"Dizer que o mundo é isso aqui é simplificar Deus”
Deus
não deu este mundo para o homem, isto é, não lhe cedeu esta habitação do modo
como está. Mas, os que não têm adequado discernimento da questão ainda dizem
que “não pode Deus existir se Ele é bom e o mundo é ruim e a vida é má.” Uma
coisa não depende da outra para que seja real. Dizer que o mundo é isso aqui é simplificar Deus. A terra era perfeita, o homem
era bom. Deus regia diretamente este nosso mundo e o homem livre – mas limitado
- era a coroa da criação de Deus. Mesmo assim a independência de pensamento do
homem não o fez feliz. Ele queria mais. Ao ponto de decidir trilhar o seu
próprio caminho. Tudo lhe era possível fazer, mas nem tudo lhe era permitido que
fizesse, por não ser lícito, bom, justo, certo. E a partir do desejo de autonomia
plena o homem se fez o seu próprio deus. Assim fomos mudando todas as regras
elementares contidas na Criação original (engendrada por um Ser íntegro), que
passamos a desconstruir. E a real sintonia entre Criador e criatura – formando
uma unidade espiritual - era necessária para que o perfeito equilíbrio reinante
não fosse quebrado. Naquele tempo ainda era tênue a linha espiritual que unia a
criatura ao seu Criador. E o homem, voluntariamente, quebrou essa sintonia e investiu
no comando do seu próprio destino para a sua própria perdição.
Conscientemente
preferiu ser governado por si mesmo. E assim aconteceu. A sua vontade foi
feita. Mas, algo se perdeu nessa ação de rebeldia “libertária”, pois não se
pode ser, ao mesmo tempo, governante e governado, livre e servo, rei e súdito, amigo
e adversário. Não se pode desfrutar de mesma essência depois de se mudar a
fórmula que a concebe. Algo não pode ser, simultaneamente, doença e remédio. No
presente caso, uma natureza gerou vida e paz. A outra gerou morte e conflitos. Surgiu,
assim, a natureza de essência degradante, caótica. A morte, como me fizeram acreditar,
não nasceu com a vida. A vida surgiu para perdurar. A morte nasceu com a quebra
do liame espiritual da criatura finita com o seu Criador eterno, com o Deus
Criador que deixou de nutrir essa existência humana e de iluminar e pacificar
esse nosso mundinho de tão pouca extensão territorial, perante o cosmos. Perdemos
então a referência objetiva, o parâmetro ideal, a influência benéfica. Fomos
deteriorando a nossa vivência com sentimentos ruins, doenças, perversidades,
ambição material e todas as formas de paixões instintivas e deturpadas a fim
de preencher o vazio que nos inundou.
O
afastamento cada vez maior do âmbito espiritual fez o homem se insurgir contra
as leis elementares da natureza inicial na criação humana e passar, de variadas
formas, a confrontar o Criador que um dia foi o seu Deus. Há pessoas que
intimamente se afastaram tanto de Deus - com severa indiferença ou repúdio -
que não há mais condição de retorno, são irreformáveis, descritos nas
Escrituras Sagradas como ímpios. Deste Deus o homem no passado distante ainda guardava
a Sua presença sublime em seu coração, embora já vivendo no limbo espiritual. Mas
Deus que não deixou de se revelar aos seus “filhos” (afastados de sua glória
resplandecente) caídos nas trevas decorrentes de sua obstinação arbitrária. Deus
manteve de forma indelével o Seu nome neste mundo a fim de, por meio de um
projeto rebuscado, resgatar aqueles que ainda O buscam: por meio de ações, das
Escrituras Sagradas e de homens separados (profetas, apóstolos, sacerdotes).
Esse projeto foi definido, isto é, concluído na pessoa de Jesus Cristo – o
redentor mundial, que é um homem especial.
Jesus
veio para refazer a criação humana substituindo o primeiro homem criado, Adão, e
é modelo excepcional universal, isto é do universo criado. Adão foi CRIADO e
vivificado à imagem (imitação, figura) de Deus, com consciência e liberdade. Sua
origem foi na terra. Já Jesus, o Verbo, o Logos de Deus que conserta o erro do
mundo (chamado de pecado) foi miraculosamente GERADO homem: “Proclamarei o
decreto: o Senhor me disse: Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Salmos 2:7). Ele
veio do Pai: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o verbo
era Deus” (João 1:1). Ele é único (unigênito): “E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade” (João 1:14). Nessa formatura do Verbo ao vir à
terra, todos os que morrerem verdadeiramente reconciliados com Cristo também
vão ser gerados, na ressurreição: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo
o mundo” (2 Coríntios 5:19).
O
homem sozinho falhou. Jesus veio para nos ensinar a vontade do Pai, afastado
por nós: “Não busco a minha vontade, mas a do Pai que me enviou” (João 5:30). Estávamos
“no corredor da morte” Jesus, como expiação perfeita, veio resgatar “O que se
havia perdido” (Lucas 19:10) e pagou a pena que era nossa: “E cancelou a
escrita da dívida, que nos era contrária (...) Ele a removeu, pregando-a na
cruz” (Colossenses 2:14). “Mas ele foi transpassado por causa das nossas
transgressões, foi esmagado por causa das nossas iniquidades, o castigo que nos
trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías 53:4,5).
Jesus voltou para o Pai e revelou: “na casa de meu Pai há muitas moradas; se
não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for,
e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que
onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde eu vou, e
conhecei o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e
como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho,e a verdade e a
vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14:1-¨6).
Alberto
Magalhães Carneiro