da criminalidade carioca diretamente unicamente à administração Brizola no meu entender é precipitado.
O texto de Marques (autor do texto postado abaixo*) associa algumas vezes os traficantes à aristocracia - os traficantes seriam os reis dos morros, ocupando um lugar deixado pelo Estado. Mas nessa ‘aristocracia’ existe um componente que parece estar ligado à idéia de cidade estado, bem anterior aos anos mais recentes. O Rio foi capital do Brasil durante cento e cinqüenta anos, criou-se ali uma sociedade verticalizada com aristocratas, uma pequena burguesia, burocratas, homens livres e escravos.
Com o fim do império e da escravidão já um ano antes, a cidade transformou-se em metrópole na virada do século com obras de infra-estrutura, saneamento. Com o Estado Novo de Vargas ainda prevalecia um ar aristocrático na cidade, não esta aristocracia formal que conhecemos e que teoricamente acabou no Brasil, mas algo que tem a ver com a mentalidade da população da cidade em si. Além disso, é notório ter sido o Rio o celeiro cultural mais latente do país. O escritor que quisesse fazer sucesso teria que estar no Rio, assim como um cantor, um ator que não fosse nativo dali. O Rio era (e ainda é a porta de entrada nacional, cartão postal ao mundo).
O carioca é orgulhoso de sua cidade, o que não poderia deixar de ser, mas como em outras partes do Brasil o orgulho pode se tornar ufanismo utópico, talvez catastrófico, algo que já vem desde tempos de Cabral e da carta de Pero Vaz de Caminha. Deste ufanismo vem certo cinismo que é notado de tempos em tempos em atitudes que deveriam envergonhar qualquer um. Peguemos as passeatas “classe média alta’ pela paz em Copacabana (ou então na Avenida Paulista em São Paulo) com seus integrantes vestindo branco e soltando balões, muitos deles usuários ‘sociais de drogas que mascaram seus atos de alienação com intenções sublimes e altruístas. São neo-aristocratas da sociedade verticalizada, da carteirada, do argumento ‘sabe com quem está falando? ‘, da cultura do ‘faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Um outro referencial ‘aristocrático’ do Rio de Janeiro é o carnaval, muitas das vezes maculado com parcerias obscuras de dirigentes de escolas de samba bicheiros e outros contraventores numa harmonia invejável que aglutinam o sonho, a fantasia, a criminalidade e a omissão num só pacote. Carnaval este que para Roberto da Mata carrega algo de catarse, purificador, libertador para aqueles que estavam debaixo da pirâmide aristocrática opressora, verticalizada e escravista da capital da República em tempos antigos.
Quando da mudança da capital para Brasília em 1960, o Rio tem tentado manter a aura de glamour aristocrático que cingiu a cidade desde a chegada de D.João VI no início do século 19. Mas a capital antiga já não conseguiria manter-se no patamar de antes, os burocratas mudaram-se de endereço (que fariam parte de uma ‘aristocracia moderna’), os recursos rarearam, a cidade empobreceu e sem referencial industrial e de prestação de serviços entrou em certo declínio, dependendo apenas do turismo interno e externo, além de sua grande indústria do entretenimento/turismo conhecida como carnaval carioca.
Há indicadores aristocráticos até na polícia do Rio de Janeiro. O exemplo mais notório é o BOPE – batalhão de elite que carrega a pretensão de formar guerreiros urbanos, armados fortemente para defender a sociedade de criminosos perigosos. É mais um dentre outros tantos grupos de elite policial que, numa democracia, reforçam o fator exclusivista da segurança pública, segregacionista, injusta, onde poucos podem usufruir de seu serviço, visto que é de elite. Os recursos para o batalhão são superiores aos grupos policiais ‘comuns’. E onde há exclusão, há a disseminação da política do compadrio, do desrespeito ao mérito e evidente da corrupção.
Voltando ao principal tema, o da violência e de seus atores, tomemos mais uma vez o traficante. Herói de um chão sem lei (sem Estado) arroga e evoca para si o papel de defensor da causa miserável, prestando serviços aos moradores desassistidos destes locais onde impera a lei do mais forte. Autoproclamado líder, assume poderes de déspota, impondo a censura, o terror, a ‘justiça’ paralela. Como príncipes, vivem como sultões num chão de impiedade, às vezes têm laços com políticos, representantes da justiça brasileira, empresários, artistas. Como disse o texto de Marques, são reis nas comunidades, reverenciados por aqueles esquecidos pelo Estado que por sua vez se esqueceu que sua razão de ser é servir o cidadão, independente do quanto de influencia e poder este possa ter.
