Justiça não é só um conceito abstrato
que norteia a religião, a moral, a ética e o direito. Justiça é princípio
soberano nas relações interpessoais e sociais, em verdade, universais. Justiça genuína
tem sintonia com a liberdade, a razoabilidade, a impessoalidade. Ela precede à
religião, à moral, à legalidade e ao Estado Democrático de Direito. Estes
segmentos a buscam, no entanto só a apreendem em parte. A questão que dificulta
o entendimento dessa constatação é que a compreensão de justiça é permeada por
uma visão própria desse conceito, que, por vezes, sofre influência de culturas,
épocas, de interesses pessoais ou de convicções religiosas ou filosóficas. Também,
Justiça não é algo imbuído de bondade, necessariamente. Se o policial prende um
malfeitor em ato de flagrante delito não proporciona algo de bom para o
delinquente punido. No entanto lhe fez justiça, já que injustiça seria lhe
prender sem que ele houvesse dado fundamento para a ação coercitiva.
A justiça original vive na efetiva
liberdade, a justiça derivada subsiste na imposição. Justiça original se impõe,
não é imposta pelo homem. Exemplo é a velhice do corpo físico, após os anos que
se passaram. Outro é o desamor de quem foi continuamente maltratado por quem
amava, ou o esgotamento dos recursos naturais pelo desgaste excessivo praticado
pelo homem. A lei humana - bem como a divina, determinada aos homens - nasceu
da necessidade de se fazer um esboço instrutivo normativo, para os
“insensíveis” ou desinteressados, da justiça original, universal. A noção preponderante
de justiça nas sociedades é baseada na posse, seja na área material ou na
moral, a saber: nas infrações contra o patrimônio, integridade física, honra e
imagem. A justiça original transcende esses elementos primários e projeta-se no
espírito e em outras dimensões. Quando foram criados os preceitos na elaboração
do direito consuetudinário ou normativo é porque já havia a existência dos
princípios gerais do direito - conteúdo da justiça - no conhecimento inato humano.
A lídima justiça também não é
realizada pelo homem. O ato de justiça praticado pelo homem é reflexo da
justiça original, essência geradora, universal, impessoal da JUSTIÇA. Já a
justiça perpetrada pelo homem tem a característica pessoal, individualista.
Mesmo que em prol da coletividade. Justiça é ato de amor, não de bondade.
Quando se castiga o filho pelo seu bem não se está sendo exatamente bom, mas
justo. Embora essa justiça nasça do amor. Mas que amor é esse que se faz
justiça contra quem se ama? Será esse o verdadeiro amor? A justiça pelo amor?
Vingança decorre do desamor. E o que é o ódio a não ser a falta de amor? Seria,
então, a vingança ato de injustiça? A injustiça pelo desamor? Pode ser essa a
explicação para a nossa estada aqui nesse planeta, o sentido da vida terrena.
Estaríamos na sala do aprendizado espiritual, laboratório das experiências
metafísicas? O nosso professor seria o criador de toda essa engrenagem
fascinante que nos desafia a evoluir sempre?
Nietzsche, que se mostrava ateu,
disse que “é uma barbárie o amor a só uma pessoa, mesmo a Deus”. Se verdadeiro
que o amor vem pela justiça, não seria justo que amássemos o pai da justiça,
que nos alcançou por meio dela, não nos atingindo com a vingança do desamor? É
notório que a nossa realidade é sedimentada na dualidade - que se afirmam, ou
seja, uma revela a outra: vida, morte; luz, trevas; terra, água; matéria,
espírito; saúde, doença; calor, frio; bem, mal... Sabemos que o corpo físico é
regido pela mente, a família pelo pai, a sala de aula pelo professor, a escola
pelo diretor, a cidade pelo prefeito, o estado pelo governador, o país pelo
presidente, nosso sistema planetário pelo sol... numa cadeia que funciona em
sintonia permanente. Não seria mais racional pensar que nesse sistema
maravilhoso existe um condutor que o rege com maestria? E como a mente de um
homem compreenderia um ser assim somente pelo pensamento? Mediante a observação
e conjecturas? E como se pode provar a inexistência de algo que está fora do
nosso alcance? De algo que não é visível, como pretendeu Nietzsche fazer?
Sempre será mais fácil se provar a
existência do que existe e não é conhecido. O interessante é que a experiência
espiritual é conhecida por muitos e é fervorosamente contestada pelos céticos
que alegam influências meramente psíquicas para a explicarem. A lógica da razão
jamais poderá explicar a fé ou anulá-la. Elas são dualidades que se afirmam e
se completam. Mas isso para os bem intencionados. A humanidade traz consigo a
dualidade de pertencer ao todo e de ser um. Individualidade versus coletividade.
Individualidade com a sua liberdade de escolha e decisão - o chamado livre
arbítrio - e a imensa solidão que a liberdade lhe traz, com as suas dúvidas
atrozes. Nietzsche preferiu isso: a paz da negação de Deus à dúvida “incomodadora”
da Sua existência, decorrente da oscilação da sua anterior e condicionada fé.
Por isso ele se empenhava tanto em se convencer da tolice que era crer num ser
superior e invisível aos nossos olhos. Morreu Nietzsche, em pouca idade,
infeliz e doente.
Fonte
de pesquisa: wikipedia.org
Alberto
Magalhães Carneiro
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