As ciências são decorrentes da
sabedoria humana, para o bem da própria humanidade. Elas esclarecem a realidade da terra e de tudo o que nela habita.
Mas, a ciência não pode definir Deus (ou decidir se Ele existe ou não). Deus
também não pode ser alcançado pela filosofia, lógica ou razão humana por ser
Ele além da nossa realidade. O pensamento humano como critério da verdade
universal é algo inconcebível até mesmo no pensador mais evoluído, que a define
por meio de certezas humanas. O sobrenatural não pode ser verificado por meio
desse instrumento. Também, o pensamento humano não pode estabelecer a Verdade
imutável universal, que lhe é superior e lhe antecede.
Segundo as propostas apresentadas
a Verdade já foi Deus, tornou-se a razão humana - que é resultado da evolução
do intelecto, depois o próprio homem, agora já não há verdade nenhuma ou
é o conjunto de todas as nossas verdades idealizadas. Isto porque a verdade
real nossa que se impõe é a morte. E a ela repudiamos. Por isso se vive tanto a
ficção, a ilusão, o imaginário, a fantasia, o utópico, o virtual, a
fábula, a quimera, o fantástico, o artificial, o aparente, o enganoso, o
alegórico, a metáfora... em detrimento da realidade que nos faz sofrer. Assim
também, em autodefesa, o homem tenta desconfigurar Deus, céu e inferno, a outra
dimensão e se limita a um corpo que deixará de existir para sempre, em sua
concepção. Isso para que não viva na sombra do perigo do porvir, na continuação
da vida em virtude do sentimento de culpa que o invade.
No livre arbítrio do pensamento
estão a sua glória e a sua tragédia, sua sublimação ou seu fracasso. O homem
procura sempre usar a sua liberdade, isto é, a autonomia lhe concedida no
pensamento para insistir na independência do seu criador, numa busca por
alcançar a individualidade plena e a verdade a partir de si. Foge da ideia de
morte e do criador dela. E constrói, desse modo, caminhos, pela razão e pela
lógica, para anular algo que não se concebe pelo pensamento: a fé, gravando-a
como mera superstição adquirida dos primeiros nossos ancestrais (embora
realmente seja a fé, muitas da vezes, contaminada por superstições e
crendices).
Porém, a fé pura, genuína não
está sujeita ao seu julgamento, por que o seu atributo principal - mas
restrito, o pensamento não pode explicá-la, embora todo entendimento e
aceitação de algo seja um ato de fé. Sem esta não existe certezas. A Verdade
antecede a fé, pois não poderia ser constituída por ela. A verdade é a fonte
que a gera. Antes, a fé a reconhece como soberana. As ciências e a filosofia
decifram os enigmas, mas só a fé decifra o enigma central do qual resultam
todos os outros. A fé é o encontro do espírito humano com a Verdade suprema.
A Eternidade é anterior, maior e
mais poderosa que a vida humana, como também a Onisciência que o pensamento
humano e a Verdade que as suas verdades. A Vida é sombra da eternidade, o
pensamento é sombra da Onisciência, assim como as verdades o são da Verdade
universal e transcendente. O homem pode usar essa sua liberdade para retornar à
sua origem, à essência de sua existência, ou negá-la e se aventurar por outros
territórios onde tente ser supremo, nessa sua sede de preenchimento interior
que a falta de Deus lhe proporciona.
Deus está acima da matéria/tempo/espaço
e da nossa capacidade cognitiva/inteligência/lógica. Deus não pode ser definido
pelo curto alcance da compreensão mental, mas tão somente pela fé, fenômeno que
os "intelectuais" desdenham, mas que tem características evidentes
por meio da intuição original, observação natural, das experiências espirituais
e das revelações dos escritos sacros. Elementos esses que consubstanciam
a profissão de fé, tanto quanto as experiências empíricas alicerçam as certezas
dos cientistas e a reflexão embasam as dos filósofos. Os valores da fé são
chamados pelos céticos de superstições, no entanto são só a verdade real,
indelével, se impondo no universo material. Não me refiro à fé que é herdada,
religiosa, mas à que é decorrente de epifania (compreensão da essência das
coisas, inspiração), espécie de insight completo e profundo.
O homem, em sentido geral, perdeu
a sua identidade pessoal - anteriormente construída no seu ambiente familiar,
religioso e local, com ênfase na pessoa e passou a ser condicionado pela cultura
transnacional notadamente da europeia e norte americana, seguindo os ditames do
mercado e da publicidade antitradicionalista, adotando aparência e mentalidade
uniformizadas, abolindo narrativas tradicionais importantes, a exemplo da que
legitimava a autoridade dos pais e mestres e praticamente inviabilizando o
código moral, essencial instrumento social.
Passou a absorver uma identidade social, isto é uma construção de fora
para dentro. Artificial e materialista em busca somente da
"felicidade" que o prazer - nas coisas e no sexo, lhe concede.
Aderindo a tudo que, social e culturalmente, se resume a uma visão
mercantilista e superficial do mundo. Reconhecendo-se ao final como algo sem um
sentido sublime e que apenas existe muito temporariamente no tempo. Fatalidade
da pobre e pretensiosa sabedoria humana.
Alberto Magalhães Carneiro