Evidentemente que na luta contra o tráfico deve-se combatê-lo com as mais eficientes estratégias na busca da extinção da chaga que o comércio de drogas representa à sociedade. A logística, o uso de inteligência são essenciais para o combate aos ‘barões do pó’. Mas, também há que se pensar de modo estrutural, observando-se os vetores que alavancaram este triste capítulo na história do Rio de Janeiro (e também na de outras capitais e cidades brasileiras) sob um olhar crítico histórico-social. Não é pretensão de beletrismo, perfumaria sociológica, mas a análise profunda dos problemas que necessitam ser estudados e combatidos com mais afinco e competência numa cidade (e num país) que irá sediar um evento mundial importante como as Olimpíadas de 2016, evento que necessita de estruturas de segurança bem organizadas. Para isso o Rio precisa se modernizar, a começar pela mentalidade aristocrática que ainda ronda a cidade maravilhosa e seus habitantes cariocas.
*nota do blog
terça-feira, 3 de novembro de 2009
* A minissaia e a micromentalidade brasileira
Por Marcos Vinicius Gomes
terça-feira, 3 de novembro de 2009
‘Aqui é o Oriente Médio?’, foi a pergunta feita pelo metalúrgico Severino Filho, em entrevista ao site G1 em 31/10/2009. O metalúrgico é pai da universitária, hostilizada publicamente na universidade onde cursa Turismo em São Bernardo, município da grande SP, por estar usando um vestido curto. A resposta à pergunta deste pai constrangido pela intransigência da sociedade é o ponto - chave da análise deste impasse. Mas este ponto-chave foi ignorado pela maioria da imprensa e da população em geral.
O caso foi destaque na mídia – internet, televisão (a moça chegou a dar entrevista a um programa sensacionalista da TV Record, o ‘Geraldo Brasil’), jornais. Augusto Nunes, um dos príncipes de Veja escreveu que se fosse na universidade onde estudou ela seria cantada em verso e prosa.Já outro jornalista da Veja, Reinaldo Azevedo saiu em defesa da aluna, dizendo que mesmo que se moça fosse prostituta não mereceria tal ultraje e, evidentemente não perdeu a oportunidade de ser ‘Reinaldo’: culpou a universidade e a expansão do ensino superior pelas ofensas à estudante, chamando instituições não tradicionais de ‘unisupletivos’. Faltou apenas a TFP se pronunciar sobre o caso.
O mais lamentável de toda essa polêmica é que no final, o motivador que deveria ser dissecado nesta lamentável história onde aproveitadores da tragédia alheia despejam seus arsenais de convicções, não foi analisado. A força motriz desta discussão que fez tanto setores reacionários ou então progressistas da sociedade brasileira mostrar apenas a ‘sua verdade’ não foi vista, devido à paixão do confronto de idéias, devido ao provincianismo. O motivador – o machismo - saiu ileso.
Mesmo que houvesse inúmeros discursos de defesa da estudante universitária ao direito de usar as roupas que lhe aprouvesse, embasados na ‘emancipação feminina’ tão decantada ultimamente, mas pouco visualizada na prática social, os resquícios de machismo ainda são notórios. O linchamento sofrido pela estudante em São Paulo reflete algo corriqueiro dentro de um país que cerceia liberdades, faz vistas grossas à degradação sofrida por inúmeras mulheres brasileiras.
É uma vergonha um país que tem mulheres muito mais qualificadas que os homens e que, entretanto paga-se 25% a menos de salário a elas em relação ao sexo oposto. É uma vergonha um país que tem forte exploração sexual feminina seja para o ‘mercado interno’ ou então atrelada ao tráfico internacional de mulheres para a prostituição na Itália, Suíça, Espanha, entre outros destinos da Europa. É uma vergonha uma nação que vitimiza suas mulheres, encobrindo a violência doméstica praticada principalmente por maridos e namorados , que não acordou ainda para a importância de assegurarmos os direitos da mulher à dignidade e à vida.
Alguém poderá dizer que há exagero, que as mulheres são respeitadas e valorizadas pela sociedade brasileira. Vejamos um exemplo muito interessante de conservadorismo machista vindo de uma parte que teoricamente deveria opor-se ao sexismo, defendendo a igualdade de direitos.
