Não vou mais escrever. Pelo
menos por algum tempo, que espero seja longo. Até o dia em que eu ficar cheio
de novo do instintivo, carnal, comum, dos vícios mundanos, da mediocridade
minha e dos meus semelhantes que me mostra o quanto, às vezes, somos pequenos e
ridículos.
Alguém me disse hoje: você nos
manda e-mails demais, incomoda, escreve muitas bobagens, devia “dar um tempo”
de letras... Na hora eu ri de tão engraçado que eu achei. Não, na verdade a
pessoa que é minha amiga e colega de trabalho – a sinceridade é uma grande
aliada e nos é mais útil que o fingimento ou a mentira – não disse nada disso.
Falou-me em tom de brincadeira, ameno, mas para bom entendedor meia palavra
basta, um pingo é uma letra.
Então logo que dobrei a
primeira esquina me veio esse desejo de não ter o desejo de me expressar para
os outros, dividindo algumas coisas que passei a ver como essenciais para nós
que já estamos do meio para o fim, mais perto do ocaso que da gênese da vida.
Não mais andarei catando tolices, juntando frases vãs, não mais comentarei da
frivolidade das coisas que permeiam a nossa vida ou das virtudes e sentimentos
que deveriam nos motivar, nem dos pensamentos para nos moldar.
Pronto! Lá vou eu com essa
maldita mania adquirida de falar do que as pessoas não querem ouvir: da
frivolidade do que nos move, nos incita e nos domina diariamente. Quando fiquei
cheio de mim passei a encher o saco dos outros. Já nos bastam o pão e o circo,
para quê então as abstrações e reminiscências de filósofos doidos, de
escritores desocupados, de pensadores sedentários, de pregadores alienados do
moderno contexto
social-político-capitalista-vanguardista-exotérico-sincretista, etc. etc.
O bom mesmo é dinheiro. Com ele
a gente pode tudo. Com ele a gente compra garrafas de bebidas pra “encher a
cara” até ficar grogue e adoecer o indolente fígado, compra cocaína pra cheirar
até sangrar o nariz, paga enfermeiros pra fazer aborto nas nossas filhas
adolescentes, paga a um detetive pra espionar a nossa mulher (ou marido)
suspeita (o), paga ao contador para que soneguemos o imposto devido, corrompe
os interessados em nos livrar das contravenções e infrações, compra testemunhas
falsas, paga o carro, combustível, motel e o cachê de garotas e garotos de
"programas" viçosos e vistosos, leva pra casa filmes pornográficos
que as crianças assistem quando damos as costas, faz festas pra regalar os
“amigos” de plantão... Que maravilha o dinheiro, vou me importar só com isso
agora. Com ele o mundo fica mais sedutor.
Para quê os textos que nos
fazem pensar, questionar, incomodar o nosso interior e comprometer o nosso
status? Não vou escrever, eu prometo! Não mais escreverei. Até o vazio voltar a
ser o meu companheiro insuportável.
Alberto Magalhães
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