É o caso do juiz mineiro Edilson Rumbelsperger Rodrigues que foi citado em reportagem da Folha de S Paulo de outubro de 2009 por recusar-se a aceitar pedidos de medidas contra homens que agrediam suas mulheres ou então as ameaçavam. O magistrado disse em nota que não iria “desigualar homens e mulheres naquilo em que são rigorosamente iguais, ou seja, nas demais espécies de violência que um pratica contra o outro sem qualquer diferença" (para o juiz talvez o número de mulheres agredidas equivalesse ao de homens agredidos por suas companheiras, fato improvável, sabendo- se como está enraizado o machismo no Brasil). Rumbelsperger usa o argumento que algumas disposições da lei têm "caráter vingativo". Ele diz: "Combato, assim, o feminismo exagerado – consubstanciado em parte da Lei Maria da Penha – e que dela se aproveitou para buscar compensar um passivo feminino histórico, com algumas disposições de caráter vingativo". Ele termina sua defesa com a seguinte argumentação, que até que se prove o contrário, tem alto teor patriarcal-machista: “Se eu voltasse atrás num único pensamento expressado em quaisquer de nossas decisões, eu o estaria fazendo por mera covardia, apenas para tentar me livrar da angústia desse embate". Ou em outras palavras, o juiz demonstra que se angustiasse pouco ou não se angustiasse em nada no embate, não seria varonil; se recuasse em suas declarações infelizes contrárias à lei que defende o direito básico das mulheres de serem respeitadas e protegidas, talvez fosse menos forte, quiçá menos homem. Um típico argumento machista.
A constituição garante a liberdade de pensamento, de expressão. Porém, argumentos sexistas vindos de alguém que deveria insurgir-se contra a secular violência masculina que vitimiza a mulher no Brasil, tem um que de desdém. Tem uma simbologia que ainda reina por entre nós em todas as classes, grupos do país – a simbologia do desrespeito á mulher aos seus mais básicos direitos como cidadã. Tanto na opinião do juiz e em suas atitudes enquanto magistrado, quanto no linchamento moral registrado na semana passada contra a estudante que estaria em ‘trajes inapropriados’ para o ambiente acadêmico, repousa a indiferença de uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar e valorizar a mulher. Não a mulher de plástico, tipo exportação que vive no imaginário coletivo nacional, a mulher objeto das passarelas, tampouco a mulher idílica cantada em verso e prosa em nossas músicas. A mulher referida aqui é a mulher que luta diuturnamente contra um sistema injusto, excludente. A mulher que quer ser verdadeiramente valorizada, ter seus direitos assegurados e independência. Lamentavelmente parece que temos que concordar com o cidadão Severino, pai da universitária em sua pergunta retórica: “Aqui é o Oriente Médio?” Sim, parece que estamos no Oriente Médio.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
‘Aqui é o Oriente Médio?’, foi a pergunta feita pelo metalúrgico Severino Filho, em entrevista ao site G1 em 31/10/2009. O metalúrgico é pai da universitária, hostilizada publicamente na universidade onde cursa Turismo em São Bernardo, município da grande SP, por estar usando um vestido curto. A resposta à pergunta deste pai constrangido pela intransigência da sociedade é o ponto - chave da análise deste impasse. Mas este ponto-chave foi ignorado pela maioria da imprensa e da população em geral.
O caso foi destaque na mídia – internet, televisão (a moça chegou a dar entrevista a um programa sensacionalista da TV Record, o ‘Geraldo Brasil’), jornais. Augusto Nunes, um dos príncipes de Veja escreveu que se fosse na universidade onde estudou ela seria cantada em verso e prosa.Já outro jornalista da Veja, Reinaldo Azevedo saiu em defesa da aluna, dizendo que mesmo que se moça fosse prostituta não mereceria tal ultraje e, evidentemente não perdeu a oportunidade de ser ‘Reinaldo’: culpou a universidade e a expansão do ensino superior pelas ofensas à estudante, chamando instituições não tradicionais de ‘unisupletivos’. Faltou apenas a TFP se pronunciar sobre o caso.
O mais lamentável de toda essa polêmica é que no final, o motivador que deveria ser dissecado nesta lamentável história onde aproveitadores da tragédia alheia despejam seus arsenais de convicções, não foi analisado. A força motriz desta discussão que fez tanto setores reacionários ou então progressistas da sociedade brasileira mostrar apenas a ‘sua verdade’ não foi vista, devido à paixão do confronto de idéias, devido ao provincianismo. O motivador – o machismo - saiu ileso.
Mesmo que houvesse inúmeros discursos de defesa da estudante universitária ao direito de usar as roupas que lhe aprouvesse, embasados na ‘emancipação feminina’ tão decantada ultimamente, mas pouco visualizada na prática social, os resquícios de machismo ainda são notórios. O linchamento sofrido pela estudante em São Paulo reflete algo corriqueiro dentro de um país que cerceia liberdades, faz vistas grossas à degradação sofrida por inúmeras mulheres brasileiras.
É uma vergonha um país que tem mulheres muito mais qualificadas que os homens e que, entretanto paga-se 25% a menos de salário a elas em relação ao sexo oposto. É uma vergonha um país que tem forte exploração sexual feminina seja para o ‘mercado interno’ ou então atrelada ao tráfico internacional de mulheres para a prostituição na Itália, Suíça, Espanha, entre outros destinos da Europa. É uma vergonha uma nação que vitimiza suas mulheres, encobrindo a violência doméstica praticada principalmente por maridos e namorados , que não acordou ainda para a importância de assegurarmos os direitos da mulher à dignidade e à vida.
Alguém poderá dizer que há exagero, que as mulheres são respeitadas e valorizadas pela sociedade brasileira. Vejamos um exemplo muito interessante de conservadorismo machista vindo de uma parte que teoricamente deveria opor-se ao sexismo, defendendo a igualdade de direitos.
É o caso do juiz mineiro Edilson Rumbelsperger Rodrigues que foi citado em reportagem da Folha de S Paulo de outubro de 2009 por recusar-se a aceitar pedidos de medidas contra homens que agrediam suas mulheres ou então as ameaçavam. O magistrado disse em nota que não iria “desigualar homens e mulheres naquilo em que são rigorosamente iguais, ou seja, nas demais espécies de violência que um pratica contra o outro sem qualquer diferença" (para o juiz talvez o número de mulheres agredidas equivalesse ao de homens agredidos por suas companheiras, fato improvável, sabendo- se como está enraizado o machismo no Brasil). Rumbelsperger usa o argumento que algumas disposições da lei têm "caráter vingativo". Ele diz: "Combato, assim, o feminismo exagerado – consubstanciado em parte da Lei Maria da Penha – e que dela se aproveitou para buscar compensar um passivo feminino histórico, com algumas disposições de caráter vingativo". Ele termina sua defesa com a seguinte argumentação, que até que se prove o contrário, tem alto teor patriarcal-machista: “Se eu voltasse atrás num único pensamento expressado em quaisquer de nossas decisões, eu o estaria fazendo por mera covardia, apenas para tentar me livrar da angústia desse embate". Ou em outras palavras, o juiz demonstra que se angustiasse pouco ou não se angustiasse em nada no embate, não seria varonil; se recuasse em suas declarações infelizes contrárias à lei que defende o direito básico das mulheres de serem respeitadas e protegidas, talvez fosse menos forte, quiçá menos homem. Um típico argumento machista.
A constituição garante a liberdade de pensamento, de expressão. Porém, argumentos sexistas vindos de alguém que deveria insurgir-se contra a secular violência masculina que vitimiza a mulher no Brasil, tem um que de desdém. Tem uma simbologia que ainda reina por entre nós em todas as classes, grupos do país – a simbologia do desrespeito á mulher aos seus mais básicos direitos como cidadã. Tanto na opinião do juiz e em suas atitudes enquanto magistrado, quanto no linchamento moral registrado na semana passada contra a estudante que estaria em ‘trajes inapropriados’ para o ambiente acadêmico, repousa a indiferença de uma sociedade que ainda não aprendeu a respeitar e valorizar a mulher. Não a mulher de plástico, tipo exportação que vive no imaginário coletivo nacional, a mulher objeto das passarelas, tampouco a mulher idílica cantada em verso e prosa em nossas músicas. A mulher referida aqui é a mulher que luta diuturnamente contra um sistema injusto, excludente. A mulher que quer ser verdadeiramente valorizada, ter seus direitos assegurados e independência. Lamentavelmente parece que temos que concordar com o cidadão Severino, pai da universitária em sua pergunta retórica: “Aqui é o Oriente Médio?” Sim, parece que estamos no Oriente Médio.
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